17 de setembro de 2024

Setor de serviços do Amazonas registra seu pior resultado em novembro do ano passado

O setor de serviços do Amazonas caiu pelo segundo mês seguido, em novembro. O tombo foi de  4,8% diante de outubro, que teve dois úteis a mais – e ainda vivia as agruras da crise da vazante. Foi a maior queda do ano e também o quarto pior resultado do país, em um mês negativo para 15 das 27 unidades federativas. O confronto com o mesmo mês de 2022 indicou recuo de 3,3%, aprofundando a perda anterior (-4,4%). Os acumulados do ano (+1,4%) e dos últimos 12 meses (+2,1%) ficaram mais perto do vermelho. 

O Amazonas ficou abaixo da média nacional, que emplacou variação mensal positiva de 0,4%, após três meses de retrações. O avanço foi puxado pelos segmentos financeiro e jurídico, assim como de alojamento e alimentação. Os serviços brasileiros também declinaram menos ante novembro de 2022 (-0,3%), sendo puxados para baixo por transportes, informação e comunicação. Os aglutinados de 2023 (+2,7%) e dos 12 meses (+3%) também subiram. Os dados são da PMS (Pesquisa Mensal de Serviços), do IBGE.

Apesar da desaceleração detectada pelo IBGE, a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) voltou a corrigir para baixo sua projeção de crescimento para os serviços em 2023, de 2,9% para 2,5%. A expectativa da entidade é que o setor atinja um desempenho ainda mais modesto em 2024, e cresça 2,1%. No segmento de turismo, que encolheu no mês, a reversão da estimativa para 2023 foi menor – 7,4% para 7,3%. Mas o incremento aguardado para 2024 é de apenas 2,8%. 

A perda de dinamismo dos serviços também se apresenta na geração de empregos, conforme os dados do Novo Caged. Em novembro, o setor subiu do terceiro para o segundo lugar do ranking celetista amazonense, com a abertura de 520 vagas. O saldo ficou pouco abaixo de outubro (+529), mas muito aquém de setembro (+1.589), agosto (+2.503) e julho (+1.691). Os números mais relevantes do penúltimo mês de 2023 vieram do grupo que reúne transporte, armazenagem e correio (+301) e das divisões de “outros serviços” (+62) e de alojamento e alimentação (+65) – especialmente atividades de organizações associativas (+38). No acumulado do ano, a alta foi de 6,39% (+13.753).

Estados e atividades

O IPCA ameno de novembro (+0,28%) não foi suficiente para tirar as vendas do vermelho, nem para reduzir o descolamento da receita nominal. A variação mensal (-2,1%) cavou menos fundo e veio mais amena do que a perda anterior (-3,6%). Já a comparação com novembro de 2022 indicou ganho de 3%, alimentando os acumulados do ano (+5,2%) e dos 12 meses (+5,9%). As respectivas variações da média nacional (+0,6%, +4,9%, +6,7% e +7,2%) também foram todas melhores. 

Com o recuo de 4,8% perante outubro, o Amazonas caiu da 18ª para a 24ª posição do ranking, em meio a 15 resultados negativos. A lista foi liderada pelo Mato Grosso do Sul (+4,8%) e Mato Grosso (+3,1%), enquanto os piores resultados ficaram no Maranhão (-7,6%) e na Paraíba (-6,6%). Em relação ao mesmo mês de 2022, o Estado (-3,3%) só ficou na frente de Roraima (-5,5%) e São Paulo (-4,6%), em um rol encabeçado pelo Mato Grosso (18,1%). Emplacou a mesma colocação no acumulado do ano (+1,4%), com o Mato Grosso (+17%) e o Amapá (-3,5%) nos extremos.

O IBGE-AM reforça que, em virtude do tamanho da amostragem, a pesquisa no Amazonas ainda não apresenta os dados desagregados por segmentos. No âmbito nacional, o progresso em relação a outubro se restringiu a três das cinco atividades. Os ganhos vieram de “outros serviços” (+3,6%); serviços profissionais, administrativos e complementares (+1%); e serviços prestados às famílias (+2,2%). Em contraste, os subsetores de transportes (-1%) – que é o mais representativo em termos e volume de serviços em todo o país – e de informação e comunicação (-0,1%) declinaram. Correndo por fora, as atividades turísticas (-2,4%) também encolheram.

Fator crédito

Em texto postado no site da Agência de Notícias IBGE, o gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo, assinalou que, a despeito das taxas negativas dos três meses anteriores, o resultado de novembro colocou o setor bem acima (10,8%) do patamar pré-pandemia, no âmbito nacional. Do lado dos serviços prestados às famílias, o embalo se deveu principalmente ao crescimento da atividade de espetáculos teatrais e musicais.

Segundo o pesquisador, o impulso da divisão de serviços profissionais, administrativos e complementares veio das atividades jurídicas e empresas de cartões de desconto e programas de fidelidade. “Já os ‘outros serviços’ foi impulsionado pelos serviços financeiros auxiliares, especialmente pelo aumento da receita das empresas de uso do dinheiro digital, como as de máquinas eletrônicas de cartões de crédito e débito”, completou.

Segundo Lobo, embora em trajetória de desaceleração, a inflação também prejudicou os serviços. “Os transportes representaram o impacto negativo mais importante. Esse resultado foi influenciado especialmente pelo transporte aéreo, que caiu 16,1% em novembro, a retração mais intensa desde maio de 2022 (-18,6%). Essa queda ocorreu em decorrência dos preços das passagens, que subiram 19,12% naquele mês”, assinalou.

Em comunicado à imprensa, a CNC avaliou que o avanço dos serviços na média nacional foi puxado pelo consumo das famílias – cujas expectativas vêm sendo alimentadas pela gradual redução dos juros e pela resiliência do mercado de trabalho. “Os serviços têm se destacado nos últimos anos como o setor mais dinâmico da economia brasileira, especialmente por ser um setor menos dependente das condições de crédito”, afirma o presidente da CNC, José Roberto Tadros.

Efeito vazante

A consultora empresarial, professora universitária e conselheira do Cofecon, Denise Kassama, ressalvou que há muita informalidade no setor, o que acabaria “mascarando as estatísticas”, especialmente no interior. “É claro que alguns serviços podem ser considerados ‘supérfluos’ dentro de uma realidade de orçamento doméstico limitado. Acredito que isso deve ser superado em 2024, até porque todo mundo diz que começar a frequentar academias, na virada do ano, por exemplo. Vamos esperar que esse quadro se inverta, a partir de fevereiro”, afiançou. 

A economista avalia, entretanto, que o setor não ficou imune aos impactos logísticos da seca recorde de 2023. “Com certeza. Tem toda uma questão que não se restringe ao turismo, mas incluiu também outros serviços que são puxados por esse, como alimentos, entre outros. E também afetou os serviços que atendem o fluxo de vendas de produção agrícola, e demais atividades econômicas”, finalizou. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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