13 de setembro de 2024

Setor de serviços do Amazonas retoma alta em agosto, mas com pouco fôlego

Os serviços do Amazonas retomaram alta em agosto, após dois meses de queda. Beneficiado por dois dias úteis a mais, e pelo retorno de consumidores das férias, o setor cresceu 0,8% perante julho. Foi o quinto desempenho positivo nesse tipo de comparação, na contramão da média nacional. Mas, não foi suficiente para repor as perdas anteriores. O incremento em relação ao mesmo mês de 2022 não passou de 0,3%, contribuindo para uma redução de ritmo nos acumulados do ano (+3,2%) e dos últimos 12 meses (+4,9%). 

Apesar do aquecimento, o Amazonas segue abaixo da média nacional em quase todas as comparações. O setor recuou 0,9% em todo o país, com quedas disseminadas em quatro de seus cinco segmentos, com destaque para transportes e serviços prestados às famílias – especialmente restaurantes e hotéis. Mas, a progressão se manteve na variação anual (+0,9%), sustentando desempenhos favoráveis nos aglutinados de 2023 (+4,1%) e dos últimos 12 meses (+5,3%). Os dados são da PMS (Pesquisa Mensal de Serviços), do IBGE.

Mesmo com o IPCA ainda ameno de agosto (+0,23%) o descolamento da receita nominal em relação ao volume de serviços aumentou, em sentido contrário ao das vendas. A variação mensal do faturamento a preços correntes equivaleu a mais que o dobro do volume efetivamente comercializado, ao crescer 1,9%. A comparação com agosto de 2022 indicou alta de 3,7%, repondo os acumulados do ano (+6,1%) e dos 12 meses (+8,4%). As médias nacionais (-0,2%, +3,3%, +7,8% e +9,8%) foram quase todas mais elevadas. 

Estados e atividades

Com o avanço de 0,8% perante julho, o Amazonas galgou da 19ª para a quinta posição do ranking, em meio a 19 resultados negativos e uma estabilidade. A lista foi liderada por Mato Grosso do Sul (+7,5%) e Goiás (+3,7%), com os piores resultados ficando em Alagoas (-5,6%) e Acre (-4,8%). Em relação ao mesmo mês de 2022, o Estado (+0,3%) passou da 25ª para a 23ª colocação, em uma lista com o Mato Grosso (+26,3%) e o Amapá (-13,7%) nos extremos. No acumulado do ano (3,2%), permaneceu na 21ª colocação, em um rol também liderado pelo Mato Grosso (+18,1%) e encerrado pelo Amapá (-2,8%).

O IBGE-AM reforça que, em virtude do tamanho da amostragem, a pesquisa no Amazonas ainda não apresenta dados desagregados por segmentos. O retrocesso mensal de 0,9% para os serviços de todo o país se disseminou em quatro das cinco atividades. O único dado positivo veio dos serviços profissionais, administrativos e complementares (+1,7%), graças ao impulso das atividades de limpeza, atividades jurídicas e serviços de engenharia.

Em contraste, o segmento de transportes (-2,1%) puxou os números globais para baixo, com resultados negativos disseminados em todos os modais –principalmente o aquaviário (-1,3%). Os serviços prestados às famílias (-3,8%), o único que ainda não retomou o patamar pré-pandemia, foi desfavorecido por restaurantes e hotéis. Informação e comunicação (-0,8%) e “outros serviços” (-1,4%) também declinaram, sendo prejudicados por consultoria em TI e corretoras de títulos e valores imobiliários, respectivamente.

“Fraco desempenho”

O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, considera que, embora “pequeno”, o crescimento dos serviços do Amazonas foi significativo para o Estado, até porque foi um dos poucos desempenhos positivos do país no período. O pesquisador ressalta, contudo, que a sinalização dos números da sondagem não é positiva para o comportamento do setor, no curto prazo.

“Mesmo que os acumulados do ano e dos 12 meses permaneçam positivos, estão bem abaixo dos dados apresentados em agosto do ano passado, indicando que a atividade está tendo vendas bem inferiores. O Amazonas está entre os últimos do ranking nacional, e o setor precisa de números melhores para fechar o ano de forma positiva. Mas, a média móvel trimestral está negativa em 0,6%, reforçando a tendência de fraco desempenho nos últimos meses deste ano”, analisou.

Em matéria postada no site da Agência de Notícias IBGE, o gerente da pesquisa, Rodrigo Lobo, assinala que a queda percebida pelos serviços em todo o país foi a mais severa desde abril. No caso dos restaurantes e hotéis, ressalta que julho é mês de férias, quando as famílias aumentam o consumo por serviços de alimentação e hospedagem, e isso pode ter elevado a base de comparação.

Já os transportes teriam sido influenciados pelas atividades de gestão de portos e terminais e de transporte rodoviário de cargas –que desde a pandemia vinha sendo favorecido pelo comércio eletrônico e a produção agrícola. “A atividade vem apresentando perda de fôlego há algum tempo, registrando um impacto importante na pesquisa. O transporte de cargas, por sua vez, atingiu o ápice em julho de 2023, ou seja, está com uma base de comparação muito elevada”, avaliou.

“Acomodação e saturação”

Em entrevistas recentes à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente em exercício da Fecomércio-AM, Aderson Frota, avaliou que o setor de serviços está entrando em um “período de acomodação” e “saturação”. “Vários fatores podem ser arregimentados para uma explicação. Um deles é que o consumidor está cada vez mais empobrecido, sem acesso a crédito e negativado. O governo está tentando, através de medidas que envolvem a adesão dos bancos, resolver essas pendências”, ponderou.

Na análise da ex-vice-presidente do Corecon-AM, e professora universitária, Michele Lins Aracaty e Silva, a recuperação dos serviços favorece o ambiente macroeconômico, mas o cenário ainda inspira preocupação, dado o peso econômico da atividade. Ela lamenta pela dificuldade que restaurantes e hotéis enfrentam para recuperar as perdas impostas pela pandemia, apesar das campanhas e promoções do segmento. E avalia que as contratações não mostram sinais de avanço.

“Com a proximidade das comemorações de final de ano, acreditamos em uma recuperação do setor, dada a elevação do consumo com a renda extra do 13º salário e férias, que chegam em um ambiente de inflação e juros a patamares relativamente favoráveis. Um fator que deve ser observado é a atual conjuntura logística ocasionada pela vazante, que pode impactar na atividade regional, pois dificulta o transporte de cargas e passageiros”, concluiu.

Boxe ou coordenada: Setor de serviços continua contratando

A perda de vigor dos serviços ainda não se refletiu nos empregos. De acordo com os dados mais recentes do ‘Novo Caged’, o setor se segurou na liderança do ranking de atividades econômicas do Amazonas e acelerou as contratações, em agosto. O mês foi marcado por um aumento de 1,11% nos estoques e criação de 2.503 postos de trabalho celetistas, em dado mais forte do que o de julho (+0,81% e +1.821). Os números mais relevantes vieram das atividades de seleção, agenciamento e locação de mão de obra (+866), organizações associativas (+390), educação (+227) e alimentação (+225). No acumulado do ano, foram geradas 12.709 vagas (+5,90%), no melhor número do Estado.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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