A piscicultura do Amazonas voltou a crescer no ano passado, apesar dos desajustes econômicos gerados pela pandemia e pela guerra na Ucrânia. O valor de produção foi de R$ 111,15 milhões, 5,22% a mais do que em 2021 (R$ 105,63 milhões), sendo esse o melhor resultado dos últimos sete anos. Em termos de quantidade de peixes criados em cativeiro, a maior alta veio novamente do pirarucu (+64,48% e 319,66 toneladas) – embora o tambaqui tenha respondido por 68,24% do faturamento da aquicultura amazonense (R$ 72,73 milhões). Os números são da PPM (Pesquisa da Pecuária Municipal) 2022, divulgada pelo IBGE.
O levantamento mostra ainda que o Amazonas apresentou mais uma vez o maior valor de produção de matrinxã em todo o país, com R$ 25,07 milhões faturados no ano passado. O mesmo não ocorreu, no entanto, com os demais pescados, a despeito do potencial do Estado. O valor de produção de pirarucu subiu do terceiro para o quarto lugar do ranking nacional, com R$ 3,36 milhões. Já a produção de tambaqui (R$ 75,84 milhões) permaneceu na quinta posição do ranking brasileiro – em uma lista novamente liderada por Rondônia (R$ 476,94 milhões).
A atividade cresceu 10,43% em todo o país, somando 617,30 mil toneladas, em novo recorde. O valor de produção nacional (R$ 5,7 bilhões) acelerou 16,4%. O Paraná respondeu por 27,1% da produção nacional e Rondônia apareceu na segunda posição, tendo se destacado na criação de peixes redondos. Aracati (CE) liderou o ranking de municípios, com a produção de 12,7 mil toneladas ou 11,2% da oferta. Conforme o IBGE, a aquicultura brasileira segue “em franca ascensão”, principalmente no caso da tilápia, que representou 66,1% do total. A criação de camarão (+5,9% e 113,3 mil toneladas) também se destacou.
O Amazonas registrou mais de 8,64 mil toneladas de pescados no ano passado. Mas, apesar do acréscimo de 5,22% nos valores da produção aquícola de peixes no Amazonas (R$ 111,15 milhões), o Estado seguiu na 20ª posição do ranking entre as 27 unidades federativas do país. O ranking nacional foi liderado pelo Paraná (R$ 1,30 bilhão), Ceará (R$ 1,26 bilhão) e Rio Grande do Norte (R$ 817,13 milhões). No outro extremo, Amapá (R$ 12,43 milhões), Distrito Federal (R$ 17,76 milhões) e Rio de Janeiro (R$ 31,65 milhões) amargaram as cifras mais baixas.
Tambaqui e matrinxã
Assim como ocorrido nos anos recentes, a produção de peixes no Amazonas veio principalmente de Rio Preto da Eva (+13,96% e R$ 26,44 milhões) – que aparece na 70ª posição do ranking nacional. O ranking dos 10 maiores produtores municipais amazonenses se completa com Manaus (R$ 18,63 milhões), Iranduba (R$ 13,94 milhões), Presidente Figueiredo (R$ 7,89 milhões), Apuí (R$ 7,42 milhões), Coari (R$ 4,85 milhões), Benjamin Constant (R$ 3,14 milhões), Careiro (R$ 2,60 milhões), Humaitá (R$ 2,47milhões) e Envira (R$ 1,96 milhões).
No ano passado, a produção de tambaqui e de matrinxã carreou a aquicultura do Amazonas. O primeiro superou 6,21 mil toneladas, totalizando R$ 72,73 milhões, o que equivale a 68,24% da atividade no Estado. O segundo, por sua vez, encostou nas 2,05 mil toneladas e somou R$ 25,07 milhões, representando uma fatia de 22,56% dos valores globais de produção do Amazonas.
Os cinco maiores municípios do Estado, em valor de produção de matrinxã, foram Rio preto da Eva (R$ 10,56 milhões), Manaus (R$ 6,38 milhões), Presidente Figueiredo (R$ 1,32 milhão), Benjamin Constant (R$ 1,04 milhão) e Iranduba (R$ 910 mil). A oferta majoritária de tambaqui veio de Rio Preto da Eva (R$ 15 milhões), Manaus (R$ 12,10 milhões), Iranduba (R$ 11 milhões), Apuí (R$ 7,42 milhões) e Coari (R$ 3,84 milhões). O ranking regional de pirarucu foi liderado por Manacapuru (R$ 1,02 milhão), Coari (R$ 550 mil), Codajás (R$ 420 mil), Manicoré (R$ 400 mil) e Maués (R$ 242 mil) obtiveram os maiores valores de produção do Estado, em 2022.
“Custos elevados”
O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, enfatizou à reportagem do Jornal do Commercio que os dados da Pesquisa da Pecuária Municipal demonstram que a criação de pescados em cativeiro é uma vocação natural do Amazonas, ainda que esta ainda se encontre aquém do seu potencial no Estado, e com dificuldades de atender a demanda interna e, principalmente, o mercado externo.
“A aquicultura local ainda tem muito espaço para crescimento, mas os produtores ainda enfrentam custos elevados para produzir. Os dados de 2022 indicam uma melhora sensível no quadro, o que pode indicar uma recuperação do setor. Algumas espécies locais como a matrinchã e o tambaqui agregam valores importantes para a economia e principalmente para quem cria e vende sua produção”, asseverou.
Crédito e infraestrutura
No entendimento do presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço, os números do levantamento anual do IBGE confirmam mais uma vez o “enorme potencial” que o Amazonas tem na piscicultura, sendo esta uma atividade com “trajetória constante” de crescimento. Entre as vantagens do Amazonas estaria a abundância de água e as tecnologias de manejo das principais espécies. O dirigente concorda que a atividade ainda apresenta um potencial significativo de evolução, embora o Estado ainda precise avançar em alguns quesitos para que o mesmo seja exercido em sua plenitude.
“Os resultados são decorrentes de um conjunto de fatores, dentre eles, o desenvolvimento e extensão do conhecimento do manejo da criação das principais espécies e a oportunidade de investimento visando o fornecimento ao mercado consumidor de Manaus e interior. Os fatores que contribuem para a aquicultura ainda não conseguir seu potencial pleno são, por exemplo, as dificuldades na obtenção de licenciamento ambiental, regularização fundiária e acesso ao crédito rural. Há também deficiências de infraestrutura para o escoamento da produção. Mas, esperamos a continuidade desse crescimento na atividade, neste ano”, finalizou.