18 de dezembro de 2024

Um livro para contar as histórias da vida de Cecília Meireles

Cecília Meireles foi a primeira voz feminina de grande expressão na literatura brasileira, com mais de 50 obras publicadas. Nascida em 1901, seu primeiro livro ‘Espectros’, foi publicado quando ela tinha apenas 18 anos, em 1919. É essa genial escritora, mais conhecida pelas suas poesias, que você poderá conhecer melhor através do livro ‘Uma homenagem a Cecília Meireles’, da jornalista, crítica de teatro, e também escritora, a carioca Ida Vicenzia, que será lançado no dia 4, sábado, a partir das 10h, na Livraria Nacional (rua 24 de Maio, 415 – Centro). O livro foi editado pela editora paulista Atma, do Grupo Valer.

“Sou jornalista e o tema das minhas teses de mestrado e doutorado foi Cecília Meireles. Comecei a escrever livros no final da década de 1970 depois que o ator e diretor de teatro Antônio Abujamra me pediu para escrever sua biografia”, contou.    

“Me encantei com Cecília desde quando li ‘Romanceiro da Inconfidência’. Eu estranhava porque ninguém falava dela. Dizia para meus amigos que a Clarice Lispector era mais carioca do que Cecília, sendo que a Clarice era ucraniana e a Cecília nascera no Rio Comprido, no Rio”, falou.

Publicado em 1953, o icônico livro de poesias ‘Romanceiro da Inconfidência’ foi inspirado depois que Cecília, a trabalho como jornalista, visitou Ouro Preto, em Minas Gerais. A poeta compôs o poema de temática social, retratando a luta pela liberdade no Brasil do século 18 durante o episódio da Inconfidência Mineira.

“Em 2005 comecei a pesquisar a vida de Cecília para poder escrever o livro, mas tiveram alguns problemas e eu não pude lançá-lo, o que está sendo possível agora”, comemorou.

Poesia inclassificável 

Nas mais de 350 páginas de ‘Uma homenagem a Cecília Meireles’, Ida Vicenzia celebra as mil e uma faces da autora, dona de uma poesia intensa e visceral, sem dúvida, uma das maiores escritoras da literatura brasileira.

“Até hoje ninguém conseguiu classificar a poesia de Cecília Meireles. Mário de Andrade dizia que ela era pré-modernista, livre de escolas, pois nunca se ateve a nenhuma delas. Escrevia tanto poesias quanto crônicas e contos. Longe de ter rótulos, era uma viajante maravilhosa, que tinha um olhar penetrante sobre as cidades que visitava. Desafiava as pessoas a acertar a vida dela, que como ela dizia, era um baralho desacertado”, disse.

“Vivenciou duas guerras mundiais, a Primeira e a Segunda; e dois golpes militares, no Brasil, de 1930 e 1964. Como professora, foi proibida de ensinar em algumas escolas; como jornalista, sua coluna num jornal foi censurada, porém, era uma pessoa que nunca desistia de lutar. Mesmo muito doente, pouco antes de morrer, continuava a escrever”, completou Ida.

Muito antes de se tornar a grande referência feminina na literatura produzida no Brasil, Cecília foi uma criança acima da média, bastante estudiosa. Aos nove anos, a menina foi agraciada com uma medalha de ouro ao terminar, com louvor, os estudos, e recebeu a honraria de ninguém menos que Olavo Bilac, considerado o príncipe dos poetas brasileiros, então inspetor da escola onde Cecília estudava.

Aos 18 anos ela estreou na literatura e nos 45 anos seguintes não mais parou de publicar livros, até hoje bem vendidos, com destaque para ‘Romanceiro da inconfidência’, ‘Ou isto ou aquilo’, ‘Janela mágica’, ‘As palavras voam’, ‘O instante existe’, entre outros.

De qualquer idade

Quando Ida começou a pesquisar a vida de Cecília, fazia mais de 40 anos que a poeta havia morrido, então a jornalista percorreu vários lugares por onde ela havia passado e foi conseguindo rastrear documentos, informações e histórias.

Ida, “meu livro é indicado para o brasileiro, de qualquer idade. É aberto para quem gosta de cultura”

“Um dia, pesquisando na Casa de Ruy Barbosa, a secretária me entregou uma pasta com vários papéis da Cecília Meireles, inclusive uma peça de teatro, que ela considerava perdida. A pasta foi deixada lá por uma amiga dela, para ser arquivada. Também conversei com diversas pessoas que a haviam conhecido e convivido com ela, bem como com a atriz Maria Fernanda, que faleceu ano passado. Ela era filha de Cecília e me ajudou bastante”, revelou.

Como professora, nos anos de 1930, Cecília Meireles lutou para que o estudante fosse um cidadão, participante e ciente de seus direitos e deveres na batalha pela cidadania, o que não foi muito bem visto pela ditadura do governo de Getúlio Vargas, imposta em 1930. Veio daí o seu banimento por algumas escolas onde foi lecionar. Se ela vivesse hoje, encontraria situação parecida.  

‘Uma homenagem a Cecília Meireles’ está dividido em duas partes, distribuídas em onze capítulos.

“Diria que meu livro é indicado para o brasileiro, de qualquer idade. É aberto para quem gosta de cultura, pois mostra as várias épocas em que ela viveu, tempos de muitas agitações políticas e que a atingiram pessoalmente. Quem ler o livro vai conhecer um pouco da história dessa poeta, cronista e contista, que foi única na sua forma de escrever”, concluiu.

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio

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