O crescimento acima do esperado na Páscoa e no Dia das Mães encorparam o otimismo dos comerciantes de Manaus, em maio, a despeito das altas da inflação e dos juros. A capital seguiu a trajetória da média nacional, que também foi embalada por altas consecutivas nas vendas do varejo. Além das datas comemorativas, o segundo mês de liberação antecipada de 13º salário para aposentados e os saques do FGTS melhoraram a percepção do setor e aumentaram as intenções de investir e contratar. Mas, ainda há insatisfação em relação aos estoques e ceticismo quanto ao futuro.
É o que revelam os dados locais do Icec (Índice de Confiança do Empresário do Comércio), pesquisa da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) com 6.000 empresas no país. O indicador registrou 128,4 pontos em Manaus, sendo que valores acima de 100 indicam satisfação. Foi uma marca 2,3% melhor do que as de abril (125,6 pontos) e 29,3% superior à de 12 meses atrás (99,4 pontos). Já a média brasileira atingiu o maior nível desde dezembro de 2021 (120,2 pontos), escalando 5,7% na passagem mensal, e alta ainda maior, em comparação a maio de 2021, de 31,6%.
Todas as cinco regiões brasileiras registraram elevação mensal no Icec, com destaque para o Nordeste (+6,9% e 116,5 pontos), que atingiu a maior elevação proporcional, e para o Norte (+3,9% e 126,8 pontos), que ainda detém a maior pontuação. Na sequência estão o Sudeste (+6,1% e 119,5 pontos), Centro Oeste (+5,1% e 124,6 pontos) e Sul (+4,2% e 120,7 pontos). A mesma amplitude de otimismo aconteceu nas variações anuais, com Sudeste (+40,2%) e Norte (+21,6%) protagonizando os pontos mais alto e baixo da lista.
A melhora da confiança dos comerciantes da capital amazonense foi quase absoluta, na comparação com abril. O progresso foi maior nas avaliações sobre o investimento nas lojas (+6,9% e 120,4 pontos) e na contratação de funcionários (+2,6% e 130,6 pontos). As avaliações sobre as condições atuais das empresas (+4% e 118,8 pontos) e do comércio (+3,9% e 116,1 pontos) também foram destaque. O mesmo pode ser dito do entendimento comercial sobre o momento atual da economia (+2,1% e 91,4 pontos), mas não dos estoques (-1,6% e 93,4 pontos), sendo que ambos ainda sigam no nível de insatisfação.
Contratações e investimentos
A maioria dos varejistas locais (41,1%) considera que a situação atual da economia brasileira “melhorou um pouco”, enquanto 25,5% dizem que “piorou um pouco” e outros 24,9% assinalam que “piorou muito”. Apenas 8,5% afirmam que “melhorou muito”. A confiança é maior entre as empresas com até 50 empregados (92,2 pontos) e as que vendem bens duráveis (100 pontos). A avaliação majoritária sobre o setor e a empresa também é de melhora relativa (50% e 51,8%, respectivamente).
Na média, embora tenham crescido menos no mês, as pontuações nas expectativas ainda são mais favoráveis do que a percepção do momento atual, seguindo acima dos 130 pontos. Ao menos 54,6% dizem que a economia brasileira vai “melhorar um pouco”, ao passo que 35,3% arriscam que vai “melhorar muito”. As avaliações que pesam mais para o setor e para a empresa também são predominantes nas perspectivas de melhoras parciais (53,4% e 50,5%, na ordem) e progressos mais significativos (40% e 45,5%).
A parte majoritária dos comerciantes locais ainda aponta que as contratações devem “aumentar pouco” (59,8%), seguida de longe pelos que avaliam que pode “reduzir pouco” (23,8%). A projeção predominante para investimentos ainda é de melhora relativa (46,3%), embora 26,3% digam que o aporte será “um pouco menor”. Sobre os estoques, 70,6% dos empresários consideram que está “adequado”, mas 17,7% indicam que está acima dessa marca, e outros 1,11%, que está abaixo. No mês anterior, as respectivas marcas foram 67,2%, 18,4% e 13,4%.
“Volta à normalidade”
O presidente em exercício da Fecomércio AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, considera que a alta do Icec é positiva, pois revela que o comerciante de Manaus está com fortes expectativas de superar uma crise multifacetada em choques externos – crise de abastecimento nas cadeias globais e impactos da guerra na Ucrânia sobre a valorização das commodities – e fragilidades internas – altas dos juros e da inflação, instabilidade política.
“É uma crise que tem vários vieses e que impacta na inadimplência do consumidor. Todos esses fatores ainda estão vigentes e deflagaram aumentos de preços que o setor tem de repassar. Mas, o empresário do comércio tem uma missão e é obrigado a se reinventar e superar crises, além de criar perspectivas positivas. Apesar de todas as dificuldades, houve aumento de vendas na Páscoa e no Dia das Mães. A expectativa é que no Dia dos Namorados também teremos crescimento no Dia dos Namorados”, ponderou.
Estoques e FGTS
Em âmbito nacional, a percepção sobre o nível dos estoques, no indicador Intenções de Investimento, apresentou a melhor pontuação desde abril de 2020, apesar de os preços no atacado ainda estarem comprimindo as margens e alterando a dinâmica de reabastecimento do comércio. Em texto da assessoria de imprensa da CNC, a economista responsável pela pesquisa, aponta que o comércio sentiu, em maio, mais facilidade em repor produtos nas prateleiras do que há um ano, quando o Brasil ainda superava a segunda onda da pandemia de covid-19.
Outro aspecto destacado é a melhora da confiança mais acentuada entre as empresas de pequeno porte (+32%) do que entre as grandes (+10,2%), animada pela normalização do fluxo de consumidores nos pontos físicos. Ela informa que a CNC revisou para cima a projeção de vendas em 2022 e espera alta de 1,5%. “Espera-se que as medidas de suporte à renda e ao consumo, como os saques extraordinários do FGTS e a antecipação dos benefícios do INSS, tenham efeitos mais concentrados no consumo e pagamento de dívidas, na segunda metade do ano”, analisou.
No mesmo texto, o presidente da entidade, José Roberto Tadros, ressalta que os dados da pesquisa indicam que os comerciantes de todo o país estão antevendo um segundo semestre mais favorável, diante do contexto atual. “As variações positivas entre janeiro e março do volume de vendas, com mais pessoas circulando nas lojas, e o crescimento da Intenção de Consumo das Famílias, a despeito da inflação e dos juros altos, melhoraram a percepção dos empresários sobre as condições correntes”, finalizou.