Varejo do Estado perdeu força, no mês do Carnaval, e ficou na última colocação entre as unidades aferidas pelo IBGE

Em: 18 de abril de 2024

O varejo do Amazonas entrou no vermelho no mês do Carnaval e registrou o segundo pior resultado de vendas em todo país. Ainda sofrendo com custos mais elevados em razão dos rescaldos logísticos da vazante histórica, o setor encolheu 0,8% entre janeiro e fevereiro, sendo desfavorecido também por três dias úteis a menos. O resultado praticamente eliminou a alta do mês anterior (+1,1%). O confronto com o mesmo período de 2023, contudo, mostrou expansão de 6,7% no volume comercializado, mantendo o bimestre (+6,1%) e o acumulado dos últimos 12 meses (+3,8%) no azul. É o que revelam os números da Pesquisa Mensal do Comércio, do IBGE.

A desaceleração do Amazonas veio na contramão da média nacional, que avançou 1% na variação mensal. O resultado foi alavancado por seis dos oito segmentos acompanhados pelo órgão de pesquisa, com destaque para os segmentos de artigos farmacêuticos e de uso pessoal. Os comerciantes brasileiros cresceram 8,2% sobre fevereiro de 2023 (+8,2%), sendo impulsionados também pelos subsetores de material de escritório e informática, além de hipermercados. A expansão foi de 6,1% no acumulado de janeiro a fevereiro dos 12 meses (+6,1%), mas não passou de 2,3%, em 12 meses.

A CNC calcula que o varejo brasileiro faturou R$ 209,2 bilhão em fevereiro. O desempenho positivo fez a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo reajustar para cima suas projeções de crescimento em 2024. A expectativa, que era de 1,6%, foi encorpada para 2%. A entidade empresarial ressalta, entretanto que o prognóstico depende da confirmação das expectativas de que os juros cheguem a 9% ao ano em dezembro, e que a inflação fique dentro da meta estabelecida pelo Banco Central (3,75%).

Segundo o IBGE, o varejo só encolheu em sete das 27 unidades federativas, entre janeiro e fevereiro. A retração de 0,8% sobre janeiro fez o Amazonas descer da 22ª para a 26ª posição, à frente apenas da Bahia (-1,4%). O melhor dado veio da Paraíba (+5,7%). A elevação de 6,7% atingida pelo Estado no comparativo com o mesmo mês de 2023 foi apenas a 20ª melhor do país, em uma lista encabeçada também pela Paraíba (+19,6%) e encerrada por Roraima (-1,9%). No acumulado do ano (+3,1%), o varejo amazonense caiu para a 13ª posição, com Amapá (+16,6%) e Espírito Santo (+1,1%) nos extremos.

Inflação e crédito

A aceleração do IPCA em fevereiro (+0,83%) ampliou o descolamento da receita nominal – que não leva em conta a inflação do período – em relação às vendas efetivas. Com isso, a variação do faturamento bruto ficou positiva em 0,4% entre janeiro e fevereiro, em desempenho superior ao do levantamento anterior (-0,9%). O confronto com o segundo mês de 2023 indicou um acréscimo de 8,5%, fortalecendo ainda mais os acumulados dos dois (+7,5%) e 12 meses (+5%). As respectivas médias nacionais (+1,2%, +10,9% e +4%) foram todas positivas.

Em razão do tamanho da amostragem, o IBGE ainda não segmenta o desempenho do comércio no Amazonas. Sabe-se apenas que os subsetores de veículos e material de construção contribuíram para um saldo positivo do varejo ampliado na variação mensal (+0,3%), embora o desempenho tenha sido bem mais fraco do que o de janeiro (+2,8%). A elevação de 9,9% frente ao mesmo mês de 2023 assegurou um crescimento de 9,6%, no bimestre, e de 5%, na variação anualizada. Os resultados também foram favoráveis para os subsetores em todo o país (+1,2%, +9,7%, +8,2% e +3,6%).

O comércio brasileiro registrou um mês positivo em seis dos oito segmentos investigados pelo IBGE. A lista inclui as divisões de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (+9,9%); artigos de uso pessoal e doméstico (+4,8%); livros, jornais, revistas e papelaria (+3,2%); móveis e eletrodomésticos (+1,2%); equipamentos e material para escritório informática e comunicação (+0,5%); e tecidos, vestuário e calçados (+0,3%). Já as baixas se restringiram aos segmentos de combustíveis e lubrificantes (-2,7%); e de hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,2%).

“Expectativa de melhora”

O chefe de Disseminação de Informações do IBGE-AM, Luan da Silva Rezende, enfatizou que o tropeço mensal do varejo amazonense foi o maior dos últimos 12 meses. “Isso indicou menos receita bruta do comércio. Felizmente, na comparação com fevereiro do ano passado, o desempenho foi bem superior. E o indicador do varejo ampliado foi positivo, demonstrando que automóveis, peças e materiais de construção venderam mais que o comércio normal. A média móvel trimestral de 0,6% em fevereiro, mostra que há expectativa de melhora nas vendas para a próxima divulgação”, analisou.

Em texto postado no site da Agência de Notícias IBGE, o gerente da pesquisa, Cristiano Santos, observa que, desde 2022, o varejo brasileiro não registrava dois meses consecutivos de incremento de vendas. “Percebemos que a alta veio da parte de produtos farmacêuticos. Houve um fator inflacionário que precisa ser levado em conta, que resultou em um crescimento de preços, mas um crescimento ainda maior em volume de receitas”, ressaltou.

Já a atividade comercial de artigos de uso pessoal, que também ajudou a puxar os números para cima, sinalizaria recuperação, após um ano difícil. “Ao longo de 2023, apenas em agosto e novembro o resultado não foi negativo. Foi um subsetor que sofreu por causa de uma crise contábil em algumas empresas grandes que estão nessa atividade, que é muito influenciada por lojas de departamentos, que tiveram lojas físicas fechadas”, explicou Santos.

“Bom caminho”

Conforme o presidente da FCDL-AM (Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Amazonas), Ezra Azury, o IBGE apontou números esperados pelo setor, principalmente para veículos e material de construção. “Tivemos um crescimento baixo no terceiro e quarto trimestre de 2023, o que explica o aquecimento. E com os problemas causados pela mudança climática, o consumidor esperou o período de chuvas para fazer reformas em sua casa. De uma forma geral, as vendas do setor não foram ruins no trimestre, mas não ficaram dentro do desejado. Esperamos estar abastecidos para termos um bom Dia das Mães”, avaliou.

Em comunicado de imprensa, o presidente da CNC, José Roberto Tadros destacou que os dados nacionais do IBGE para setor refletem uma melhora na conjuntura econômica nacional, com a taxa de desocupação no menor patamar dos últimos dez anos e inflação limitada aos 1,4%, no primeiro trimestre. “Os dados revelam que a macroeconomia está trilhando um bom caminho e, com a trajetória de declive das taxas de juros, os varejistas podem esperar um ano relativamente positivo para os negócios”, encerrou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
Pesquisar