Ao contrário do esperado, o mês da Black Friday e da Copa do Mundo marcou um novo declínio de vendas para varejo amazonense. O volume de vendas encolheu 1,6% entre outubro e novembro, após o ensaio de recuperação do levantamento anterior (+1,1%). O confronto com novembro de 2021 também indicou queda (-0,6%), em um ambiente econômico já marcado pela instabilidade política e incertezas pós-eleitorais. Ainda assim, os acumulados do ano (+2,5%) e dos 12 meses (+2,1%) permaneceram no azul. Os dados são da Pesquisa Mensal do Comércio, divulgada nesta quarta (11), pelo IBGE.
O desempenho do comércio do Amazonas ficou aquém do registrado pela média nacional. O varejo brasileiro interrompeu uma sequência três meses de altas para decrescer 0,6% ante outubro, em um mês ruim para praticamente todos os segmentos, com exceção de artigos farmacêuticos e de móveis e eletrodomésticos. A variação anual ficou positiva em 1,5%, sendo puxada por combustíveis e supermercados, de ambos puxaram um segundo mês seguido de repique no IPCA, em novembro. Os respectivos acumulados (+1,1% e +0,6%), no entanto, ficaram abaixo dos números do setor no Estado.
Em sintonia com o fim do bônus dos incentivos federais ao consumo, o comércio amazonense manteve descolamento das vendas em relação a sua receita nominal – que não leva em conta a inflação do período. Ainda assim, os resultados também foram pífios nessa medida. E, ao contrário do ocorrido no mês anterior, subsetores dependentes de crédito, como os de veículos, de autopeças e de material de construção contribuíram pouco para atenuar os resultados do comércio, apesar do apelo da Black Friday a aquisição de bens duráveis.
O comércio teve vendas negativas em 20 das 27 unidades federativas brasileiras, entre outubro e novembro. O Estado despencou da sexta para a 17ª posição de um ranking com os melhores números vindo de Tocantins (+2,4%), Espírito Santo e Piauí (ambos com +1,5%), e os piores de Amapá (-5,6%) e Alagoas (-3,9%). O decréscimo em relação a novembro de 2021 fez o varejo local desabar do 14º para o 22º lugar, com Paraíba (+32,2%) e Pernambuco (-3,2%) nos extremos. No acumulado do ano, o Amazonas conseguiu se manter na 12ª posição, em um rol também protagonizado pela Paraíba (12,9%) e encerrado por Pernambuco (-4,4%).
Receita e crédito
Vitaminada novamente pela inflação, a receita nominal ainda foi melhor do que o volume comercializado nas comparações de longo prazo. A variação mensal (-1,8%) foi ainda menor neste caso em sentido contrário do resultado de outubro (+1,6%). O confronto com novembro de 2021 (+2,9%), que já incorpora maior diferença nos preços entre um período e outro, levou as vendas ao terreno positivo. Os acumulados do ano (+8,7%) e dos 12 meses (+8,5%) foram mais generosos. O Estado perdeu para a média nacional (-0,3%, +10,5%, +14,6% e +14,1%, na ordem) em todas as comparações.
Em razão do tamanho da amostragem, o IBGE ainda não segmenta o desempenho do comércio no Amazonas. Sabe-se apenas os segmentos de veículos e material de construção apresentaram saldo positivo nas vendas do mês, ao levar o varejo ampliado para a estabilidade (+0,1%). Em sintonia com um ambiente de juros mais altos, entretanto, a comparação com novembro de 2021 (-1,3%) indicou uma queda mais forte do que a da média o setor, refletindo em estagnação nos acumulados (+0,3% e -0,1%)
Em todo o Brasil, o comércio reduziu o passo em seis das oito atividades investigadas pelo IBGE, entre outubro e novembro, embora o varejo ampliado brasileiro também tenha pontuado incrementos para as vendas de veículos (+0,4%) e material de construção (+3%). Os crescimentos se restringiram aos subsetores de artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (1,7%) e de móveis e eletrodomésticos (2,2%).
Em contrapartida, as principais influências negativas vieram dos segmentos de combustíveis e lubrificantes (-5,4%) – no mês em que os preços dos produtos voltaram a crescer – e de equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (-3,4%). Mas, livros, jornais, revistas e papelaria (-2,7%), tecidos, vestuário e calçados (-0,8%), artigos de uso pessoal e doméstico (-0,3%), e hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (-0,2%) também amargaram recuos nas vendas.
Juros e inflação
O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, enfatizou à reportagem do Jornal do Commercio que as vendas do comércio em novembro, não conseguiram alcançar o mesmo patamar de outubro e que isso contribuiu para diluir um acumulado de vendas que ainda permanecia positivo no setor, perto da reta final do ano. Lembra ainda que, embora os ganhos nos segmentos de automóveis, peças e materiais de construção tenham sido significativos, foram insuficientes para levar o setor ao campo positivo.
“Por outro lado, as vendas do comercio ampliado em relação a novembro de 2021, mostraram queda trazendo a possibilidade destes segmentos fecharem o ano de forma negativa. Em 2022, a atividade comercial do Amazonas apresentou queda em cinco dos 11 meses iniciais do ano, indicando que o ano não foi bom para as vendas. As condições macroeconômicas desfavoráveis, como a falta de crescimento de crédito, a alta dos juros, a estabilidade do valor do Auxílio Brasil e a inflação, acabam impactando a renda das famílias e diminuindo o consumo”, analisou.
Cautela e desabastecimento
O presidente da assembleia geral da ACA (Associação Comercial do Estado do Amazonas), Ataliba David Antonio Filho, avalia que a cautela nas compras foi o fator determinante para os números de novembro. “Embora esses meses que fecham o calendário do comércio sejam de maior aquecimento, o consumidor priorizou as compras de primeira necessidade. O varejo estendido não logrou êxito, pois a aquisição desses produtos compromete a renda das famílias. Infelizmente, os meses que adentram 2023 criam expectativas preocupantes, pois ainda não vislumbramos um ambiente de negócios favorável”, lamentou.
O presidente em exercício da Fecomercio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), Aderson Frota, concorda que o peso dos juros e o nível de endividamento das famílias tornaram inibiram as vendas de bem duráveis e dependentes de crédito. mas, considera que o que pesou mais para os resultados negativos do varejo foi o fator seca e seus impactos no desabastecimento e custos do setor – já que as empresas passaram a cobrar ágio para o traslado de contêineres. “Estamos com os rios muito baixos e isso tem obrigado os navios a virem com apenas 50% ou 60% de sua capacidade de carga utilizada. Com isso, o abastecimento ficou aquém do necessário”, finalizou.