18 de setembro de 2024

Venda de veículos novos no Amazonas registrou recuperação em março, aponta Fenabrave

A vendas das concessionárias amazonenses de veículos zero quilômetro reagiram em março, em meio à crise das montadoras. Os emplacamentos somaram 6.293 unidades e resultaram em um avanço de 28,74% ante fevereiro (4.888). O desempenho positivo se disseminou em quase todas as categorias, no mesmo mês em que diversas fábricas interromperam produção. O confronto com igual período de 2022 (4.054) confirmou expansão de 23,13%, com exceção apenas para os veículos pesados. No trimestre, o segmento escalou 28,86% e somou 16.541 unidades, sendo carreado pelas motocicletas.

Os números são da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), que se amparou nos emplacamentos do Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores) e levou em conta todos os tipos de veículos – incluindo automóveis, comerciais leves, caminhões, ônibus e motocicletas. Vale notar que os dados locais devem ser levados também sob a perspectiva do transit time (tempo de trânsito) entre faturamento e emplacamento, um hiato que pode durar 30 dias, em virtude da logística de translado entre as fábricas do Centro-Sul e as concessionárias no Estado.

O Amazonas acompanhou a média nacional, nos dados globais. Março registrou o licenciamento de 365.012 veículos, de Norte a Sul do país, 48,75% a mais do que em fevereiro (245.393). O saldo também veio 33,44% maior do que o de 12 meses atrás (273.549). Em três meses, as vendas expandiram 21,01% (878.827). É uma performance que contrasta com a interrupção da produção e a concessão de férias coletivas em fábricas da Mercedes-Benz, General Motors, Hyundai e Stellantis, no mesmo mês. 

A medida emergencial das fabricantes foi tomada porque as vendas de janeiro (130 mil) e fevereiro (131 mil) ficaram abaixo do esperado (144 mil e 120 mil, respectivamente). Em seu comunicado, a Fenabrave destaca que, a despeito da elevação de vendas, o setor automotivo ainda não retomou o patamar pré-pandemia. Diante disso, a entidade manteve a projeção de alta de 3,3% para 2023. Mas, manobra para obter incentivos tributários do governo, e um compromisso das montadoras, para trazer de volta modelos populares ao mercado, com preços ao menos R$ 10 mil mais baixos.

Automóveis x motocicletas

Em março, cinco das sete categorias listadas pela Fenabrave registraram elevação de vendas no Amazonas, na variação mensal. O melhor desempenho proporcional veio dos comerciais leves, que escalaram 60,70%, com 601 unidades comercializadas. Foram acompanhados por caminhões (+47,62% e 62), motocicletas (+30,63% e 4.047), “outros veículos” (+22,58% e 38) – que inclui tratores, máquinas agrícolas e carretas – e automóveis (+20,42% e 1.480). Em contraste, ônibus (-60,34% e 23) e implementos rodoviários (-25% e 42) saíram menos. 

O número de categorias em expansão é o mesmo no confronto com março de 2022. A lista inclui “outros veículos” (+35,71%), motocicletas (+26,67%), automóveis convencionais (+21,61%), implementos rodoviários (+20%) e comerciais leves (+15,58%). Na outra ponta, somente ônibus (-34,39%) e caminhões (-23,46%) apresentaram redução. No acumulado do ano, o rol de segmentos no azul incluiu motos (+46,81%), implementos rodoviários (+40%), ônibus (+38,89%), “outros” (+31,82%) e carros de passeio (+9,07%).

As motocicletas voltaram a aumentar a diferença em relação aos veículos de quatro rodas no ranking das categorias veiculares mais comercializadas no Amazonas. A participação das motos no bolo de vendas do Amazonas continuou predominante, avançando de 56,45% para 64,31%, diante do mesmo mês do ano passado. Em sentido contrário, a soma dos automóveis e comerciais leves voltou a reduzir sua fatia na mesma comparação, com 32,71% (2023) contra 39,93% (2022).

Inadimplência e estoques

Em entrevista recente à reportagem do Jornal do Commercio, o gerente regional de Seminovos do Grupo Revemar, Rubem Lima, disse que o ano está sendo de vendas “acima do esperado” para a empresa, que trabalha nos segmentos de carros novos e usados. O dirigente ressalvou, no entanto, que o crescimento foi uma realidade apenas para estes últimos, com índice de 20% de alta. As vendas de automóveis zero quilômetro, por outro lado, esbarraram na escalada de preços e juros, além de restrições orçamentárias e do endividamento do consumidor. Como consequência, encolheram 7%.

“O problema não é de demanda, mas de inadimplência mesmo. Tanto que, no caso dos automóveis novos, metade das vendas já é à vista. O crédito está muito difícil e só costuma sair para o cliente com perfil AA, com as dívidas em dia e renda adequada. Os carros usados e seminovos levam vantagem, porque tiveram reduções de preços. E tem muita gente trocando o seu carro por um modelo popular. Mas, temos de ser otimistas”, ponderou.  

Também em entrevista anterior, o gerente geral da Cometa Motocenter, Agno da Silva Montalvão, explicou que o mercado local de motocicletas atravessa boom de vendas desde 2022 e que o foco das dificuldades está mais no estoque do que no crédito. Mas, avaliou que a tendência é de mais aquecimento e melhor equilíbrio entre demanda e oferta. “A questão das filas melhorou bastante, principalmente nos modelos de 125 e 160 cilindradas. A procura é maior entre os profissionais que desejam trabalhar com delivery e entre empresas que trabalham com a locação de veículos destinados a essa função”, comentou.  

“Baixo resultado”

Em comunicado à imprensa, o presidente da Fenabrave, José Maurício Andreta Jr, atribuiu a alta de vendas aos dias úteis adicionais em relação a fevereiro e ao “baixo resultado” da base de comparação de 2022. Segundo o dirigente, o gargalo ainda é o estrangulamento do crédito, já que o percentual de contratos aprovados varia de 30% (motocicletas) a 64% (veículos de quatro rodas). “Ainda não vimos a recuperação aos níveis até 2019. Estamos diante de um cenário novamente desafiador, com alto endividamento das famílias, aumento da inadimplência, e alta de juros e seletividade nas instituições financeiras”, lamentou.

O dirigente não falou do assunto no release, mas já defendeu em outras ocasiões que voltar a produzir carros populares é a saída para ganhar escala de produção, reduzir ociosidade nas fábricas e trazer mais clientes. A proposta, inclusive, já teria sido apresentada ao Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços). “As revendas precisam de maior volume de veículos para se manter, assim como fornecedores e seguradoras”, defendeu, durante o Seminário Megatendências 2023.

Em seu comunicado, por outro lado, a Fenabrave ressalvou que o segmento de motocicletas chegou a um ponto de equilíbrio entre oferta e demanda e permanece mais aquecido do que o de automóveis, muito em razão do papel de destaque dos consórcios nas vendas. E, mesmo diante das incertezas, manteve as apostas para 2023. “Ainda não temos condições de rever as projeções, mas estamos preocupados com a situação do mercado”, encerrou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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