13 de setembro de 2024

Venda de veículos zero derrapa, em mês positivo apenas para ônibus, comerciais leves e motos

A vendas das concessionárias amazonenses de veículos zero derraparam em setembro. O Estado somou 6.358 emplacamentos, 12,48% a menos do que em agosto (7.265) – que teve três dias úteis a mais. Ainda assim, este foi o terceiro melhor número do ano. O confronto com o dado de 12 meses atrás (5.903) indicou incremento de 7,71%. Mas, com o encerramento dos incentivos das MPs 1.175/2023 e 1.178/2023, a alta ficou restrita aos ônibus, na variação mensal, e às motocicletas e comerciais leves, no comparativo anual. Já o acumulado do ano cresceu 16,14%, totalizando 55.568 (2023) unidades.

Os números são da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), que se amparou nos emplacamentos do Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores) e levou em conta todos os tipos de veículos – incluindo automóveis, comerciais leves, caminhões, ônibus e motocicletas. Vale notar que os dados locais devem ser levados também sob a perspectiva do transit time (tempo de trânsito) entre faturamento e emplacamento, um hiato que pode durar 30 dias, em virtude da logística de translado entre as fábricas do Centro-Sul e as concessionárias no Estado.

O Amazonas seguiu a média nacional. Setembro registrou licenciamento de 351.299 veículos em todo o país, com retração de 5,44% frente ao mês anterior (371.517). O saldo se manteve 4,77% mais elevado do que no ano passado (335.299). Em nove meses, as vendas expandiram 12,52%, totalizando 2.971.322 licenciamentos. Em comunicado à imprensa, a Fenabrave atribuiu a desaceleração mensal ao número de dias úteis significativamente menor em setembro, e avaliou que “o mercado está se reerguendo”. Mas, diante das incertezas, manteve sua projeção de crescimento de 3,3% para 2023. 

Automóveis x motocicletas

Em setembro, apenas uma das sete categorias listadas pela Fenabrave teve expansão no Amazonas, na variação mensal. O melhor desempenho veio do segmento minoritário dos ônibus, que escalou 43,75%, com apenas 23 unidades comercializadas. Na outra ponta, comerciais leves (-7,25% e 640), automóveis (-9,68% e 1.371), motocicletas (-13,80% e 4.215), caminhões (-20% e 52), implementos rodoviários (-45,45% e 18), e “outros veículos”, como tratores, máquinas agrícolas e carretas (-26,42% e 39), amargaram quedas.

A situação não foi muito melhor na comparação com o mesmo mês do ano passado, com os crescimentos se limitando aos comerciais leves (+57,64%), motocicletas (+29,53%). Os demais, seguiram no vermelho. As mesmas categorias também foram aparecem isolados com volume comercializado ascendente, no aglutinado de janeiro a setembro. O melhor resultado vem dos veículos de duas rodas (+28,11% e 36.114), enquanto os utilitários também aparecem com alta de dois dígitos (+15,52% e 5.086).

Mesmo com as oscilações, as motocicletas voltaram a aumentar a diferença em relação aos veículos de quatro rodas no ranking das categorias veiculares mais comercializadas no Amazonas. A participação das motos no bolo de vendas do Amazonas continuou predominante, avançando de 58,92% (2022) para 64,99% (2023), no comparativo do acumulado do ano. Em sentido contrário, a soma dos automóveis e comerciais leves reduzir novamente sua fatia na mesma comparação, com 32,47% (2023) contra 37,45% (2022).

“Ressaca” e inadimplência 

Em entrevistas recentes à reportagem do Jornal do Commercio, o gerente regional de Seminovos do Grupo Revemar, Rubem Lima, disse que os primeiros meses do ano foram de vendas “acima do esperado”, mas restritas a carros usados e seminovos. “O problema não é de demanda, mas de inadimplência. O crédito está muito difícil e só costuma sair para o cliente com perfil AA, com as dívidas em dia e renda adequada”, mencionou.

O executivo destacou que o panorama melhorou apenas brevemente para os carros zero, no período de concessão de incentivos governamentais. “Tivemos bastante procura. Isso ajudou e houve até ‘redução’ de juros. Porém, a inadimplência continua muito alta, e faz muitos financiamentos serem recusados. Teremos uma ‘ressaca’ até o final do ano e a estratégia será chamar atenção do consumidor, uma vez que os descontos agora são das montadoras. Nossas expectativas são boas, temos de ser otimistas”, avaliou.

Também em entrevistas anteriores, o gerente geral da Cometa Motocenter, Agno da Silva Montalvão, explicou que o mercado local de motos segue aquecido, embora mencione que a alta atingida no acumulado do ano estava abaixo do esperado. “O resultado se deve à restrição de crédito. O apetite de compra das pessoas não caiu, porém muitos estão negativados. Mas, as expectativas são ótimas. A taxa de juros tende a cair e o governo está com ações para limpar nomes [o programa Desenrola]. A fábrica está com a promessa de produzir mais motos, então, esperamos crescer em torno de 15%”, afiançou.

“Vendas corporativas”

Em texto divulgado à imprensa, o presidente da Fenabrave, José Maurício Andreta Júnior, disse que o recuo mensal das vendas nacionais se deveu ao número menor de dias úteis. “De maneira geral, o mercado demonstrou recuperação nas vendas diárias em relação a agosto. No entanto, os desafios do setor permanecem, com o crédito restrito e a diminuição do poder de compra da população ainda dificultando o acesso a veículos novos”, ponderou.

Segundo dados da entidade, a média de emplacamentos de automóveis e comerciais leves em cada um dos dias úteis de setembro foi de 9.372 unidades. A comparação com o dado de agosto (8.560) indicaria um incremento de 9,5%. “Isso mostra que o mercado está se reerguendo, em boa parte graças às vendas corporativas, mas ainda num ritmo abaixo do esperado para a escala necessária, principalmente, no varejo”, frisou.

O presidente da Fenabrave assinalou que o segmento de automóveis também mostrou recuperação nas vendas diárias, mas ressalvou o impacto dos picos de julho e agosto,graças aos incentivos das 1.175/2023 e 1.178/2023. E acrescentou que a categoria das motocicletas continua aquecida, em razão da mudança do padrão de consumo e dos serviços de delivery. “Mesmo com dificuldades de obtenção de financiamentos bancários, os consumidores têm movimentado o mercado, sendo apoiados pelos consórcios”, encerrou.

Boxe ou coordenada: Mercado de usados tem resultado ainda pior

O mercado de veículos usados teve desempenho ainda pior, conforme e mesma Fenabrave. As transações (1.182.189) caíram 13,9%, ante agosto de 2023, e encolheram 4,7%, frente a setembro de 2022. Em nove meses (10.611.683), a evolução não passou de 3,2%. Os modelos com até três anos de fabricação, representaram 11,5% do total transacionado no mês. No ano, até agora, estes veículos acumulam participação de 9,9%.

“A diferença de dias úteis tem grande influência nesse resultado, já que os licenciamentos pelas autoridades de trânsito só são realizados em dias úteis. Até mesmo em relação ao mesmo mês de 2022, lembro que, no ano passado, setembro teve um dia útil a mais, o que indica um mercado em estabilidade”, concluiu José Maurício Andreta Júnior.. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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