17 de setembro de 2024

Vendas do Natal puxam confiança dos comerciantes de Manaus de volta para cima

A corrida às compras para o Natal reanimou os comerciantes de Manaus, após dois meses consecutivos de pessimismo reforçado. A melhora da capital amazonense seguiu na direção contrária do quarto declínio mensal consecutivo na média nacional, conforme o Icec (Índice de Confiança do Empresário do Comércio), da CNC. Com a crise da vazante já afastada, os empresários locais melhoraram sua percepção nas condições atuais da economia e expectativas de investimento. Mas, o entusiasmo é menor do que o registrado há um ano e boa parte dos subindicadores segue abaixo do patamar de confiança.

Manaus aparece com 109,6 pontos no levantamento de dezembro, sendo que valores acima de 100 pontos ainda indicam satisfação. Com isso, o indicador cresceu 5,1% e emplacou o terceiro melhor escore de um ano marcado pelo derretimento de expectativas no setor. O otimismo é maior nas empresas com até 50 funcionários e que vendem bens semiduráveis. Mas, houve um mergulho de 22,27% ante o mesmo mês de 2022 (141 pontos). Na média brasileira (108,9 pontos), o indicador andou para trás na variação mensal (-1,4%) e também na anual (-13,2%).

A inflexão positiva do Icec ocorre no mesmo mês em que o indicador do ICF (Intenção de Consumo das Famílias), da mesma CNC, confirmou sua 18ª alta mensal, sendo alavancado pelo consumidor com até dez salários mínimos de renda familiar. Houve melhora na percepção sobre renda, emprego e intenção de adquirir bens duráveis, mas o acesso ao crédito piorou. A Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), da mesma entidade, marcou estabilidade nas famílias manauenses endividadas (78,6% ou 516.085) e um novo aumento no grupo das inadimplentes (45% ou 296.434).

Empregos e investimentos

Oito dos nove subcomponentes do indicador retomaram alta em Manaus, mas cinco deles permanecem no nível de insatisfação. As melhoras mais acentuadas vêm das condições atuais das empresas comerciais (+12,2% e 96,3 pontos), do comércio (+12% e 76,9 pontos) e da economia brasileira (+10,3% e 63,4 pontos). As expectativas em relação à economia (+6,1% e 138,1 pontos) também mantêm expansão acima da média do Icec local, o que não acontece no caso do setor (+4,9% e 149,1 pontos) e das empresas (+3,3% e 157,4 pontos).

O nível de investimento (+4,8% e 97 pontos) também registrou elevação significativa. Fonte de insatisfação frequente nos levantamentos anteriores, e foco de maior preocupação a partir da seca recorde de 2023, a situação dos estoques (98,8 pontos) cresceu 0,7%, em sintonia com a subida dos rios. O único dado negativo veio do indicador de contratação de funcionários (-1,4% e 122,2 pontos), o que pode sinalizar ou não menos chances de manutenção dos trabalhadores temporários chamados para o reforço das festas de fim de ano.

A maioria dos varejistas locais ainda considera que as condições atuais da economia “pioraram muito” (42,1%), ou que “piorou um pouco” (27,9%), mas os números desidrataram em um mês. Os grupos que apontam que a situação “melhorou um pouco” (19,6%) ou “melhorou muito” (10,1%) avançaram, mas seguem minoritários. A visão predominante a respeito do setor também é de piora extrema (34,8%), mas a estimativa média predominante para as empresas ainda é de melhora relativa (34%). 

A pesquisa ainda mostra um panorama melhor para as expectativas de um futuro que teima em ficar longe. Aumentou o percentual majoritário de comerciantes que apostam que a economia brasileira vai “melhorar muito” (45,8%) ou, ao menos, “melhorar um pouco” (26,3%). Em paralelo, os grupos que cravam que vai “piorar muito” (13,7%) ou que vai “piorar um pouco” (14,2%) perderam adeptos. As projeções empresariais que pesam mais para o comércio e para os estabelecimentos também são de progressos mais significativos (45,9% e 51,3%, na ordem) e continuam avançando. 

Apesar do retrocesso do subindicador de contratação de funcionários, a parte majoritária dos lojistas ainda aponta que seus quadros devem “aumentar um pouco” (45,8%). A parcela dos que dizem que pode “reduzir um pouco”, entretanto, caiu para 24,2%. Em contraste, as visões predominantes para o investimento seguem cravando que ele pode ser “um pouco menor” (32,1%). O entendimento sobre a situação dos estoques melhorou e 58,4% dizem que está “adequado”. Outros 27,4% informam que está acima do ideal –em função de vendas fracas –e 12,8% apontam que está abaixo dessa marca.

Juros e tributos

O presidente em exercício da Fecomércio-AM, Aderson Frota, avalia que o redirecionamento da pesquisa reflete os números “muito bons” dos lojistas em dezembro, e também a capacidade do setor de “criar um novo roteiro de soluções” e se reinventar. “Conversamos com vários empresários, que trabalham com confecções, calçados, eletroeletrônicos, alimentos, e quase todos se manifestaram de forma positiva, acreditando que teríamos um crescimento muito bom no Natal. Claro, não será um aumento tão grande, depois de tantos problemas que tivemos de superar”, ponderou. 

Texto da assessoria de imprensa da CNC, aponta que seis em cada dez empresários perceberam piora nas vendas e que as festas de fim de ano não foram suficientes para aplacar essa percepção. Em sintonia, as intenções de investir e contratar arrefeceram. “O alto nível dos juros para pessoas jurídicas e a inadimplência das empresas atingindo o maior nível desde junho de 2018, de 3,5%, contribuíram para esse recuo, representando dificuldades para que os estabelecimentos possam manter seu fluxo de capital”, assinalou o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares.

No mesmo texto, o presidente da entidade, José Roberto Tadros, assinala que a nova piora dos números nacionais do Icec apontam preocupações redobradas no setor. “A trajetória descendente que observamos ao longo do ano pode ser atribuída a diversas incertezas, como as preocupações com possíveis aumentos da carga de impostos após a aprovação da reforma Tributária e os sinais de um ambiente econômico desafiador em 2024”, encerrou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio

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