As vendas nominais do PIM trocaram a estagnação pela queda, em novembro. O faturamento do Polo Industrial de Manaus em dólares caiu 12,54% entre outubro e novembro, de US$ 3.19 bilhões para US$ 2.79 bilhões, em meio à crise da vazante, e com dois dias úteis a menos. Em reais, a retração foi de 14,45%, com R$ 13.79 bilhões contra R$ 16.12 bilhões. O confronto com o mesmo mês de 2022 (US$ 3.3 bilhões e R$ 16.06 bilhões) apontou recuos respectivos de 7,92% e 14,13%. É o que revelam os Indicadores de Desempenho do Polo Industrial de Manaus, divulgados pela Suframa, nesta sexta (2).
A situação não foi muito melhor no acumulado do ano. As vendas do PIM praticamente não saíram do lugar (+0,11%), quando medidas pela moeda americana, ao passarem de US$ 32.18 bilhões (2022) para US$ 32.22 bilhões (2023). Convertido na divisa nacional, o resultado indicou queda de 2,24%, com R$ 161,02 bilhões (2023) contra R$ 164,70 bilhões (2022). Os números não levam em conta a inflação – 4,68% em 12 meses, conforme o IPCA do IBGE –, nem a desvalorização da moeda americana – 6,77% em um ano, conforme o Banco Central. A mesma base de dados indica, no entanto, abalo menor nos empregos do Polo Industrial de Manaus.
A performance deixou a indústria incentivada um pouco mais longe do patamar aguardado pelas lideranças do setor. Números da Fieam, divulgados em dezembro, informam que a estimativa para o PIM é fechar o ano com faturamento de US$ 35.77 bilhões (ou R$ 179,39 bilhões). Com isso, o parque fabril da capital amazonense teria apresentado altas respectivas de apenas 2,76% e 0,82%, na comparação com o tumultuado ano de 2022 (US$ 34,71 bilhões, ou R$ 177,93 bilhões). Mas, para chegar a esse número, o Polo terá de emplacar US$ 3.55 bilhões (R$ 18,37 bilhões) em vendas, em dezembro – valor nunca atingido na média mensal dos últimos cinco anos.
Produtos e empregos
Na análise em dólares, apenas 16 dos 26 subsetores tiveram faturamento ascendente no acumulado. O subsetor de bens de informática sofreu queda de 15,04% (US$ 7.91 bilhões), embora mantenha liderança de participação do PIM, com 24,55% do total. O segmento eletroeletrônico teve acréscimo de 2,11% (US$ 6.07 bilhão), mas reduziu seu share para 18,83%. Mais aquecido, o polo de duas rodas avançou 19,86% (US$ 5.69 bilhões) e sua fatia já de 17,67%. O ranking de participações se completa com as divisões de “outros produtos” (12,99%), químicos (9,96%), termoplástico (8,38%) e metalúrgico (7,62%).
Em termos de produção, os destaques positivos vieram das unidades condensadoras para Split System (+266,43% de alta); unidades evaporadoras para Split System (+178,54%); receptores de sinal de TV (+143,68%); condicionadores de ar janela (+98,61%); microcomputadores – desktop (+74,89%); rádios e aparelhos de áudio (+13,02%); auto rádio e aparelhos reprodutores de áudio (+11,78%); motocicletas, motonetas e ciclomotores (+11,65%); aparelhos de barbear (+10,61%); e lâminas e cartuchos (+10,49%).
O nível de empregos do PIM caiu menos do que se esperava. A média obtida em novembro foi de 112.604 pessoas, entre trabalhadores efetivos, temporários e terceirizados. Ficou 1,95% abaixo do mês anterior (114.842) e perdeu para novembro de 2022 (115.648) por uma margem de 2,63%. Mas, a média mensal do aglutinado (112.533) se manteve 1,40% acima do apurado em todo o ano passado (110.979), e no melhor desempenho desde 2014 (122.177).
Os maiores índices de crescimento de empregos ainda vêm dos subsetores industriais de vestuário e calçados (+45,24%), mineral não metálico (+26,85%) e “produtos diversos” (+26,25%). Na outra ponta estão os polos de brinquedos (-75,04%), têxtil (-33,66%) e editorial e gráfico (-22,56%). Levando em conta só a mão de obra efetiva, o saldo de vagas emendou um quinto mês de alta no comparativo aglutinado. As contratações (32.470) predomianram sobre os desligamentos (30.561), gerando 1.909 novos postos de trabalho. O saldo, entretanto, ainda é o mais baixo desde 2018 (-1.310).
“Perspectivas de crescimento”
No texto da assessoria de imprensa da Suframa, o titular da autarquia, Bosco Saraiva, preferiu não falar dos números de 2023 e focar nas expectativas para 2024. “A capacidade de consumo das famílias tende a melhorar a partir da redução de juros, desaceleração da inflação e programas do governo federal, como o Desenrola. A promulgação da reforma Tributária também traz estabilidade política, aumenta as expectativas dos empresários e oferece perspectivas de crescimento econômico a longo prazo”, listou.
Outro ponto citado pelo superintendente é o programa Nova Indústria Brasil, recentemente anunciado pelo governo federal. “Nesse ambiente, as indústrias do PIM terão a oportunidade de alavancar novos investimentos com custos de financiamentos mais atraentes. Também temos metas estabelecidas pela política que são totalmente aderentes à produção na Amazônia e potencialmente capazes de promover transformações importantes no perfil da indústria local, como o estímulo à transformação digital, à bioeconomia e à transição e segurança energética”, destacou.
Vazante e custos
O presidente da Fieam e vice-presidente executivo da CNI, Antonio Silva, considera que os resultados estão dentro do imaginado pelo setor para o período. E salienta que, desde os meses iniciais de 2023, o entendimento do setor era que o ano seria “de estabilidade, com leve tendência positiva”. Para o dirigente, o impacto da estiagem histórica contribuiu para os “indicadores mais tímidos”, mas as questões econômicas e estruturais pesaram mais.
“A indústria tem suportado um custo financeiro e logístico demasiadamente elevado, aliado à concorrência dos produtos importados e redução do poder de compra da população, fatores que explicam a relativa estagnação. Nesta linha, considero importante que mantenhamos o mesmo nível de produção e mão de obra empregada, o que colabora para que não ocorra um esfriamento da massa consumidora. Não vislumbro, no momento, grandes oscilações para o segmento”, asseverou.
O presidente da Aficam, Roberto Moreno, considerou que o balanço parcial de 2023 é positivo, diante das dificuldades impostas no período. “Entendo que ainda haverá esse balanço favorável para todos, quando fechar as comparações em sua totalidade. Os setores que tiveram percentuais positivos nesta análise, contribuem fortemente para o valor do faturamento, ‘puxando’ todo o Polo para cima. Essa tendencia deverá se repetir até essa consolidação final dos números”, avaliou.
O dirigente destaca que o saldo positivo da mão de obra sempre é um “fator importantíssimo” a se comemorar, e reforça que 2024 será um ano de desafios e oportunidades. “Estamos passando por situações adversas, mas com vista já para as que virão neste ano. Há previsões de estiagem significativa também e, as regulamentações da reforma Tributária. As empresas já estão em ritmo acelerado para atender as programações deste ano. Vamos em frente”, arrematou.