Em sintonia com a subida dos números de contágio, internações e mortes por covid-19 no Estado, os empreendedores do Amazonas elevaram sua expectativa de prazo para retorno à ‘normalidade’ na economia de dez para 13 meses, em dezembro. Antes mesmo do ziguezague dos decretos de fechamento de setores não essenciais, 54% já esperavam vendas piores no fim de ano, em comparação com o mesmo período de 2019. Apenas 22% aguardavam melhora e 24%, empate.
Em síntese, para 38%, a frase que melhor define o momento atual é “ainda tenho muitas dificuldades para manter meu negócio”, embora esta seja a mesma proporção que estabelece que o “os desafios provocaram mudanças que foram valiosas para o seu negócio”. Apenas 12% se dizem “animados com as novas oportunidades” ou dizem que “o pior já passou”. Os dados estão na nona edição da pesquisa “Impacto da pandemia de coronavírus nos pequenos negócios”, conduzida pelo Sebrae, realizada entre 20 e 24 de novembro. Na sondagem anterior, as respectivas fatias foram 46%, 28%, 13% e 12%.
A maioria esmagadora dos pequenos negócios do Amazonas sofreu refluxo nos negócios (73%), com queda média de 38% nas vendas, em relação a uma semana normal. Houve menos disseminação nas perdas, mas amplitude menor praticamente igual à registrada na sondagem anterior – 85% e 39%, na ordem. Em contrapartida, caiu de 82% para 69% a proporção de empresas que tiveram de fazer mudanças para sobreviver à crise – como a adoção de vendas à distância. Já a parcela das que saíram temporária (15%) ou definitivamente (2%) do mercado aumentou em relação a outubro (12% e 1%).
Em contraste, reduziu de 10% para 9% a faixa de micro e pequenos empreendimentos do Amazonas que saíram ganhando faturamento com a crise da covid-19. Quem se enquadrou nessa situação privilegiada de mercado alcançou altas de até 52% nas vendas – o mesmo número de outubro. Mas, a minoria (46%) lançou ou começou a comercializar novos produtos e/ou serviços, desde o início da pandemia.
Tecnologia e empregos
Em compensação, a proporção de empreendedores do Amazonas que abraçaram as redes sociais, aplicativos e internet para facilitar as vendas já atinge esmagadores 75%. O WhatsApp é o meio preferido (96%) no Amazonas, seguido por Facebook (70%), Instagram (52%), site próprio (16%), OLX (10%), Mercado Livre (8%) e aplicativos como Uber Eats, Ifood, Rappi e GetNinjas (7%), mas um percentual idêntico (7%) informa usar meios não citados para comercializar seus produtos e serviços.
Entre as ferramentas digitais a opção majoritária é o WhatsApp for Business (62%). Na sequência estão as propagandas pagas no Google, Facebook ou Instagram (43%), software ou aplicativo de gestão (38%), Google Meu Negócio (25%), Ferramenta para Gestão de Clientes/CRM (23%) e automação de processos (19%).
Assim como no mês anterior, as micro e pequenas empresas do Amazonas ouvidas pelo Sebrae ainda contam com média de quatro colaboradores e seguem empatadas com o número nacional nesse quesito. Os quadros incluem familiares, empregados fixos e temporários, formais ou informais, sendo que a fatia correspondente a negócios que não contam com um empregado sequer foi de 49% e praticamente empatou com o dado de outubro (48%).
Diminuiu de 42% para 39% a fatia de pequenos negócios locais que conseguiram evitar desligamentos nos 30 dias anteriores à pesquisa. Entre os 13% que optaram por demitir, a média de funcionários mandados para casa (1) foi metade da média nacional (2), ficando também abaixo de outubro (2). Em contraste, a minoria de empresas que ainda conseguiu contratar funcionários de carteira assinada em novembro (8%) praticamente empatou com o dado de outubro (7%). A média de admitidos no Estado (1) sofreu tombo em relação ao levantamento anterior (3) e também ficou abaixo da estatística brasileira (2).
“Economia vulnerável”
A gerente da unidade de Gestão e Estratégia do Sebrae-AM, Socorro Correa, lembra que a pandemia trouxe um aumento significativo nas vendas à distância, impulsionadas por consumidores que buscam praticidade e segurança sanitária. Sob esse novo cenário, a executiva avalia que os empreendedores que puderam se adaptar e fazer uso das diversas formas de mídia e vendas digitais sofreram menos os efeitos da crise econômica.
“Enquanto não houver controle total do novo coronavírus, a solução continuará a estar nas vendas à distância. Quem, pelas características de sua atividade, não puder fazer uso dos meios digitais, deve diversificar seu negócio. Porque também não vejo uma erradicação total da pandemia de covid-19 já em 2021. Infelizmente”, alertou.
Outro ponto destacado na pesquisa pela gerente da unidade de Gestão e Estratégia do Sebrae-AM é que o empresariado não enxerga, pelo menos no curto e médio prazo, uma melhoria no cenário econômico e da saúde pública. “Sem controle da pandemia, a economia fica vulnerável. É preferível discutir e construir um plano para os próximos meses, com períodos intermitentes de abertura e de fechamento do comércio, onde o determinante seja o número de pessoas contaminadas e/ou a lotação hospitalar. Um meio termo”, sentenciou.
Indagada sobre as perspectivas para as MPEs do Amazonas, diante do cenário de segunda onda de covid-19 e novo fechamento de segmentos não essenciais de comércio e serviços, coroado pela ausência das mesmas políticas anticíclicas federais de 2020 para atenuar os impactos econômicos da pandemia, Socorro Correa não demonstra otimismo. “Deve haver encerramento de pontos comerciais, especialmente daqueles que funcionam em imóveis alugados. E também vamos ter abertura de novos MEIs [microempreendedores individuais], criados por pessoas desempregadas”, arrematou.
Saiba mais sobre os empreendedores do Amazonas
A sondagem do Sebrae ouviu representantes de 6.138 micro e pequenas empresas em todo o país, assim como MEIs (microempreendedores individuais), sendo que 56 deles estão no Amazonas. Dos 56 entrevistados no Estado, 51% são MEIs e 49% são micro ou pequenas empresas, sendo distribuídos em serviços (53%), comércio (42%), indústria (2%) e construção civil (4%). As estatísticas apontam ainda que o empreendedor amazonense é majoritariamente do sexo masculino (62%), tem de 36 a 55 anos de idade (70%), conta com ensino superior incompleto “ou mais” (45%) e se declara da etnia “negra” (71%).