As obras do Balneário do Parque 10 de Novembro tiveram início em 10 de novembro de 1938 por ocasião do aniversário de um ano do Estado Novo, na administração municipal de Antônio Botelho Maia (1937-1940), irmão do Interventor Federal Álvaro Botelho Maia. As obras foram continuadas na administração de Paulo de La Cruce Grana Marinho (1940-1942), tendo o Balneário sido inaugurado em 19 de abril de 1943, dia do aniversário do Presidente Getúlio Dornelles Vargas, pelo prefeito Antóvila Mourão Vieira (1942-1944). Ocupando uma área de 50 hectares ao norte da Vila Municipal (Adrianópolis), era recortado pelas águas do Igarapé do Mindu, possuindo uma piscina grande para adultos, uma para crianças, um ‘bar-dancing’, restaurante, quadras de tênis, basquete e vôlei e um playground. Foi por muitas décadas considerado o melhor balneário da região Norte. O que restou dele, nos dias de hoje, está coberto pelo mato, em ruínas, com o igarapé poluído.
A Ponte da Bolívia foi construída em 1958 no Governo de Plínio Ramos Coelho (1955-1959) sob o Igarapé da Bolívia, na Avenida Torquato Tapajós, AM-010. Esse trecho passou a ser frequentado nos finais de semana, ficando conhecido como Balneário da Ponte da Bolívia. Também foram construídas, assim como no Parque 10 de Novembro, algumas instalações para os frequentadores, embora mais modestas, como um pavilhão e alguns quiosques de madeira e palha. A construção de um aterro sanitário pela Prefeitura em meados da década de 1980 pôs fim, aos poucos, ao igarapé. Em 1994 o Jornal do Comércio publicava, na coluna ‘Linhas Cruzadas’, que “o aterro sanitário do quilômetro 17 da Manaus-Itacoatiara” estava “poluindo tremendamente o Igarapé da Bolívia, aquele que passa por baixo da ponte de mesmo nome” (Jornal do Commercio, 10/06/1994). O chorume dos dejetos penetrava na terra e atingia o igarapé, tornando-o um perigo à saúde pública.
O mais marcante, sem dúvidas, foi o Igarapé do Tarumã, afluente do rio Tarumã, localizado entre as zonas Oeste e Leste da cidade, que já aparece em gravuras e fotografias desde a segunda metade do século XIX, chamando a atenção de viajantes e turistas. Também são afluentes os igarapés do Tarumãzinho e da Cachoeira Alta e Baixa, tão famosos quanto o do Tarumã. Ambos, já na década de 1990, estavam impróprios o banho público. A cada diz toneladas de lixo se acumulam nesses cursos d’água.
Também existiam balneários particulares, como o Maringá, criado entre o final da década de 1950 e o início da década de 1960, antigamente localizado no quilômetro 06 da Rodovia AM-010, em frente a entrada da boate Saramandaia. Era propriedade particular do casal de comerciantes Alfredo Raposo e Messody Sabbá Raposo. Esse era um balneário de luxo frequentado por pessoas da alta sociedade manauara da época, amigos íntimos do casal Raposo. O local contava com uma residência, uma grande piscina, um campo de futebol e muitos pés de goiaba e caju. Encerrou suas atividades na década de 1980, quando foi adquirido pela extinta PORTOBRÁS (Empresa de Portos do Brasil). O mais refinado deles foi o Balneário do Bosque Clube, instalado na antiga Estrada de Flores, este cortado pelo Igarapé dos Franceses. Era, no início do século passado, ponto de encontro da colônia inglesa de Manaus, sempre a fazer, nos finais de semana, seus famosos ‘picnics’. O memorialista Luiz de Miranda Corrêa, em seu ‘Roteiro Histórico e Sentimental da Cidade do Rio Negro’, também cita os banhos “Tucunaré, Casablanca e Bancrévea” (CORRÊA, Luiz de Miranda. Roteiro Histórico e Sentimental da Cidade do Rio Negro. Manaus: Artenova, 1969, p. 88).
A futura degradação dos igarapés e balneários de Manaus já se anunciava desde a década de 1960. A destruição da Cidade Flutuante, favela fluvial existente na orla da cidade desde a década de 1920, feita com pouco planejamento, fez com que inúmeras famílias passassem a ocupar os leitos dos igarapés da cidade, erguendo habitações irregulares. No fim desse período e ao longo da década de 1970, com a intensificação da industrialização, mediante a instalação da Zona Franca, bem como o crescimento desordenado da cidade, recebendo milhares de imigrantes, os igarapés tornaram-se os locais de despejo dos esgotos residencial e industrial. Os danos foram tamanhos que, em 1981, o Presidente da Associação Amazonense de Proteção Ambiental, Francisco Braga, afirmou categoricamente que “todos os igarapés de Manaus estão sendo poluídos pelos esgotos residenciais e industriais” (Jornal do Commercio, 05/11/1981).
Há mais de 20 anos o cenário desses espaços que um dia fizeram a alegria dos manauaras é desolador. As gerações mais novas foram privadas desse divertimento, tendo como referenciais mais próximos as fotografias, os cartões-postais e os relatos dos mais velhos. Faltou consciência dos que passaram a ocupar suas margens, faltou planejamento dos administradores públicos no tocante à habitação. Ambos são problemas históricos que acompanham nossa sociedade. Caso não ocorram mudanças, corre-se o risco de que a degradação chegue ao Rio Negro e aos rios do interior do Amazonas.
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