Um instrumento com mais de 500 anos, desenvolvido por luthiers italianos a partir da rabeca, o violino foi sendo desenvolvido, ganhando popularidade, e se tornando complexo. É um dos destaques entre os demais instrumentos de uma orquestra devido ao seu som agudo inconfundível, tanto que o spalla, o primeiro entre os demais violinos da orquestra, é o ‘braço direito’ do maestro. Mas, você que sempre ouviu o som mavioso de um violino nos clássicos dos grandes mestres da música, já imaginou ele sendo tocado numa toada de boi, ou num beiradão?
Esse é o projeto Violino Amazonês, da violinista e educadora Nayane Lira, cujo objetivo é valorizar a nossa história e a presença do violino na música regional da Amazônia, especialmente em estilos como a toada e o beiradão, pilares da identidade musical amazonense.
Entre os dias 4 de abril e 30 de maio, Nayane irá realizar oficinas, para crianças, em quatro escolas e três instituições beneficentes onde apresentará o instrumento aos pequenos.
“O projeto será uma vivência musical, onde as crianças terão a oportunidade de conhecer o violino e suas possibilidades sonoras. Vamos apresentar músicas da nossa cultura, como o beiradão e as toadas de boi, mostrando que esses ritmos típicos da Amazônia também podem ser expressos através do violino. O objetivo é que as crianças se conectem com sua cultura local e se sensibilizem com os sons que fazem parte da nossa história e identidade”, falou.
“A ideia central é unir essa tradição à educação musical, promovendo o acesso à cultura em comunidades que muitas vezes têm pouco ou nenhum contato com a formação artística. Desejo que o Violino Amazonês crie pontes entre tradição e inovação, proporcionando não apenas formação musical, mas também um espaço de acolhimento, crescimento e transformação para esses jovens, suas famílias e comunidades, pois acredito no poder da arte para transformar vidas, e é essa transformação que almejo alcançar por meio do projeto”, completou.
O primeiro violino
O primeiro contato de Nayane com o violino aconteceu quando ela tinha oito anos, com a filha de uma amiga de sua mãe, que tinha um violino.

“Sempre que eu ia à casa dela, ficava encantada com o som e com os vídeos de orquestras que ela me mostrava no videocassete. Eu amava ver o movimento dos arcos, todos sincronizados, parecia mágica. Ela até tentou me ensinar, mas o violino dela era enorme. Em casa, colocava um CD e fingia estar num grande palco, acompanhando o ritmo da orquestra”, lembrou.
“Como meus pais não tinham condições de comprar um violino, comecei a estudar flauta doce e violão aos nove anos, em um projeto de uma escola municipal na Zona Leste. Finalmente, aos doze anos, consegui meu primeiro violino e comecei a aprender sozinha, assistindo vídeos no YouTube. Aos 14 anos, conheci minha primeira professora de violino, Margarita Chtereva, no projeto Musicando, da UEA, e desde então, nunca mais parei de tocar”, contou.
E quem acha que o violino é um instrumento difícil de aprender, acertou.
“Eu diria que se leva a vida toda para dominar o violino, porque é um instrumento que exige muito estudo e dedicação. Cada vez que você estuda, acaba descobrindo algo novo, seja no estudo da técnica ou no repertório que precisa ser melhorado. É um instrumento vivo, que estamos sempre aperfeiçoando. No entanto, com um estudo regular e dedicado, em alguns meses já é possível tocar uma música simples. Mas para realmente dominar o violino, são necessários anos de prática e compromisso”, afirmou.
O que acharia Paganini?

O compositor e violinista italiano Niccolò Paganini (1782/1840) é considerado o maior virtuose do século 19. Paganini foi um dos criadores da estética musical romântica. O que será que ele acharia ao ver o instrumento que dominava com tanta facilidade executando toadas de boi ou beiradões?
“Acredito que ficaria extremamente curioso com os ritmos e melodias dessas músicas. Como violinista e compositor, ele provavelmente já estaria imaginando como poderia adaptar esses ritmos em um de seus famosos caprichos. Imaginem só um capricho de Paganini com as características rítmicas do beiradão ou das toadas de boi. A mistura das complexidades técnicas do violino com os ritmos pulsantes da nossa região poderiam resultar em algo totalmente inovador”, revelou.
As oficinas de Nayane circularão pelo Centro Municipal de Educação de Jovens e Adultos Isaac Sverner (dia 4 de abril); Escola Municipal Jarlece da Conceição Zaranza (11 de abril); Escola Municipal Profª Ana Cristina Aquino de Melo (25 de abril); Escola Municipal Ana Sena Rodrigues (dia 9 de maio); Nacer (Núcleo de Assistência à Criança e Família em Situação de Risco – 16 de maio); Lar de Marias (23 de maio); e Lar de Vitórias (30 de maio).
“Acredito que mais de 200 crianças participarão das oficinas. A faixa etária que desejamos atingir abrange alunos de nove a 16 anos. Ao unir música, cultura e inclusão social, o Violino Amazonês busca fortalecer a identidade amazônica e formar uma nova geração de apreciadores e praticantes da música regional”, concluiu.