Wepainung, sementes de ações

Em: 28 de abril de 2025
O principal objetivo do Projeto Wepainung é fortalecer cadeias produtivas sustentáveis dentro da Terra Indígena Andirá-Marau.

Há quase cinco anos a Associação Centro de Sementes Nativas da Amazônia cria mecanismos para fortalecer a cadeia do restauro no Estado atuando em várias atividades, entre elas, as cadeias produtivas de sementes nativas e sistemas agroflorestais já tendo capacitado mais de 130 coletores de sementes, além de apoiar iniciativas de reflorestamento e comercialização de produtos florestais não madeireiros. Um dos projetos da Associação é o Wepainung, sobre o qual o engenheiro florestal Israel Silva Jr., presidente da Associação, explicou melhor ao Jornal do Commercio. 

Israel, une conservação ambiental, autonomia econômica e valorização cultural.
Israel, une conservação ambiental, autonomia econômica e valorização cultural.

Jornal do Commercio: Quem idealizou e está à frente do Projeto Wepainung?

Israel Silva: O Projeto Wepainung foi idealizado pela Sementes da Amazônia, em parceria com a Ufam, unindo a experiência técnica de anos de atuação na região com o compromisso de promover ações sustentáveis e inovadoras na Terra Indígena Andirá-Marau. A comunidade indígena está envolvida nas ações do projeto e será diretamente beneficiada. A execução do projeto conta com o apoio da Petrobras, e a responsabilidade técnica está sob a coordenação da equipe da Sementes da Amazônia, que também conta com profissionais vinculados à Ufam, Ifam e Inpa.

JC: Por que escolheram a Terra Indígena Andirá-Marau?

IS: A Terra Indígena Andirá-Marau foi escolhida por já ser um território de atuação há mais de uma década, especialmente com o Projeto Waraná, que fortaleceu a produção agroecológica do guaraná sateré. O Projeto Wepainung dá continuidade a esse trabalho. É um território estratégico, onde o saber tradicional do povo sateré-mawé se une ao conhecimento técnico, criando soluções sustentáveis com impacto direto na floresta e na vida das pessoas.

JC: O Projeto parece ser bem amplo, mas quais são seus principais objetivos?

IS: O principal objetivo é fortalecer cadeias produtivas sustentáveis dentro da Terra Indígena. A principal delas é a implantação e ampliação de SAFs (Sistemas Agroflorestais), que promovem uma produção diversificada, de baixo impacto ambiental e com potencial de geração de renda. A ideia é agregar valor ao que já é produzido, por meio do processamento de produtos não madeireiros, como frutos, sementes e óleos, transformando-os em alimentos ou insumos com viabilidade de mercado. Além disso, o projeto inclui uma série de capacitações práticas para os comunitários, com foco em manejo de sementes, boas práticas em agroecologia, processamento de alimentos e produção artesanal. É uma proposta que une conservação ambiental, autonomia econômica e valorização cultural. 

JC: Visam impactar quantas pessoas?

IS: Inicialmente, pretendemos trabalhar com 100 famílias em três comunidades localizadas dentro da Terra Indígena, impactando diretamente cerca de 600 comunitários. Indiretamente, por meio de ações complementares e da disseminação das práticas do projeto, a estimativa é alcançar até 1.500 pessoas em outras comunidades da região.

 JC: O que é o manejo florestal não madeireiro?

IS: Trata-se da utilização sustentável de recursos da floresta que não envolvem a extração de madeira, como sementes, óleos, resinas, frutos e fibras. Seu principal diferencial é a renovação rápida desses recursos, permitindo que a coleta seja feita, em muitos casos, de forma anual, ao contrário da madeira, que pode levar décadas para ser extraída novamente no mesmo local.

 JC: Uma das ações do Projeto é o fortalecimento da cadeia produtiva de sementes. Fale sobre isso.

IS: As sementes serão escolhidas pela própria comunidade, com base em um inventário florestal realizado nas áreas de interesse. A proposta é fortalecer a cadeia do restauro ecológico, que além de gerar renda, contribui para a valorização e preservação do território. Como parte dessa ação, será oferecido um curso de manejo de sementes, com foco na coleta, beneficiamento e estruturação para a construção dessa cadeia produtiva.

 JC: Hoje, como a população da Terra Indígena Andirá-Marau obtém renda?

IS: A principal fonte de renda da Terra Indígena vem da produção tradicional de guaraná, cultivado de forma agroecológica pelos sateré-mawé, que inclusive já exportam para países como França e Itália. Além disso, parte da população depende de programas de assistência social. O Projeto Wepainung vem para fortalecer essa base produtiva, com melhorias nos guaranazais e capacitações técnicas, mas também para abrir novas frentes de geração de renda, baseadas no uso sustentável da floresta. Isso inclui o manejo e beneficiamento de produtos florestais não madeireiros, como sementes, frutos e plantas com valor alimentício ou medicinal. Um diferencial é que as novas espécies e culturas a serem trabalhadas não são impostas: elas serão definidas por meio de um diagnóstico participativo, ouvindo cada comunitário que aderiu ao projeto. A ideia é conciliar o que cada família quer cultivar com o potencial produtivo da terra.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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