“Não abro mão dos Sucos da Bíblia e nem das viagens. Nas viagens faço novos amigos, e com os vinhos brindo à saúde deles”
Sempre serei agradecido à Deus por ter assistido em um final de tarde deslumbrante na área externa de uma vinícola no Vale do Napa na companhia de enófilos e amantes do jazz, o concerto do quarteto de Stan Getz, icônico saxofonista de jazz, em um ambiente cercado pelas parreiras da Zinfandel e outras castas. Foi formidável!
As primeiras mudas de videiras da Zinfandel foram para Califórnia com os missionários franciscanos espanhóis no século 18. Essa uva garantiu o vinho da missa por muitas décadas, até a explosão populacional causada pela “corrida do ouro” que atraiu para região um grande número de desbravadores do Velho Oeste, sedentos por bebidas alcoólicas. Por isso, as áreas de plantio foram aumentadas pelos padres que perceberam com a chegada dos garimpeiros uma grande oportunidade para bons negócios. Entrou em ação o estilo “the american way”. Como nem tudo é bom pra sempre, a produção do vinho californiano sofreu um baque no final do século 19 com o ataque mortal da praga filoxera que destruiu vinhedos em todo lugar. Quando a indústria vínica estava se recuperando do primeiro baque, veio o segundo em 1920 com a Lei Seca. A produção diminuiu, mas não foi interrompida, difícil era distribuir “booze” às escondidas. Foi somente no início da II Guerra Mundial em 1939 que as atividades vitivinícolas foram retomadas levando à recuperação, e à produção de vinhos de forma mais aprimorada. Duas regiões são propícias à produção de bons vinhos na Califórnia: o Napa Valley e o Sonoma Valley.
Os solos da Califórnia oferecem boas condições para o cultivo das vinhas. O clima é mediterrâneo, quente, o vento fresco constante sopra do Oceano Pacifico, e as chuvas acontecem de vez em quando. Todo relevo é desenhado por pequenos vales (daí o nome das principais regiões), e cada um deles tem particularidades de solo e clima que criam “terrois” perfeitos para viticultura. Devido as diferenças geográficas e climáticas nos dois vales, cada um tem predominância de determinado tipo de uva. A região do Vale do Sonoma é reconhecida por seus excelentes vinhos feitos a partir da uva Pinot Noir. Mas isso é assunto para uma próxima abordagem.
É na região do Vale do Napa, onde reina tranquila e soberana a variedade Zinfandel, considerada nos nossos dias a uva emblemática dos Estados Unidos, pela alta qualidade dos vinhos que dela são produzidos. Existem mais de cem variedades cultivadas no Vale do Napa, por isso é a área economicamente mais rica, onde se encontra o maior número de vinícolas. É também mais famosa, e mais turística.
Você deve estar se perguntado que negócio é esse de uva emblemática? Seguinte, a uva considerada emblemática é aquela mais típica dentre todas que são plantadas em um país. Uma curiosidade sobre a Zinfandel é que ela se tornou sim a mais típica casta americana, mas não é o maior destaque das uvas californianas. O destaque maior vai para a Cabernet Sauvignon. É uma longa e fascinante história que tornou a CS, a mais destacada e famosa uva dos excelentes vinhos produzidos nos Estados Unidos. Tai outro tema que vou abordar em breve. Aguarda aí.
Voltando para a nossa uva que está na berlinda da minha abordagem, a Zinfandel é uma cepa tinta que na Itália recebe o nome de Primitivo. Mas o certo mesmo é que tanto a Zinfandel quanto a Primitivo, são duas variedades clone da cepa natural da Croácia, a Cirlienack. Isso foi legitimado através de teste de DNA que revelou serem elas primas legitimas.
O que sei sobre a identidade da Zinfandel, é que ela é uma casta versátil, e de fácil cultivo. Os vinhos dessa uva geralmente são intensos e bem alcoólicos, mas existem alguns mais leves e bem frutados. Os mais intensos, na minha opinião, casam com pratos de carnes vermelhas ou embutidos.
Topa tirar a prova dos nove com a Zinfandel e a Primitivo? É uma experiência bem divertida e informativa. Missão: determinar se são uvas diferentes ou iguais? Agora, degusta, casando com carne vermelha um vinho da Zinfandel de 2015 para trás. Procede da mesma forma com um vinho da Primitivo também de 2015 para trás. O que achou? Depois me conta.
@OLDBLACKEYES
Foto/Destaque: Divulgação