‘Brasilibaneses’, assim o pesquisador e escritor Roberto Khatlab denominou os libaneses que vieram para o Brasil e depois resolveram voltar para o Líbano, bem como seus descendentes, que fizeram o mesmo caminho. ‘Brasilibaneses’ também é o título de seu mais novo livro, que será lançado no próximo dia 29, em Beirute, no Líbano.
Roberto é paranaense, mas casou com uma libanesa e vive no Líbano para onde foi com a intenção de passar alguns meses, mas onde está há mais de 20 anos. Em Beirute, na Universidade Saint-Esprit de Kaslik, ele é diretor e pesquisador do Centro de Estudos e Cultura da América Latina, criado em 2010, único no mundo árabe e onde são promovidas conferências, seminários e congressos, entre outros eventos.
O curioso de ‘Brasilibaneses’, é o casal que está na capa: os libaneses Jacob Ibrahim Menassa e Wadigha Cecin, os primeiros ‘brasilibaneses’. Eles vieram para Manaus, e depois retornaram para o Líbano.
“Mas não foram os primeiros libaneses a irem para a Amazônia. Quando Jacob chegou aí, em 1885, já havia outros seus compatriotas vivendo na região e trabalhando como mascates, os famosos regatões. Em 1901 Jacob voltou para o Líbano, para implementar seu comércio entre aquele país e o Brasil. Ele queria se valer do Tratado de Amizade e Comércio, que havia sido assinado em 1858, entre o Império do Brasil e o Império Otomano”, falou Roberto.
Roberto descobriu que Jacob chegou a ter um grande comércio, em Manaus, e ficou bem financeiramente. De 1901 até 1914, quando começou a Grande Guerra, ele viajou entre Manaus e Beirute, levando e trazendo mercadorias para negociar. Roberto não sabe, ao certo, o que Jacob levou daqui, mas de lá deveria trazer principalmente seda, pois a região onde morava era grande produtora desse tecido.
Avô de Jacques Menassa
Os seus negócios só paralisaram quando iniciou a guerra e o Império Otomano começou a ruir, o que se concretizou oficialmente, em 1922. Jacob faleceu em 1937 e Wadigha, em 1964. No Líbano eles tiveram três filhos e dois deles vieram morar em Manaus. Seus descendentes vivem até hoje na capital amazonense. O filho que ficou no Líbano é o pai do empresário e fotógrafo Jacques Menassa, que já foi personagem de matérias no Jornal do Commercio pelas exposições que realiza quando visita a cidade, onde morou por vários anos durante a guerra civil em seu país.
“Muitos dos libaneses que vieram para o Brasil, antes, na época e depois de Jacob, o fizeram por perseguições religiosas, conflitos, crises econômicas e sociais. A grande maioria era de cristãos. O Oriente Médio sempre foi muito instável, principalmente por questões religiosas”, explicou.
O registro mais antigo de um libanês no Brasil é o de Joseph Ibrahim Nehmé, que chegou ao Rio de Janeiro em 1795.
“Podem ter havido outros antes dele, mas o registro de Josef é o mais antigo, que consegui, assim como outros libaneses que já viviam na Amazônia bem antes de Jacob e deixaram descendentes aí na região”, revelou.
Apesar desses pioneiros terem vindo para a Amazônia no começo da exploração econômica da borracha, e vivido o boom dessa exploração, eles não trabalharam como seringueiros. Sempre foram mascates, subindo os rios com suas mercadorias, e sendo chamados de turcos, mesmo sendo libaneses, sírios, palestinos e até judeus. Esses povos todos pertenciam ao Império Otomano, que teve início em Constantinopla, atual Istambul, na Turquia, por isso eram chamados de turcos.
D. Pedro II
Todos os livros escritos por Roberto tratam das relações entre o Brasil e o Líbano vistos sob os mais diversos ângulos.
“Hoje, no Oriente Médio, o Líbano é o país que reúne a maior comunidade de brasileiros. Calculamos em 21 mil ‘brasilibaneses’. São libaneses de nascimento, brasileiros que casaram com libanesas (como eu), brasileiras que casaram com libaneses e descendentes”, informou.
“Estima-se que entre cinco e seis milhões de libaneses e descendentes vivam no Brasil e o principal responsável por isso foi D. Pedro II”, acrescentou.
Em 1876 o imperador do Brasil visitou a região de Nahr el Kalb, Rio do Cachorro, e Monte Líbano, divulgando o Brasil nos jornais locais. Anos depois, Jacob Menassa, então com 13 anos, junto com seus dois irmãos, resolveu vir conhecer aquele grandioso país propagado por D. Pedro II. Outros libaneses ficaram sabendo das mesmas notícias e, a partir de 1880, aconteceu a Grande Imigração Libanesa para o Brasil.
‘Brasilibaneses’ será lançado no dia 29 de fevereiro, no Instituto Guimarães Rosa, em Beirute, e Roberto também tem interesse em lançá-lo em Manaus. A data de 29 de fevereiro comemora os 80 anos das relações diplomáticas entre Brasil e Líbano.
O Brasil abriu consulado em Beirute, ainda sob mandato francês, em 1920. Em 1944, o governo brasileiro reconheceu a independência do Líbano, dando início às relações diplomáticas entre os dois países e, em 1946, acreditou o Ministro Plenipotenciário junto ao governo libanês. Em 1954, foi inaugurada a Embaixada do Brasil, em Beirute.
‘Brasilibaneses’ pode ser adquirido na Amazon.
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