A lei de lynch e suas repercussões

Em: 7 de março de 2025

Durante a Revolução Americana, e em qualquer ocasião onde nações e povos estão em guerra, o ódio pelo outro, que nos aparenta ser diferente, se manifesta em níveis absurdamente irracionais. As diferenças se situam em diversos contextos: religião, cor da pele, ideologia e outras. Na verdade, o ser humano, sem cultura e sem educação, busca um motivo para ter um culpado pelas mazelas que ocorrem. Neste período histórico em comento, o Juiz Charles Lynch adotou a forma de se punir quem apoiasse os ingleses na luta contra a colonização norte-americana. Mas, se voltamos no tempo, veremos atrocidades cometidas pela lei de talião, pela Inquisição, pelas Cruzadas, enfim, exemplos não faltam e não se findarão jamais. A violência está no âmago do ser humano. Mas, pode demorar muito para surgir, mas, está lá, na nossa alma, latente mesmo. Ao longo de nossas vidas, surgiram inúmeros motivos para se odiar alguém, com certeza, mesmo que neguemos isso. Dia desses, em uma roda de cervejas da velha guarda, comentaram um linchamento ocorrido aqui no Brasil e divulgado pelas redes sociais. Alguns do grupo cervejeiro concordaram, outros discordaram e alguns, como eu, não emitiram opinião. A conversa caiu para o nível baixo da política, onde ouvi as seguintes abordagens: “quando a mídia eleva um determinado político ou um alto funcionário público, isso carreia mais ódio nos adversários”; “igual a quando a mídia destrói a imagem do político do outro lado”; “autoridades devem confiar em seus seguranças, mesmo sabendo que fazem o que podem e não são perfeitos”. Ouvi várias manifestações e isso serviu para mostrar um termômetro real do estresse em que o brasileiro vive, atualmente. Pode-se dizer o que quiser, mas, muitos patrícios estão uma pilha de nervos. E o povo irado reage com coragem e falta de juízo. Mas, a culpa é da própria civilização em que vivemos. De fato, conceitos de liberdade e democracia foram configurados para abordagens ideológicas, igual ao uso da nossa Bandeira Nacional. Um amigo da roda disse: “lembro de 1968, 69, onde críticas aos poderosos terminava sempre mal. E hoje?”. Bem, tenho muitos amigos que se sentem constrangidos por A ou por B. E outros, como eu, somos totalmente indiferentes mesmo. De verdade. Tem a experiência da vida, em forma de dito popular, que diz: “não há mal que sempre dure e nem bem que nunca se acabe”. Eu tenho uma abordagem mais enfática: todos morremos! E, voltando a falar de linchamento, vemos que isso ocorre todos os dias, mesmo que não haja sangue e pedaços de corpos, mas, como muitos não consideram a honra como um valor intrínseco à dignidade humana, não se importam em destruir imagens, acarretando, dessa forma, mais ódio naqueles que defendem tais vítimas. Isso vai mudar? Eu posso mudar? Não. Então, a vida segue. E com cervejas! Geladas!

Carlos Alberto da Silva

Coronel do Exército, na Reserva, professor universitário, graduado em Administração e mestre em Ciências Militares
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