Bosco Jackmonth*
Esta é mais uma contribuição adicional das sistematicamente anotadas nestes artigos postos em longa série na presente estação de escritos semanais, eis que coletadas da fonte indicada ex die enriquecida por oportuno com a vivencia deste profissional modus facienda, informada ad quem em cada crônica, em busca de que o seja prazeroso. Consagrou-se, contudo, que há 2.300 anos no dizer de Epicuro, a advertência a seus discípulos de que a busca imoderada do prazer provavelmente os faria infelizes, e não o contrário. Buda, por sua vez, fez uma declaração ainda mais radical, ao ensinar que a busca de sensações prazerosas é com efeito, raiz do sofrimento no porvir. Assim sendo, essas sensações são apenas vibrações efêmeras e inexpressivas. Mesmo quando as experimentamos, não reagimos a elas com contentamento; em vez disso, ansiamos por mais. Não importa, portanto, quantas sensações de bem-aventurança ou excitação alguém possa experimentar – elas sempre serão insuficientes.
Logo, se este signatário identificar felicidade com sensações prazerosas passageiras e ansiar por experimentá-las mais e mais, não terá escolha senão a de buscá-las constantemente. Se afinal as tem, elas desaparecem rapidamente; porém como a mera lembrança de prazeres passados não satisfazem, há que começar novamente. Ainda que continue durante décadas, tal nunca será uma conquista duradoura; pelo contrário, quanto mais ansiar por sensações prazerosas, mais estressado e insatisfeito se quedará. Sucede, para alcançar a felicidade real, os humanos têm de desacelerar, e não acelerar, em sua busca por sensações prazerosas.
Trata-se da visão budista da felicidade e que tem muito em comum com a visão bioquímica. Ambas afinam-se com a noção de que as sensações prazerosas desaparecem tão rapidamente quanto emergem e que, enquanto as pessoas ansiarem por sensações prazerosas sem de fato as experimentar, elas permanecerão insatisfeitas. No entanto, esse problema comporta duas soluções diferentes. A solução bioquímica consiste em desenvolver produtos e tratamentos que vão oferecer aos humanos um fluxo sem fim de sensações prazerosas – assim eles sempre desfrutarão da certeza de tê-las. Buda sugeriu que reduzíssemos nosso anseio por sensações prazerosas e não conferíssemos a elas o controle de nossa vida. Segundo Buda, podemos treinar nossas mentes a observar cuidadosamente com surgem e passam todas as sensações. Quando a mente aprende a enxergar nossas sensações tais como elas são – ou seja, vibrações efêmeras e inexpressivas, — perdemos o interesse em persegui-las. Pois qual o sentido de correr atrás de algo que desaparece tão rápida quanto surge? A humanidade, nos dias que correm, tem muito mais interesse na solução bioquímica. Não importa o que dizem os monges no Himalaia, em suas cavernas, ou os filósofos em suas torres de marfim: para o rolo compressor capitalista, felicidade é prazer. Ponto. Cada ano que passa diminui nossa tolerância em relação às nossas sensações que não oferecem prazer e aumenta nossa ânsia por sensações que a provocam. Tanto a pesquisa científica quanto a atividade econômica estão engrenadas para atingir esses fim, e a cada ano se produzem analgésicos mais potentes, novos sabores de sorvete, colchões mais confortáveis e mais jogos viciantes para nossos smartphones a fim de que não tenhamos um só momento de tédio enquanto esperamos o ônibus (Continua).
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Advogado empresarial (OAB/AM 436). Ex-funcionário do Banco do Brasil; Fiscal de Bancos, a ordem do Banco Central; Cursou Advocacia; Comunicação Social (Jornalismo); Contabilidade; e Lecionou História Geral.