Bosco Jackmonth*
No hodierno se diz que os cientistas podem fazer muito melhor do que Deus do Antigo Testamento, graças a fertilizantes artificiais, inseticidas industriais e safras geneticamente modificadas, e assim a produção agrícola de hoje ultrapassa as mais altas expectativas que os antigos agricultores tinham do sobrenatural. E assim o ressecado Estado de Israel não teme mais que alguma divindade irada contenha os céus e detenha todas as chuvas – pois os israelenses construíram recentemente uma imensa usina de dessalinização na costa do Mediterrâneo, de modo que já podem extrair água potável do mar.
Estava-se competindo até agora com os deuses da Antiguidade na criação de ferramentas cada vez melhores. Acredita-se, num futuro não tão distante poder-se-á criar super-homens capazes de exceder os deuses antigos não em suas ferramentas, mas em suas faculdades corporais e mentais. Se e quando chegarmos lá, no entanto, a divindade terá se tornado tão corriqueira quanto o ciberespaço – uma maravilha das maravilhas que já consideramos como certa.
Não se duvide que os humanos se esforçarão para atingir a divindade, pois têm muitos motivos para querer essa atualização e inúmeros caminhos a buscar consegui-la. Mesmo que uma direção promissora se revele um beco sem saída, rotas alternativas permanecerão abertas. Talvez, a propósito, se descobrirá que o gênero humano é complicado demais para ser manipulado com seriedade, mas isso não impede o desenvolvimento de interfaces entre cérebro, computadores, nanorrobôs ou inteligência artificial.
Carece não entrar em pânico, contudo. Pelo menos não imediatamente. A elevação do Sapiens a um nível superior será mais um processo histórico gradual do que um apocalipse hollywoodiano. O Homem sapiens não vai ser exterminado por um levante de robôs. É mais provável que sua atualização ocorra passo a passo, fundindo-se no processo com robôs e computadores, até que nossos descendentes olhem para trás e se deem conta de que não são mais o tipo de animal que escreveu a Bíblia, construiu a Grande Muralha da China, e riu das graças de Charles Chaplin. Isso não vai acontecer em um dia nem em um ano. Já está acontecendo na verdade neste momento como resultado de inúmeras ações cotidianas.
Todos os dias milhões de pessoas decidem dar a seu smartphone um pouco mais de controle sobre suas vidas, ou experimentam uma droga antidepressiva nova e mais eficaz. Na busca de saúde, felicidade e poder, os humanos modificarão primeiro uma de suas características, depois outra, e outra, até não seres mais humanos. Explicações tranquilas à parte, muitas pessoas quando ouvem falar dessa possibilidade, elas estão felizes seguir as recomendações de seus smartphones ou de tomar qualquer droga prescrita por seu médico, mas, quando ouvem falar de humanos elevados à categoria de super-humanos dizem: “Espero estar morto antes que isso aconteça”. E este é o infalível porvir esperado… (Conclusão da série!)
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É advogado empresarial (OAB/AM 436). Contato [email protected].