Algumas recomendações à Amazônia em tempos de guerra.

Em: 17 de março de 2022

No último dia 15 de março de 2022 foi batizado, nas águas do rio Negro/Amazonas, o barco de pesquisa Roberto dos Santos Vieira, com a honrosa presença da sua esposa e filho.

Por acreditar na imortalidade do Espírito, não uso o termo viúva.

Uso das palavras de meu tio, Josué Borges, a homenagem que ele fez ao meu avô, em nosso grupo familiar de WhatsApp:

“HOJE 15 DE MARÇO SERIA ANIVERSÁRIO DO MEU PAI JÚLIO BORGES DE SANTANA. ELE NASCEU EM 1901 E NATURALMENTE NÃO PODERIA ESTAR AQUI. MAS, EU SEI QUE ELE NÃO MORREU. SEI QUE ELE FOI PARA A VIDA ESPIRITUAL PRIMEIRO QUE EU E DE LÁ TEM ME ORIENTADO E CONTINUA AMANDO TODOS OS 13 FILHOS QUE TEVE NESTA SUA ENCARNAÇÃO. SÓ ME RESTA DIZER MUITO OBRIGADO PAPAI POR TUDO QUE ME ENSINOU. UM GRANDE ABRAÇO. ” 

O grifo é do meu tio e traduz o Amor Verdadeiro que sentimos e compartilhamos em família.

Em tempos em que alguns, sem alma e coração, investem nas indústrias da guerra, enriquecendo seus acionistas, a UEA (Universidade do Estado do Amazonas) inicia a sua jornada no maior programa de monitoramento ambiental do Planeta: ProQAS/AM (Programa de Monitoramento da Água, Ar e Solos do Estado do Amazonas).

Nosso desafio comum: conhecer e reconhecer um território superior a 1,5 milhão de km2, com mais de 97% da floresta nativa preservada.

O ProQAS/AM surgiu dentro do Grupo de Pesquisa “Química Aplicada à Tecnologia” da UEA, alinhado aos objetivos do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), onde tenho a honra de trabalhar desde 2018.

Com o engajamento de quinze professores-doutores (Químicos, Físicos, Geólogos, Biólogos e Engenheiros), 70 alunos (Doutorado, Mestrado e Iniciação Científica) e Técnicos (no suporte aos laboratórios), o Programa constitui-se de doze projetos de Monitoramento Ambiental, sendo abraçado, inicialmente, pelo Ipaam (Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas), com investimentos superiores a R$ 13 milhões (2022/2023).

Você, caro leitor, pode navegar conosco através do sitio institucional: https://www.gp-qat.com/ e se integrar ao trabalho de cuidar da Amazônia, o nosso mais importante patrimônio natural.

Presenciar o evento do primeiro passo, me trouxe a certeza que estamos diante de uma grande caminhada da Ciência e consciência amazônica.

E os desejos não são pequenos. 

Até 2030, afinados aos 18 ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável), devem ser captados investimentos da ordem de US$ 50 milhões, que conciliem a produção do conhecimento científico como armadura do controle ambiental, que deve promover licenciamento, fiscalização e, agora, monitoramento ambiental.

Em um bioma tão sensível como o nosso é, e será, a governança socioambiental local que ancorará, a partir dos indicadores descobertos pelo ProQAS/AM, a análise e permissão para a instalação e operação de arranjos produtivos, de pequena, ou grande escala.

Como o Brasil poderá combater a fome da sua população se estamos discutindo, há seis anos, como será implantada uma mina subterrânea em Autazes, fora de Terras Indígenas, na margem esquerda do rio Madeira?

Como o Brasil poderá combater a fome no mundo se permanecemos, desde a década de 1980, discutindo o papel da mais importante representante da indústria petrolífera mundial, a Petróleo Brasileiro S.A., na margem direita do rio Madeira?

Será possível que ainda pouco aprendemos com os governos anteriores, que retiraram do nome Vale do Rio Doce, todo o rio Doce!

Hoje vemos a multinacional Vale S.A. buscar sua referência de Responsabilidade Social Corporativa (RSC) e de Environmental Social Governance (ESG), perdidas, na falência da prática de tais valores.

Tais conceitos das organizações fora orientado pela ONU em 2018, sob o título Boas Práticas na Extração, referência básica de meus alunos de graduação do curso especial de Tecnologia em Mineração nos municípios de Barcelos, Novo Aripuanã e Presidente Figueiredo.

Infelizmente, não foi capaz de evitar o segundo grave acidente de barragens de rejeitos da mesma mineradora.

Aos que queiram estudar o tema, sugiro a leitura de minha Tese (2019) orientada pelos professores doutores Therezinha Fraxe e Henrique Pereira da Universidade Federal do Amazonas (https://tede.ufam.edu.br/handle/tede/7684).

Na defesa, lembro claramente da fala da atual vice-reitora da Ufam, mutatis mutantes: “a Tese ora aprovada nos deixa claro que em Autazes e em Presidente Figueiredo possuímos diferentes indicadores de governança socioambiental. Em Autazes, os valores são elevados, em Presidente Figueiredo, fracos”.

Em tempos de guerra, minha primeira recomendação aos povos da Amazônia e suas autoridades é esta: ajude-nos a consolidar, imediatamente, os recursos orçamentários necessários à operação do ProQAS/AM. 

Convocamos os parceiros privados, públicos, ONGs… a enviarem suas propostas de trabalho ao líder do Grupo de Pesquisa, professor-doutor Sergio Duvoisin Junior, através do e-mail: [email protected] . Segundo informações do pesquisador líder, haverá abertura de Editais nacionais e internacionais para captação de bons projetos.

Após as eleições da UEA, no próximo dia 23 de março de 2022, o GP-QAT realizará o primeiro Workshop do ProQAS/AM com nossos futuros navegantes desta maravilhosa viagem ao conhecimento científico.

Já estão confirmados no evento, os grupos de pesquisadores da ATEM, da Agropecuária Jayoro, da mineradora Potássio do Brasil… junte-se a eles! 

Amazônidas e amazonenses, a Amazônia precisa do nosso cuidado!

Quero agradecer àqueles que contribuíram ao êxito do evento de lançamento do Programa com seus apoios políticos: Cleinaldo Costa, reitor da UEA;  Juliano Valente, diretor-presidente do Ipaam; Eduardo Taveira, secretário do Meio Ambiente do Amazonas; Armando do Valle, diretor-presidente da Cosama (Companhia de Saneamento do Amazonas); Angelus Figueira, deputado estadual da Assembleia Legislativa do Amazonas; Plínio Valério, senador do Amazonas… entre tantos outros, invisíveis construtores de uma Amazônia mais segura.

Ao governador Wilson Lima, nossas palavras finais de gratidão por nos liderar até aqui.

“Até aqui nos ajudou o Senhor” (I Samuel, 7:12, Velho Testamento da Bíblia Sagrada, aproximadamente, a partir de 930 a.C.).  

Dedico este artigo ao meu avô JÚLIO BORGES DE SANTANA. O grifo é meu, e, até aqui, Ele foi, é, e continua sendo o meu querido Anjo da Guarda. 

Gratidão eterna! Benção, Dindinho!

Daniel Nava

Pesquisador Doutor em Ciências Ambientais e Sustentabilidade da Amazônia do Grupo de Pesquisa Química Aplicada à Tecnologia da UEA, Analista Ambiental e Gerente de Recursos Hídricos do IPAAM
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