Ampliação da divulgação de crianças desaparecidas no Brasil

Em: 7 de abril de 2022

A infância é a principal época de descobrimento do ser humano. É nessa fase que aprendemos a associar o que é certo e o que é errado, o que faz sentido e o que não faz, e principalmente, quem é confiável ou não. De início, temos total confiança nos parentes que nos cercam, sendo eles os principais orientadores na formação social de cada um.

Quando estamos na escola, sempre perguntam: ‘’o que você quer ser quando crescer?’’. Nesse momento, a criatividade aflora e você escuta as mais sinceras opiniões e escolhas, mesmo que para nós, adultos, sejam absurdas. De astronauta a tiktoker, todos possuem um sonho. Mas, infelizmente, nem todos conseguem realizá-los, pois algumas vezes, eles são interrompidos.

Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2021 revelaram que durante o ano de 2020, cerca de 62.587 pessoas foram dadas como desaparecidas. Milhares de famílias sofreram com o sumiço repentino e muitas ainda possuem um pouco de esperança.

Os dados se tornam ainda mais preocupantes quando focamos no número de crianças que sumiram sem deixar rastros. O Ministério Público de São Paulo juntamente com o Programa de Localização e Identificação de Desaparecidos (Plid), em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, dos Boletins de Ocorrências de desaparecimentos em São Paulo relatou que de 24 mil casos registrados, cerca de mais de cinco mil são boletins de crianças e adolescentes desaparecidos.

Projetos e estudos foram interrompidos sem deixarem pistas. Os números alarmantes evidenciam a falta de estrutura e assistência do sistema público, que atualmente funciona com o mínimo de recursos disponíveis.

Infelizmente, o Brasil não é o único o país com problemas em relação aos desaparecidos. Quando citamos o tema de sumiço de crianças, é quase impossível não lembrar do caso Madeleine McCann, a criança que desapareceu em 2007 em Portugal durante as férias da família. Após mais de 10 anos do acontecimento, as investigações não apontaram um culpado e até hoje não há pistas do paradeiro ou o que aconteceu com a criança.

Já aqui no Brasil, o caso mais famoso de desaparecimento foi o sumiço do menino Evandro, na década de 90. Com várias reviravoltas e acusações, trajetória do crime, que depois foi notificado como assassinato, chocou o país e tornou a discussão de políticas públicas para crianças desaparecidas mais do que essenciais.

Por conta do alto número de desaparecidos, a senadora Zenaide Maia (Pros-RN) solicitou alteração no texto original da ex-deputada Laura Carneiro, onde ao invés do desaparecimento constar Cadastro de Crianças e Adolescentes Desaparecidos, ele constará no cadastro de pessoas desaparecidas. Mais uma vez, o projeto foi modificado pelo senador Veneziano Vital do Rego (PSB-PB), optando por registrar o desaparecimento em ambos os recursos.

Atualmente, é comum ver ônibus, rodoviárias e jornais o rosto de desaparecidos, mas muitas vezes, não prestamos atenção o suficiente. Por conta da correria do dia a dia, só olhamos rapidamente e seguimos nosso rumo, mas se houvessem medidas mais incisivas tanto por parte do poder público quanto da própria população, seria mais fácil de ajudar os milhares de familiares que ainda buscam por respostas.

Sobre a decisão do senador Veneziano do Rego, ele justifica que a alteração foi realizada pois o Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas está em implementação e o Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes ainda não foi extinto. Ou seja, se ambos atuarem em conjunto, será mais benéfico ao incentivar a busca de desaparecidos no país. 

É claro que o problema não seria resolvido de uma hora para outra, pois os casos possuem justificativas próprias, como o tráfico de órgãos, tráfico de pessoas, ou até mesmo, escravidão. Práticas como essas precisam ser barradas com os recursos que temos, ainda que não pareçam eficazes da maneira que deveriam. O número de desaparecidos não estão equilibrados com os números de profissionais especializados nesse tipo de caso, por isso precisamos de medidas e iniciativas de órgãos que possam ajudar de alguma maneira, sendo ações de divulgação de rostos, características e trejeitos das vítimas. 

Grande parte da população ainda não é capaz de decorar um rosto e um nome com apenas uma verificada de 5 segundos em um papel ou anúncio na rede social, mas se começarmos a incluir essas faces em trajetos mais movimentados no dia a dia, assim como campanhas durante a programação de pico na televisão, será um grande passo para diminuir os dados tão alarmantes que discutimos hoje.

André Zogahib

Presidente da Fundação Amazonprev Professor Dr. da Universidade do Estado do Amazonas
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