Aprender a navegar é preciso

Em: 16 de setembro de 2021

Desde 2018 atuo como pesquisador no Grupo de Pesquisa Química Aplicada à Tecnologia da Escola Superior de Tecnologia da UEA, e desde julho (2021) me integrei, por processo seletivo, ao grupo de professores do curso Tecnologia em Mineração oferecido em turmas especiais nos municípios de Barcelos, Novo Aripuanã e Presidente Figueiredo.

Entre uma aula e outra, tive a oportunidade de conhecer, num bate-papo informal com o amigo e professor José Luiz Sansone, um pouco das atividades do curso de Engenharia Naval criado pela UEA em 2013, que destaco no presente artigo pelo perfil profissional que estamos formando na mais importante bacia hidrográfica do mundo.

Lembro-me de uma palestra do Gal. Villas Bôas, ainda no Comando Militar da Amazônia, apontando a existência de mais de 22.000 km de vias navegáveis no bioma.

Nossos rios, igarapés, lagos são nossas estradas naturais, forjadas pela ação geológica do tempo e pelo cuidado de nossos ancestrais indígenas.

Além das “populações anfíbias”, nosso território representa o mais importante e estratégico sistema de integração logística nacional, muito mais competitivo que toda a malha rodoviária existente no Brasil, ou ferroviária, ainda precária e insuficiente.

E com uma grande vantagem: para sua manutenção, não são precisos orçamentos públicos vultuosos de governos e gestores bons, ou corruptos, mas, apenas, do controle ambiental das águas – nosso “asfalto aquático” -, do respeito e monitoramento ao ciclo hidrológico e da qualidade e segurança de nossas embarcações. 

Com oito anos, já estamos no topo do mundo.

No Brasil, as escolas de Engenharia Naval atuam há mais de 60 anos. Destaco pela relevância no ensino, pesquisa e extensão, os cursos oferecidos pela Universidade de São Paulo (USP), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Nosso jovem curso da UEA, com seus oito anos de vida, mesmo não dispondo da infraestrutura instalada nas renomadas instituições federais de ensino superior, tem se destacado em revelar talentos e projetos inovadores.

Nas palavras do coordenador do curso, Prof. MSc. José Luiz Sansone, “nossas equipes de alunos e professores têm um desenrolar muito melhor, pois, nossas estradas são o rio. Navegar é preciso. “

De fato, nem UFRJ, UFSC ou USP possuem um laboratório natural como o nosso: a bacia hidrográfica amazônica.

De fato, a estratégia da UEA em promover desde 2014 a participação de alunos e professores em competições nacionais e internacionais, como por exemplo, o Desafio Universitário de Nautimodelismo (DUNA), além de estimular o desenvolvimento das capacidades de trabalho em equipe e aplicação de conhecimentos teóricos aprendidos na sala de aula, busca-se formar um profissional competitivo (espírito esportivo) comprometido com o conhecimento e a inovação.

E os resultados vieram, e os prémios também.

A partir do projeto Jaraqui, o grupo de pesquisa, que contou inicialmente com 20 alunos da primeira turma de Engenharia Naval e 11 professores, em sua primeira competição, conquistou o 1º lugar na categoria Melhor Projeto e 3º lugar na classificação geral do II DUNA (2014), defendendo um protótipo made in Amazônia de classe rebocador com características de uma embarcação com grandes dimensões.

Imagino as cabeças de nossos alunos como ficaram a partir da troca de experiência com outros universitários e profissionais do mesmo ramo de atuação.

Em 2015, apostando em melhorias e inovações no projeto, a equipe participou com dois nautimodelos, sendo um desses consagrado campeão da competição, devido ao bom desempenho na maioria das provas (venceu quatro categorias das seis da competição).

Em 2016, mesmo com a competição se tornando internacional, o projeto amazonense obteve o 1º lugar na prova de barcaça e 4º lugar na classificação geral. E ganhamos o título de melhor equipe das regiões Norte e Nordeste.

Nas edições de 2017 e 2018, conquistamos, respectivamente, o 8º e o 2º lugares na classificação geral. Em 2019, com novos critérios no edital do Desafio Universitário, como a utilização de um monomotor, duração da bateria e provas em dupla, a Equipe da UEA competiu com duas novas embarcações, conquistando o honroso 1º lugar na classificação geral.

No presente ano, o curso de Engenharia Naval da UEA, em parceria com Universidade Federal do Pará e a Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi um dos vencedores (prêmio especial por abordar os desafios pandêmicos da Covid-19) de competição internacional promovida pela Worldwide Ferry Safety Association (WSFA), ficando na quarta colocação no ranking mundial, entre 12 Escolas de Engenharia Naval que participaram do evento.

“Foi a primeira vez que uma universidade da américa latina participa, alcançando uma excelente posição. O 8th Annual International Student Design Competition for a Safe, Affordable and Ferry teve como principal objetivo reunir ideias que promovessem a redução das fatalidades em balsas, expandindo em todo o mundo, o uso de embarcações seguras e acessíveis”, destacou o professor Sansone. 

Importante salientar que o trecho escolhido pela WFSA (Associação Americana de Ferry Boat) foi em comum acordo com a Coordenação de Engenharia Naval da UEA, Manaus-Tefé. Portanto, o projeto além de ter as condições de navegar mesmo durante uma pandemia, tem como inovação fazer esse trecho de viagem, que normalmente gasta 48 horas, em 20 horas, numa embarcação sustentável e economicamente viável, para as condições do trecho estudado.

Se você, caro leitor, ou leitora, tem afinidade e quer trabalhar com o tema, o curso de Engenharia Naval da UEA pode te oferecer uma grande oportunidade de ser feliz, profissionalmente.

Venha navegar conosco.

Daniel Nava

Pesquisador Doutor em Ciências Ambientais e Sustentabilidade da Amazônia do Grupo de Pesquisa Química Aplicada à Tecnologia da UEA, Analista Ambiental e Gerente de Recursos Hídricos do IPAAM
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