Como educar uma filha de 12 anos?

Em: 25 de fevereiro de 2022

Se você, leitor, tem filha e ela ou elas estão casadas, possuem filhas e filhos, que são seus netos,  possuem um bom emprego e são felizes, você sabe a resposta total, completa e abrangente.  Mas, não é fácil responder, para quem não tem a menor ideia de criar e educar uma menina. Tenho 63 anos e temos, eu e a patroa, uma menina de 12 anos, filha do coração. Claro que envidamos todos os esforços para prepará-la para a vida, com boa educação e boa escola. Princípios e valores familiares sustentam tudo isso. Tradição de bons costumes, também, é claro. E o eterno acompanhamento, sem tolher a criatividade. Enfim. Tenho netos, de filhos homens. Todos os meus filhos são adultos e estão na batalha da vida. Eu sempre pensei que essa experiência de pai, meu curriculum vitae e minha vivência a mais de 60 anos, fossem suficientes para me tornar um ente genial, invencível e totalmente independente. Ledo engano! Bem, tudo ia bem na nossa vida quando, há algumas semanas atrás, percebi um certo movimento diferente aqui em casa: a tia e a mãe para lá e para cá, cochichos aqui e ali, enfim ! Pensei comigo: coisa das madames e não vou me meter! Erro de percepção minha. De noite, me largaram a bomba: nossa filha havia menstruado aos 12 anos! Aquilo me caiu como um tiro! Sério mesmo. Fiquei alguns segundos mudo e calado. Calma, sei que são sinônimos, mas estou apenas reforçando a minha sensação naquela oportunidade. Depois de muitas horas de conversas, entre eu e a patroa, e entre a patroa e a filha, concluímos o óbvio: isso é natural e ela é sadia. Mas, essa conclusão em nada me aliviou a preocupação com a mudanças advindas na menina. Não que eu domine o assunto, por não ser especialista e ser homem. Mas, lá pelas três horas da manhã, acordei a patroa e fiz uma pergunta sobre um pensamento que tive: querida, agora ela pode engravidar? Claro que eu e a patroa espantamos o sono e ficamos divagando até amanhecer. Bem, ficou tudo a cargo da mãe cuidar de orientar a filha. Deixei bem claro a divisão dos deveres para criar a boa educação e refinar a orientação adequada.  A patroa transformou minha ideia em ordem. Pronto ! Assunto encerrado e a vida seguiu. Ainda mais quando a Ginecologista disse que isso não era motivo de preocupação. Passaram-se os dias e eu considerei o tema superado e me escondi na responsabilidade da mãe, pois defini que não tenho a menor competência para dar ideia e conselhos neste tema. Mas, como nada é tão ruim que não possa piorar muito mais ainda, há alguns dias, enquanto conferíamos as tarefas da escola, de noite, na mesa da sala, momento rotineiro e sem estresses, do nada, a minha filha solta a bomba atômica de zilhões de megatons: papai, com que idade eu posso namorar? Levei milênios, duas eternidades, para entender e assimilar a pergunta e a dúvida dela. Enfim, eu não respondi o que ela queria ouvir. Tentei sair pela tangente: fale com sua mãe, eu disse. Ela me devolveu a granada, na inocência do seus 12 anos, mas com a eficácia da dinamite: já falei com ela, pai, mas quero ouvir sua opinião. Acusei o golpe! Enfim, respirei e consultei meus neurônios e disse: minha filha, nós temos dois órgãos essenciais no nosso corpo. O cérebro, que nos diz o que é certo e o que é errado, e o coração, que nos diz o que gostamos ou o que não gostamos. A vida nos ensina qual escolher, e quando e de que jeito. Ela entendeu, penso eu. Mas, seguiu os conselhos da mãe. E me livrei do paredão de fuzilamento. Confirmei minha total incompetência neste assunto. 

Carlos Alberto da Silva

Coronel do Exército, na Reserva, professor universitário, graduado em Administração e mestre em Ciências Militares
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