Conto de Natal – Coragem para vencer os obstáculos

Em: 19 de dezembro de 2022

Quando Juliete chegou em casa, depois da aula, ela perguntou para a sua mãe, dona Natalina: — Mãe, o que é o Natal para a senhora? — Por que essa pergunta agora, filha? — É que a professora Carmen passou um trabalho sobre o Natal. — Juliete, minha filha, você sabe que eu não sou estudada. Logo, não sei como lhe ajudar. — Mãe, é a sua opinião sobre o Natal. Não precisa ser algo sofisticado. É o que a senhora sabe sobre o Natal. Dona Natalina, pensativa, respondeu para a filha:  — Está bem filha, sendo assim eu vou lhe ajudar. Pode ser o que eu aprendi com os meus pais? — Claro, mãe! Pode sim! – disse Julieta dando-lhe um beijo na bochecha rosada. Recomposta do gesto carinhoso da filha, dona Natalina começou: — Sabe filha – ela respirou fundo e continuou. Eu venho de uma família muito humilde. Lembro-me de uma vez, eu tinha de seis para sete anos, os meus pais mandaram fazer um bolo de aniversário e cantaram parabéns para mim, tudo muito simples. Os meus irmãos não gostaram e começaram a protestar, dizendo: — “Festa de aniversário, bolo.. tudo só para a Natalina”. Eu não entendia a revolta dos meus irmãos. — Também mãe, a senhora era muito pequena – disse Juliete limpando com um lenço branco o suor que escorrida da testa de sua mãe. — Filha, só anos mais tarde, quando eu me tornei adulta, que eu foi compreender tudo aquilo. Hoje eu tenho o coração tranquilo e vivo em paz. Os meus irmãos também. Vivemos numa boa. Conversamos sempre. Mas o único que estava sempre do meu lado, nessa época, era o seu tio Pascoal. Ele também era um dos “privilegiados” da família. Um dia, quando eu fui perguntar para o papai por que ele só comemorava o meu aniversário e o aniversário do meu irmão, ele me respondeu assim. — “Filha, você e seu irmão são privilegiados. Vocês nasceram nas duas datas mais importantes do Cristianismo: o Natal e a Páscoa. Daí você se chamar Natalina e o seu irmão Pascoal. Como vocês eram muitos, doze irmãos no total, nasceu um em cada mês do ano, nós não tínhamos condições de comemorar o aniversário de todos vocês. Foi então que o padre Thomas, o que batizou o Douglas, o teu irmão caçula, nos deu a seguinte sugestão: — Seu João, comemore o aniversário da Natalina e do Pascoal, assim vocês agradam todos os filhos, a Igreja e também o nosso Jesus Cristo. Aí, eu e a sua mãe, de comum acordo, acatamos essa ideia e passamos, a parti daquele ano, a comemorar apenas o seu aniversário e o aniversário do seu irmão”, – foi o que ele me explicou. — Filha, – continuou dona Natalina com lágrimas nos olhos -, os meus pais eram muito religiosos. Lembro-me que todo ano a minha mãe reunia a família e celebrávamos o Natal. Foi com ela que eu aprendi que o Natal é uma festa em família. Ela dizia: — “Quando vocês tiverem a família de vocês, nunca deixem o Natal passar em branco. Reúnam-se. Façam festa. O Natal é uma oportunidade que Deus nos dá para nos conectarmos com o Seu Filho e assim recarregarmos as energias para superamos os obstáculos da vida. Nosso Senhor Jesus Cristo está sempre disposto a ajudar quem Nele busca socorro. O que Jesus quer de cada um de nós é que nos amemos e nos respeitemos”. Filha, foi isso o que eu aprendi com os meus pais sobre o Natal. — Mãe, que história linda é a sua – disse Juliete com lágrimas nos olhos. — A senhora é uma mulher incrível, uma pessoa extraordinária, a minha heroína. — Você não vai escrever isso que eu lhe contei, vai? — Claro que sim, mãe! O mundo precisa conhecer a sua história de vida. A sua vida é incrível, vai servir de inspiração para muita gente. — Acho que não filha. A minha história é comum, igual a história de vida de milhões de brasileiros – respondeu preocupada dona Natalina. — Como eu lhe disse mamãe, esse é um trabalho pedagógico. — E o que é isso filha, “pedagógico”? – perguntou dona Natalina surpresa. — É para que os outros aprendam com a sua história de vida, mamãe! – respondeu Juliete emocionada. — Vixe filha, aí não tem nem dez por cento da minha história. — Agora pronto, a senhora já está se achando uma estrela! Quando Juliete acabou de pronunciar “a senhora já está se achando uma estrela”, dona Natalina caiu na gargalhada. — Quer dizer que agora eu sou professora? — A senhora sempre foi uma excelente professora. A senhora me ensinou a viver – e ficaram as duas abraçadas por um longo tempo. — Já chega, filha! Eu tenho mais é o que fazer – disse dona Natalina desvencilhando-se dos abraços da filha. — E eu também tenho que passar tudo isso a limpo – disse Juliete. — Alguém precisa trabalhar nessa casa. Deixa-me terminar de fazer o almoço. Daqui a pouco o seu pai chega do trabalho e ele vai querer almoçar — Mãe, a senhora sabia que a professora Carmem é muito exigente? — Geralmente os melhores professores são os mais exigentes! — Ela quer que a gente escreva à mão. Ela não aceita trabalho digitado, feito no computador. — Por que isso? — Ela diz que é para a gente ir treinando a nossa letra. — Então ela estar certíssima. — Na aula passada, ela disse que tem estudante que chega na faculdade sem saber escrever, sem saber pegar numa caneta; a maioria dos estudantes de hoje em dia só sabem digitar. Por isso ela exige que nós só façamos trabalhos escritos a mão. E a dona Natalina concluiu: — Bendita seja a professora Carmem! — Como é para o nosso bem e para o bem da educação no Brasil, vida longa a professora Carmem – disse Juliete. — Amém! Que assim seja! – concluiu dona Natalina. 

Luís Lemos

É filósofo, professor universitário e escritor, autor, entre outras obras, de "Filhos da Quarentena: A esperança de viver novamente", Editora Viseu, 2021.
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