O conceito de empreendedorismo vai muito além do que apenas ‘abrir o próprio negócio’. Para ser um empreendedor é necessário ser um agente de visão e de transformação. É preciso ter coragem, ousar, conhecer a realidade e identificar oportunidades, ameaças e tendências de mercado, com um olhar abrangente, capaz de gerar a criação de soluções inovadoras para as demandas, com habilidade de se antecipar aos problemas. A expressão ‘empreender’, inclusive, remonta o ano de 1725, usada pela primeira vez pelo economista irlandês Richard Cantillon para designar o “indivíduo que assumia riscos”. Nosso país tem veia empreendedora, mas ainda precisa desenvolver uma cultura que vá ao encontro desta tendência. Cerca de 70% dos brasileiros sonham em ter o próprio negócio. O SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) divulgou a pesquisa ‘Sobrevivência de Empresas’ (2020), realizada com base em dados da Receita Federal e com levantamento de campo, que mostrou que a taxa de mortalidade dessa área de negócios é de 29%. Já as microempresas têm taxa de 21,6% após cinco anos e as de pequeno porte, de 17%. O SEBRAE mostra que as micro e pequenas empresas correspondem a 99% dos estabelecimentos no Brasil. Enquanto a Revista Exame aponta que desse número, as que mais crescem são as que inovam.
O Brasil, apesar do grande capital intelectual que possui, ainda não é, de maneira geral, um ambiente atrativo e ideal para empreender. Legislações ultrapassadas, entraves burocráticos, questões logísticas e falta de incentivo e apoio estão entre os principais desafios que a nossa Nação precisa vencer para, verdadeiramente, se tornar um lugar que valoriza aqueles que ousam fazer diferente, que descobrem novas formas de executar ações e de solucionar dificuldades. As empresas de pequeno porte são as que encontram maiores dificuldades no Brasil. Tanto é assim que de acordo com o Sebrae, quanto menor o porte da empresa, mais difícil obter crédito para manter o capital de giro e conseguir superar obstáculos, como os causados pela pandemia de covid-19.
Agora, com o advento da tecnologia e suas vertentes nas mais diversas áreas, o empreendedorismo também está em uma nova fase conhecida como Empreendedorismo 4.0. Uma das mais marcantes características dessa vertente é a possibilidade de empreender usando a tecnologia como mote principal de ação. Porém, não é somente o uso de tecnologia pura e simplesmente, mas sim o uso de inovações relacionadas à indústria 4.0. É certo que diversas empresas já utilizam novas tecnologias no seu dia a dia, mas, ainda assim, isso não se caracteriza como empreendedorismo 4.0. Para ser configurada nesta categoria é primordial que as empresas utilizem inovações tecnológicas, como por exemplo, a internet das coisas (conjunto de diferentes tecnologias para realizar tarefas com o mínimo de intervenção manual. Por exemplo, uma máquina pode ser combinada com outra para acelerar a linha de produção); o big data (a análise e armazenamento de dados de uma empresa. A quantidade de informações associadas ao Big Data é tão grande que apenas as máquinas conseguem processá-la); a robótica (se refere à automatização, com máquinas que realizam tarefas sem intervenção humana. Com isso, é possível automatizar diversas atividades, economizando custos e aumentando a eficiência); a inteligência artificial (permite que sistemas simulem uma inteligência similar à humana, indo além da programação de ordens específicas para tomar decisões de maneira autônoma, baseadas em padrões de enormes bancos de dados), dentre outros. O objetivo é facilitar os processos de gestão e buscar maior eficiência, eficácia e efetividade.
É fato também que diversas empresas e startups têm a sustentabilidade como produto final ou como filosofia de trabalho e de meios de produção. E neste âmbito, a tecnologia oriunda do empreendedorismo 4.0 vem ser uma grande aliada, uma vez que com a adoção de iniciativas tecnológicas, a incidência de desperdício tende a ser reduzida consideravelmente. Tem-se ainda o fato de que ser sustentável traz às empresas uma boa imagem junto ao mercado e à sociedade em geral, no que tange ao seu dever na responsabilidade social.
Ou seja, é necessário que o Brasil esteja preparado para o novo momento que experimenta as maiores e mais exitosas empresas e empreendimentos na atualidade. Qualificação, políticas públicas de reindustrialização e incentivos para abertura e manutenção de novos negócios estão entre as ações necessárias para que nossa nação esteja plenamente apta para estar inserida neste novo momento da realidade empresarial e industrial do Planeta.