Assegurado no artigo anterior, ora se dá feição conclusiva ao tema, ainda que deixando escapar numerosas passagens do que restaria a ser dito, reconheça-se. Paciência, é que de outro modo seria um nunca acabar, eis que passaria a ser boletim, ao invés de crônica política, argumento quem sabe convincente. Segue, a desativação da fábrica da Fafen-PR, mostrou-se numa das principais pautas de reivindicações da greve dos petroleiros em fevereiro de 2020, mas a demissão de 396 empregados deteve-se por impedimento na Justiça. Sabe-se, a grei dos petroleiros em greve realizada pela FUP e sindicatos, incluindo o Sindipetro-AM contou com a adesão de 20 mil trabalhadores de 113 unidades do Sistema Petrobrás.
A política de sua privatização, apontada pela FUP e sindicatos, vem sendo acelerada. É o que proclama o governo Federal dizendo que a pandemia do Covid-19 teria causado impactos negativos na estatal. Em contradição às justificativas de endividamento restou divulgado como sendo a empresa do gênero com maior lucro no país, visto um resultado recorde de R$ 40 bilhões em 2019. Para a categoria petroleira o alegado endividamento é apenas um discurso falso para acelerar a venda de ativos. Não é mesmo o que parece?
Tudo remete bem ao que de certa feita, aqui nesta estação de escritos semanais, anotou-se a inspiração “o cronista é um filtro de tudo o que vemos”, lavra de Ignácio Loyola Brandão, romancista, escritor, membro da Academia Brasileira de Letras e longevo colunista de vários jornais, a exemplo do Estado de São Paulo. De fato, escreve-se sobre o que se colhe escrutinado do cotidiano, com o cuidado de apurar o que se pode oferecer de veracidade, sem sonegar os pontos de vista contrários e minudências outras por vezes presentes. Assim deve ser!
É o desenho que cerca a Petrobras e ao que se rotula como Figurantes, o que, aliás, lembra-nos de voltar ao ponto interrompido no texto imediatamente anterior, quando se anunciou o pronunciamento do executivo Pedro Parente que se afastou do comando da estatal, não sem antes vociferar algumas poucas e boas, postas a seguir, a propósito.
Em linhas gravadas no aludido texto, bem se estampou o relato de todo o sucesso promovido pelo ora demissionário em prol da companhia. Ao afastar-se, o executivo colocando o cargo à disposição – um eufemismo – disse com clareza que “não seria cúmplice de uma política que arruinaria o esforço de reequilibrar as finanças da empresa.” (Ao fundo, a batucada adjetiva do samba do crioulo doido. Não seria melhor se fossem os acordes do “ouviram do Ipiranga?”)
Naquela altura argumentou o então gestor “que o preço do petróleo está em alta nos mercados internacionais e, dessa maneira, os combustíveis precisam ser reajustados”. De fato era o que se dava na Europa e nos Estados Unidos, enquanto no Brasil ainda perdurava o peso do impacto adicional da desvalorização cambial. Já na visão fascinada de Parente, forçoso seria de se levar em conta o peso da tributação. Nesse contexto, a carga já era alta.
O governo, não bastasse, diante da busca para aumentar a arrecadação, ainda assim anunciou uma elevação das alíquotas referentes ao Programa de Integração Social (PIS) e à Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins), face as vendas da gasolina, diesel e etanol.
Portanto, mais do que intuindo, aquele gestor racionalizou que diminuir os impostos abriria o caminho para amenizar os reajustes de preços, mas sem prejudicar a rentabilidade da estatal. Mas, olha só(!), isso resultou numa retaliação entre a visão liberal de Parente e os reclamos dos caminhoneiros. Um manifesto embate de interesses! Não?
O Governo, então, encontrou a solução para preservar a autonomia da Petrobras, e ao mesmo tempo reduzir o valor do diesel, cujo preço deveria cair ao menos 46 centavos na bomba, e até o fim do governo não subiria muito mais que isso, manobra bancada pelo alívio nos impostos, mas também subsidiada pelo Tesouro, leia-se contribuintes, ora, ora.
Tomada de grandeza, potável em alguns pontos, noutros não, a Petrobras quando fonte saudável sempre mostra uma dimensão colossal, mundialmente rara, passagem que bem lembra a opção neoliberal como posto acolá. Quer dizer: privatizar ou não? Trata-se de um tema deslizante. Economistas de peso mostraram-se em defesa da privatização e plena abertura à concorrência, o que poderia livrar a empresa da ingerência política, nisso eliminando a dependência nacional em sua direção. Sucede, pesquisas ainda que nada recentes apontaram um algarismo de 55% de eleitores a rejeitar a privatização e número ainda maior, 74%, que se opuseram à sua venda a grupos estrangeiros, enquanto 30% aceitariam privatizar a estatal. Já 17% inclinavam-se pela transferência a controladores internacionais.
De certa feita, o consultor Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura assinou: “A população precisa decidir se prefere que o governo dê subsídio para a gasolina e o diesel ou direcione mais recursos para investir em saúde, educação e segurança pública.” Nada mais…