Pode parecer banal, mas não é. Pode até ser comum, mas não é normal nem aceitável. O Amazonas está dentre os quatro estados com maior proporção de pobres no país e o segundo com mais pessoas na situação de extrema pobreza. Apenas o Maranhão supera nosso estado em proporção de população vivendo em condições de miséria.
Esses indicadores foram aferidos por estudos da FGV – Fundação Getúlio Vargas, que identificaram que praticamente metade da população do nosso estado (49,7%) – cerca de 2.122.000 pessoas- é composta por pessoas pobres. Pior ainda, aproximadamente 500.000 pessoas se encontram abaixo da linha de pobreza, segundo os indicadores sociais do IBGE- Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Estes nossos conterrâneos sobrevivem com menos de R$ 155, oo reais por mês. Trata-se de 12,4% da população amazonense sobrevivendo em estado de absoluta miséria!
Em contraponto, apresento o contraste entre os indicadores de produção econômica do Amazonas, muito mais satisfatórios quanto ao PIB – Produto Interno Bruto e ao PIB per capita diante dos péssimos indicadores sociais acima relatados. Assim, nosso PIB, pelos cálculos da equipe técnica da SEDECTI – Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia, foi de R$ 108,18 bilhões em 2019, o 15.o dentre os 26 estados e o Distrito Federal. E o PIB per capita amazonense (a divisão da produção econômica pelo quantitativo populacional) atingiu R$ 21.978,95, o maior da macrorregião Norte-Nordeste.
Como se explica que um estado relativamente próspero do ponto de vista econômico, principalmente por conta do nosso Polo Industrial Incentivado, possui metade da população vivendo em situação de pobreza e com mais de 500.000 pessoas na miséria? Se compararmos a economia do Amazonas, com base nos indicadores da indústria, comércio e mineração, como explicar os acreanos vivendo, em média, com um poder aquisitivo e qualidade de vida superiores aos dos amazonenses? Sem falar do Pará, Roraima, Rondônia, Amapá…
Nosso estado é o segundo mais desigual do Brasil, tendo apenas o Maranhão à nossa frente, neste vergonhoso – para os amazonenses – painel de indicadores socioeconômicos. Ou seja, um estado em que a diferença de renda entre os mais aquinhoados e os menos favorecidos é abissal. Dessa forma, parece compreensível que os índices de violência só tenham crescido no nosso estado, com mais um vergonhoso dado: o Amazonas foi o local do Brasil onde mais aumentou, desde 2021, o número de assassinatos no país, com triste referencial de destaque para os latrocínios, os feminicídios e os óbitos de jovens.
Outro indicador econômico que pode ser considerado favorável para o Amazonas, o de receita pública orçamentária, nos remete à falta de efetividade de boas políticas públicas no nosso estado. Na comparação com o Pará, o Amazonas apresenta uma receita prevista para 2022 de R$ 24 bilhões de reais, para uma população de 3.874.000 enquanto nosso estado vizinho uma receita de R$ 33,3 bilhões de reais para uma população 8.074.000 de pessoas. Se dividirmos os recursos que cada uma das duas unidades da federação deve dispor- no mínimo – para a execução de suas despesas públicas, o Amazonas dispõe de R$ 6.195,oo por habitante e o Pará apenas R$ 3.880,72.
Como explicar este desencontro paradoxal entre os indicadores econômicos, financeiros e orçamentários do nosso grande estado do Amazonas e sua calamitosa situação social, com tanta gente na pobreza e na miséria, numa situação de enorme desigualdade social, a segunda pior do Brasil?!
Há décadas venho clamando contra a precariedade de planejamento e a descontinuidade de projetos e políticas públicas importantes no nosso estado. O imediatismo de viés eleitoreiro, o paternalismo e o clientelismo, além da corrupção e da falta de foco nos verdadeiros interesses coletivos tem aprisionado nosso rico Amazonas na pobreza de ideias e de ações transformadoras dos governantes e suas ações – ou omissões.
Mas não desisti de acreditar e de ter esperança.