Testes e retestes de conceitos

Em: 10 de janeiro de 2025

Um conceito pode ser definido como uma ideia ou proposta de solução de algum problema ou suprimento de alguma necessidade. Sob o ponto de vista da engenharia de produtos, essa ideia pode se referir a qualquer bem material (como os produtos e as tecnologias), um serviço ou um processo. Os bens materiais são artefatos físicos, enquanto os processos são sequências lógicas de atividades que culminam com o alcance de algum objetivo desejado pelos seus públicos-alvos. Os serviços têm a estrutura finalística dos processos, mas são executados com o consumo de produtos específicos. Deixando essas complicações de lado, pode-se tomar o conceito de uma tecnologia como uma proposta de solução de problema ou suprimento de necessidade. Como consequência, os testes do conceito podem ser tomados como pesquisas de avaliação para se aferir o grau de consonância entre a ideia que se quer apresentar e o que o público-alvo espera. Os retestes do conceito, por seu turno, dizem respeito a novas pesquisas para a aferição da consonância entre o ofertado e o demandado, feitos após a reprovação do conceito inicial. Os retestes precisam ser refeitos todas as vezes que uma nova versão do conceito seja finalizada, de forma que a cada alteração no conceito, novo reteste precisa ser executado, até que a consonância necessária seja alcançada.
Por que são necessários os testes de conceito? Por diversas razões, que podem ser sintetizadas na redução das chances de erros sobre a futura tecnologia e a consequente diminuição das probabilidades de perdas financeiras e outros ativos. Os cientistas têm a convicção de que não são perfeitos e que, por essa convicção, são passíveis de erros e falhas. A finalidade dos testes e retestes dos produtos e tecnologias é garantir que aquilo que a equipe de inovação tecnológica pensa está de acordo com o que os indivíduos e organizações que vão utilizá-la precisam. Os cientistas, por exemplo, podem imaginar que a melhor tecnologia para sustentar um fogão elétrico seja o uso de plasma, mas o público-alvo, devido a influências culturais, desejam e valorizam os fogões que queimam gás natural. Se os cientistas resolvessem desenvolver o produto sem consultar o público-alvo (o que é feito através das pesquisas de conceito), as chances de fracasso seriam muito grandes, o que redundariam na perda de dinheiro, tempo, reputação e por aí vai. Além disso, os testes de conceito dão sinais fundamentais para a própria estruturação das tecnologias, como veremos mais tarde.
Os testes e retestes de conceitos são pesquisas. Isso quer dizer que precisam garantir validade e fidedignidade nos seus resultados. A validade diz respeito ao uso de instrumentos de pesquisas capazes de gerar dados e resultados que expressem a realidade com uma margem de erro máxima admitida. Se forem utilizados questionários, eles devem ser validados; se usarem pesquisas análise de patentes, o protocolo da investigação precisa ter validade; se forem feitas entrevistas, o roteiro também precisa ser validado. A fidedignidade diz respeito à capacidade de os instrumentos de coleta de dados gerarem resultados sempre da mesma forma. Se forem utilizados termômetros, por exemplo, a forma de medir a temperatura não deve variar além do máximo admitido. Não pode acontecer de o resultado apresentar 35 graus positivos e logo em seguida mudar para doze graus negativos sem qualquer alteração nas variáveis ambientais e de controle. Finalmente, nunca se deve esquecer das margens de erro. Se não houver erro, não poderá haver validade e nem fidedignidade. Pesquisas de levantamento, por exemplo, admitem margem de erro máxima de 5%.
Os testes e retestes de conceitos precisam ser feitos pelo menos antes de se começarem os esforços e investimentos na tecnologia. O público-alvo vai definir a sua aceitação e os requisitos que a tecnologia deve apresentar para que possa ser demandada, o que significa estar em consonância com o que dela é esperado. Os atributos da consonância é que vão orientar as ações de planejamento executivo da tecnologia. Por analogia, o conceito é como um projeto arquitetônico, em que os aspectos mais salientes da edificação são apresentados, como o número de pavimentos, a localização, o número de cômodos, os principais materiais que serão utilizados e assim por diante. O projeto executivo é como aquela visão arquitetônica vai ser feita e entregue, o que implica em custos, tempo de produção, licenciamentos e inúmeros outros aspectos que não aparecem no projeto arquitetônico. Por essas e outras razões mais técnicas, depois que o conceito estiver materializado, é necessário que sejam feitos novos testes e retestes para que se possa aferir novamente a consonância do que e como ele vai entregar com as necessidades do público-alvo e sua capacidade de demanda. Afinal, pode acontecer de a tecnologia prototipada ser exatamente o que os indivíduos e organizações desejam, mas seus custos de aquisição e manutenção, prazos de validade e periculosidade impeçam seu público-alvo de adquiri-la, o que representa possível fracasso mercadológico e que vai exigir novos testes e retestes para que a consonância seja alcançada.
Não é difícil de se compreender o porquê de os testes e retestes de conceitos deverem ser feitos com todas as exigências das pesquisas científicas. Os investimentos em tecnologias muitas vezes envolvem investimentos muito grandes, na casa dos milhões de reais ou de dólares. E como não existe tecnologia ou qualquer solução que não consuma recursos, alguém vai ter que pagar a conta, de forma que é extremamente arriscado iniciar o processo de geração tecnológica sem que se tenha a garantia de que ela vai trazer os investimentos de volta e entregar os benefícios que seu público-alvo possa pagar.
Os testes e retestes de conceitos mostram que uma ideia é a primeira coisa a ser vendida. Dita de outra maneira, a apresentação de uma solução para algum problema ou o suprimento de alguma necessidade começa sempre com uma ideia, uma imagem feita com palavras. Um conceito é apenas uma ideia, apresentado com palavras e imagens.

Daniel Nascimento

É Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)
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