Pode até parecer esquisito, mas os testes sensoriais estão se tornando cada vez mais essenciais durante o processo de prototipagem e, consequentemente, na consideração de uma tecnologia finalizada, pronta para ser transferida. A esquisitice é decorrente do fato de que os sentidos, aparentemente, nada têm a ver com artefatos físicos ou extrafísicos que constituem praticamente todas as tecnologias. Muita gente pode até argumentar, com razão, que os testes sensoriais deveriam abarcar apenas os produtos alimentícios e as tecnologias alimentares, mas preste atenção neste caso. Certa vez, uma tecnologia percorreu todas as etapas de prototipagem com todos os testes e retestes tradicionais, o que significa que deixou de lado os testes sensoriais. Quando foi transferida, em pouco tempo os seus operadores começaram a ter sintomas asmáticos, como se alguma coisa lhes estivesse provocando asfixia. Foram submetidos a todos os tipos de exames, sem que se detectasse a causa do problema. Um certo dia, em visita a uma organização que adquirira a tecnologia, um dos diretores passou mal, com ataque de asma, quase sempre decorrente da presença de determinada substância química invisível. Desconfiaram da tecnologia, dado que apenas ela havia naquele ambiente, além das mesas dos operadores. Constatou-se que a tecnologia emitia aquela substância, que também provocou asma nos operadores de outras organizações usuárias do equipamento. O insumo foi substituído e a tecnologia passou a operar sem problemas.
Quando se fala em sentidos ou dimensão sensorial, geralmente as pessoas trazem à mente as ideias de sabor, aroma, textura, cor e aparência, correspondentes aos sentidos de paladar, olfato, tato, audição e visão. Em primeiro lugar, essa é uma imagem adequada dos sentidos, mas é incompleta porque há muitas coisas reais que não se pode ver, sentir, tocar, saborear ou cheirar. Tome-se o caso do gás metano, que não tem cor e nem cheiro, assim como o gás hélio, mas que podem apresentar riscos à saúde em determinados ambientes e concentrações. Em segundo lugar, não é apenas em relação aos riscos que os testes sensoriais devem ser realizados, mas principalmente porque os sentidos muitas vezes são determinantes na aceitação ou tomada de decisão acerca da escolha de determinadas tecnologias. Um equipamento mais agradável aos olhos e ao tato é geralmente o mais preferido em relação a um concorrente de mal aspecto e asqueroso. Dessa forma, os testes sensoriais devem focar essas duas dimensões: os riscos associados à tecnologia e seus componentes e à contemplação visual agradável aos clientes.
De forma geral, os testes sensoriais podem ser agrupados em três tipos: discriminativos, descritivos e afetivos. Os testes sensoriais discriminativos têm como finalidade testar e detectar diferenças significativas entre amostras da mesma tecnologia ou tipos de protótipos diferentes. Quando esses testes aferem apenas a presença ou ausência de diferenças, são chamados de simples ou qualitativos. A qualidade é a ausência ou a presença. Por outro lado, quando os testes querem medir a intensidade da diferença, são chamados de quantitativos ou direcionais. Exemplos de testes simples são o teste triangular, duo-trio e comparação múltipla, dentre outros; exemplos de testes direcionais são a comparação pareada e os testes de ordenação.
Os testes sensoriais descritivos têm duplo desafio: descrever e quantificar a intensidade de determinado ou vários atributos sensoriais. Enquanto os testes discriminativos são geralmente realizados com pessoas que fazem parte do público-alvo da tecnologia ou do produto, os descritivos são direcionados para especialistas, pessoas altamente treinadas para fazer a aferição como é o caso da necessidade da descrição e quantificação de determinado gás que provoca riscos à visão dos operadores de certa tecnologia ou produto. Alguns tipos desses testes são os de perfis de sabor e textura, análise descritiva quantitativa e o de tempo-intensidade, dentre outros. Os testes afetivos focam a preferência ou aceitação de determinados aspectos da tecnologia. Se preferem cores neutras ou mais chamativas, se o material da empunhadura e manuseio deve ser mais macio ou tenha mais atrito, são exemplos de desafios desses testes que tocam a afeição das pessoas. Os tipos mais comuns de testes afetivos são o de aceitação, ordenação-preferência e comparação pareada.
Mais recentemente, contudo, a tecnologia da informação e comunicação vem adentrado com bastante intensidade o campo dos testes sensoriais de produtos e tecnologias através do que está sendo chamado de realidade sensorial. O grande desafio da realidade sensorial é simular e replicar os sentidos humanos através de três campos: realidade virtual, realidade virtual e experiência digital. Os recursos atualmente disponíveis permitem o estímulo digital humano para perceber odores, tatos e sabores apenas digitalmente, sem a presença física da tecnologia, produto ou protótipo. O que sustenta a realidade sensorial são: a) sistemas hápticos para criar sensações táteis avançadas; 2) simulação olfativa digital, para liberar odores mediante estímulos da visão; 3) interfaces gustativas eletrônicas, para simular sabores na língua; 4) tecnologias de audição 3D, para criar ambientes hiper-realistas; e 5) realidade virtual aprimorada, através de imagens e hologramas que imitam com muita proximidade a realidade.
Os testes sensoriais podem ser tomados como a garantia de que a tecnologia ou produto que se pretende criar não dá conta apenas da entrega dos benefícios prometidos. A ciência e as metodologias de criação tecnológica estão adentrando cada vez mais as dimensões sensórias e afetivas humanas par dar conta de dois desafios. O primeiro é a garantia de que a tecnologia gerada e transferida aos clientes não apresentam riscos consideráveis, tanto para a saúde quanto para outros aspectos considerados importantes na sua operação, assim como atendem às dimensões afetivas, subjetivas do processo de escolha e decisão acerca de que tecnologia ou produto vai ser preferido e qual vai ser preterido. De uma forma geral, o objetivo é fundir benefícios com afetividade, de forma que se possa fidelizar os clientes e transformá-los em defensores da sua tecnologia preferida.
