Bosco Saraiva: “a bioeconomia é o futuro do Estado”

Em: 27 de fevereiro de 2024

Em entrevista ao Jornal do Commercio, o superintendente da Suframa, Bosco Saraiva, destaca vitórias no seu primeiro ano à frente da autarquia, com destaque para reconstrução de diálogos com os diversos entes que participam do desenvolvimento regional da Amazônia. 

Saraiva também reforçou o ânimo positivo que tem visto entre empresários e trabalhadores no Polo Industrial de Manaus nas rotineiras visitas que tem feito ao chão das fábricas. “Percebo otimismo, expectativas positivas em relação a novos investimentos e  aumento da produção”, acrescentou.

O superintendente também enfatizou a importância da bioeconomia para o Amazonas e a conquista da personalidade jurídica para o Centro de Bionegócios da Amazônia (CBA) depois de 20 anos. “Não se trata de um esforço novo, mas é inegável o quanto essa discussão avançou em qualidade e profundidade nos últimos tempos”, disse. 

A seguir você acompanha a íntegra da entrevista: 

Fred Novaes

Insta: @fred_novaess   Face: @jcommercio

Jornal do Commercio –  A Suframa completa 57 anos de criação e o senhor um ano à frente da autarquia. O que o senhor destaca neste primeiro ano de gestão? 

Bosco Saraiva – Costumo dizer que foi um ano muito desafiador, mas muito vitorioso. Aceitei a tarefa de estar à frente da gestão da Suframa  justamente em um momento de reconstruir o diálogo com os atores interessados na efetividade dessa política pública. Nesse sentido, posso afirmar que avançamos a um ponto que nos permitiu garantir as condições de competitividade da Zona Franca de Manaus em meio aos embates das discussões da reforma tributária, algo que já esteve longe do imaginável há algum tempo.

JC – Percebe-se uma mudança na sua gestão em relação aos estados da área de abrangência da Suframa. Por que essa mudança?

BS – Esse foi um ponto fundamental e que foi estabelecido desde o início da gestão: integrar os Estados da área de atuação da Suframa, e não temos economizado esforços nesse sentido. Foi por esta razão que, logo no início desta administração, elaboramos e colocamos em execução o Plano de Interiorização e Regionalização do Desenvolvimento – uma iniciativa que busca difundir os instrumentos tributários, financeiros e de pesquisa disponibilizado pela Suframa e seus parceiros, sobretudo o BASA  e a SUDAM, que visam o desenvolvimento da região.

JC – Por que continua sendo difícil expandir o desenvolvimento regional para o interior do Estado?

BS – Acredito que o desnivelamento do desenvolvimento interregional e intrarregional está muito relacionado à necessidade de  superação de desafios amazônicos históricos, que se refletem de maneira mais proeminente no interior do Amazonas, e da Amazônia de forma geral: o isolamento geográfico, as dificuldades de  escoamento da produção, assistência técnica, sazonalidade, capacidade de agregar valor, dentre outros. De todo modo, acredito de forma veemente na potencialidade da produção das cidades amazônicas baseada em nossos bioativos, integrados à produção industrial, com base em soluções ancoradas em Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação.

JC – A Suframa foi criada para impulsionar o desenvolvimento na região. O senhor considera que a missão está sendo alcançada?  

BS – Sim, acredito. Creio que a criação de um centro comercial, industrial e agropecuário no centro da Amazônia é um fator importante e tem gerado resultados relevantes para impulsionar o desenvolvimento da região, mas deve ser considerado sempre como uma parte de uma  estratégia maior, já que a Amazônia é complexa e heterogênea, que precisa de soluções múltiplas e investimentos vultosos para seu desenvolvimento.

JC – O senhor tem realizado diversas visitas às fábricas do PIM. O que o senhor pôde perceber no chão das fábricas?

BS – Percebo otimismo, expectativas positivas em relação a novos investimentos e  aumento da produção. Estamos vivenciando um cenário favorável ao aumento dos investimentos produtivos e de incremento do consumo de nossos produtos: lançamento de uma nova política industrial no Brasil, continuidade da tendência de redução das taxas básicas de juros da economia, redução da taxa do desemprego e do endividamento das famílias. Os fatores estão convergindo para um bom momento da Zona Franca de Manaus, ao meu ver.

JC – A bioeconomia vai deslanchar no Amazonas? O que a Suframa está fazendo para apoiar os bionegócios? 

BS – A bioeconomia e, portanto, a bioindústria é um caminho natural, e que orienta as diretrizes do Governo Federal para o futuro da economia do nosso Estado. Não se trata de um esforço novo, mas é inegável o quanto essa discussão avançou em qualidade e profundidade nos últimos tempos. Nesse sentido, a Suframa, na função  de  subsidiar tecnicamente o Comitê das Atividades de de Pesquisa e Desenvolvimento na Amazônia – o CAPDA, que também estabelece programas prioritários aptos a receberem parcela dos recursos destinados a atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I), oriundos de investimentos realizados pelas empresas de desenvolvimento ou produção de bens e serviços de informática que fizeram jus a benefícios fiscais da Zona Franca de Manaus, propôs a criação do Programa de Bioeconomia, o qual está ativo, é um dos mais proeminentes e está desenvolvendo diversos projetos nessa área. Também, destaco a autonomia do Centro de Bionegócios da Amazônia, alcançado em 2023, após mais de 20 anos de um impasse que foi, finalmente, superado. Essa definição jurídica tem um potencial promissor de transformar o cenário  da bioeconomia na Amazônia nos próximos anos.

JC – A questão ambiental segue no radar da Suframa? 

BS – A questão ambiental é um fator indissociavel da razão de continuidade da Zona Franca de Manaus. Embora não tenha sido uma questão que tivesse motivado sua criação, a taxa de manutenção da cobertura florestal nativa do Estado do Amazonas está altamente associada a essa alternativa econômica de produção de bens industrializados com alta agregação de valor e intensidade tecnológica na cidade de Manaus. Também, essa foi uma questão norteadora nas proposições feitas pela Suframa para a regulamentação da industrialização incentivada nas áreas de livre comércio presentes na Amazônia Ocidental e em Macapá e Santana, no Amapá, baseada na utilização preponderante e responsável de matéria-prima regional.

JC – Depois de um período crítico, a utilização de mão de obra parece alcançar um nível de estabilidade no PIM. O senhor acredita numa evolução neste quesito? 

BS – Registramos, em 2033, 112,5 mil postos de trabalho ocupados nas fábricas do Polo Industrial de Manaus. Trata-se do melhor resultado desde o ano de 2014, e não é um resultado trivial. Além disso, registramos também, em 2023, a aprovação de 160 projetos industriais e 13 agropecuários, cuja estimativa é de R$ 4 bilhões em investimentos produtivos e mais de 5 mil novos postos de trabalho. Nesta primeira reunião do Conselho de Administração da Suframa, em alusão aos 57 anos da Suframa, serão mais 33 projetos submetidos à aprovação do Colegiado, que preveem investimentos na ordem de R$ 1,2 bilhão e 1.084 novos empregos. É um cenário promissor que me faz acreditar em uma expansão das vagas em nossas indústrias nos próximos anos.

JC – O senhor acredita ser possível a evolução das obras da Br-319? Qual a importância dessa medida para a logística regional?

BS – Sim, acredito. Reconheço que a viabilização do asfaltamento de todos os trechos da BR-319 envolve a discussão de temas complexos, mas para os quais sei que há alternativas e soluções viáveis. Esse tema precisa ser enfrentado e ganhou relevância em virtude da forte estiagem que comprometeu o suprimento de insumos e mercadorias e o escoamento da produção em 2023, e com a qual, possivelmente, voltaremos a nos deparar em 2024. Precisamos, definitivamente, de soluções logísticas para o Estado do Amazonas e a trafegabilidade da BR-319 é uma das mais importantes neste momento.

Fred Novaes

É jornalista
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