Concessionárias do Amazonas vendem mais carros e menos motos em junho

Em: 8 de agosto de 2023

As vendas das concessionárias amazonenses de veículos zero retomaram alta em julho. Mas, sob os efeitos dos incentivos federais das MPs 1.175/2023 e 1.178/2023, o crescimento ficou quase restrito a automóveis e comerciais leves, em detrimento das motocicletas. Os números globais somaram 6.102 emplacamentos, 3,30% a menos do que em junho (6.310) – que teve um dia útil a mais. O confronto com o dado de 12 meses atrás (5.380), contudo, indicou incremento de 13,42%. Com isso, o acumulado do ano foi reforçado em 18,65%, passando de 35.351 (2022) para 41.945 (2023) unidades.

Os números são da Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores), que se amparou nos emplacamentos do Renavam (Registro Nacional de Veículos Automotores) e levou em conta todos os tipos de veículos – incluindo automóveis, comerciais leves, caminhões, ônibus e motocicletas. Vale notar que os dados locais devem ser levados também sob a perspectiva do transit time (tempo de trânsito) entre faturamento e emplacamento, um hiato que pode durar 30 dias, em virtude da logística de translado entre as fábricas do Centro-Sul e as concessionárias no Estado.

A média nacional apresentou números ainda mais robustos. Julho registrou o licenciamento de 367.191 veículos, configurando uma elevação de 5,37 frente ao mês anterior (348.481). O saldo veio 19,34% mais elevado do que o de julho do ano passado (307.677). Em sete meses, as vendas expandiram 14,79%, totalizando 2.248.555 licenciamentos. Em comunicado à imprensa, a Fenabrave atribui o resultado aos “descontos patrocinados pelo governo” e assinalou que as vendas de automóveis e comerciais leves retomaram o patamar pré-pandemia. Ainda assim, diante das incertezas do mercado, a entidade manteve sua projeção de crescimento de 3,3% para 2023.

Automóveis x motocicletas

Em julho, quatro das sete categorias listadas pela Fenabrave tiveram expansão de vendas no Amazonas, na variação mensal. O melhor desempenho veio do segmento minoritário de ônibus, que escalou 207,69%, com apenas 40 unidades comercializadas. Os outros destaques positivos vieram de “outros veículos”, como tratores, máquinas agrícolas e carretas (+38,24% e 47), comerciais leves (+6,98% e 644) e automóveis (+6,35% e 1.625). Em contraste, implementos rodoviários (-70,83% e 7), caminhões (-20,65% e 73) e motocicletas (-8,74% e 3.666) amargaram quedas.

O número de categorias com expansão de vendas foi menor na comparação com o mesmo mês do ano passado, limitando-se a ônibus (+29,03%), motocicletas (+26,76%) e comerciais leves (+9,15%). Os mesmos segmentos aparecem com volume comercializado no azul, no aglutinado de janeiro a julho, com altas respectivas de 1,60% (191), 27,16% (27.009) e 5,92% (3.756). O rol inclui ainda os automóveis (+7,81% e 10.067).

A despeito do tropeço nas vendas, as motocicletas voltaram a aumentar a diferença em relação aos veículos de quatro rodas no ranking das categorias veiculares mais comercializadas no Amazonas. A participação das motos no bolo de vendas do Amazonas continuou predominante, avançando de 60,09% (2022) para 64,39% (2023), no comparativo do acumulado do ano. Em sentido contrário, a soma dos automóveis e comerciais leves voltou a reduzir sua fatia na mesma comparação, com 32,96% (2023) contra 36,45% (2022).

Gargalo na inadimplência

Em entrevistas recentes à reportagem do Jornal do Commercio, o gerente regional de Seminovos do Grupo Revemar, Rubem Lima, disse que os primeiros meses do ano foram de vendas “acima do esperado”, mas apenas para sua linha de carros usados. “O problema não é de demanda, mas de inadimplência. O crédito está muito difícil e só costuma sair para o cliente com perfil AA, com as dívidas em dia e renda adequada”, mencionou.

O executivo destacou também que o panorama melhorou para os carros zero, graças aos incentivos. “Tivemos bastante procura. Isso ajudou e houve até ‘redução’ de juros. Porém, a inadimplência continua muito alta, e faz muitos financiamentos serem recusados. Nossas expectativas são boas, temos de ser otimistas. Teremos uma ‘ressaca’ desse incentivo, até o final do ano e a estratégia será chamar atenção do consumidor para isso, uma vez que os descontos dados agora não são do governo, mas das montadoras”, avaliou.

Também em entrevistas anteriores, o gerente geral da Cometa Motocenter, Agno da Silva Montalvão, explicou que o mercado local de motos veio de um boom de vendas desde 2022, puxado pelos segmentos de delivery e locação de veículos, e que “o problema das filas” para adquirir o produto melhorou, principalmente nos até 160 cilindradas. 

O executivo, no entanto, informou que a alta de 9% atingida no acumulado do ano ficou abaixo do esperado. “O resultado se deve à restrição de crédito. O apetite de compra das pessoas não caiu, porém muitos estão negativados. Para o segundo semestre, as expectativas são ótimas, pois a taxa de juros deve cair e o governo está com ações para limpar nomes [o programa Desenrola]. E a fábrica está com a promessa de produzir mais motos. Então, esperamos crescer em torno de 15% neste segundo semestre”, afiançou.

“Aquecimento momentâneo”

Em texto divulgado à imprensa, o presidente da Fenabrave, José Maurício Andreta Jr, atribuiu o desempenho de julho aos incentivos das MPs 1175/2023 e 1178/2023. Ao todo, as Medidas Provisórias destinaram R$ 1,8 bilhão em descontos tributários nas transações de veículos “mais sustentáveis”. No entendimento do dirigente, o governo também saiu ganhando, já que o aumento das vendas inflou a arrecadação.

“Isso vale para o governo federal e mais ainda para os estaduais, que não concederam descontos e tiveram ganho integral no ICMS”, afiançou. “Se avaliarmos apenas o acumulado de automóveis e comerciais leves, veremos que este foi o melhor volume desde 2019, antes da pandemia. Isso mostra a eficiência da medida do governo”, emendou, assinalando que a média de emplacamentos diários superou 10 mil veículos, em julho.

No entendimento do presidente da Fenabrave, a iniciativa federal ajudou a promover um “aquecimento momentâneo” no mercado automotivo, somando-se aos descontos das concessionárias e às “taxas especiais” dos bancos das fabricantes. Mas, Andreta Jr ressalva que as empresas ainda enfrentam um “ano desafiador”, em função da perda do poder de compra dos consumidores e da “alta seletividade” de crédito nos bancos.

“Do ponto de vista econômico, é muito importante para o país manter nosso setor aquecido. A Fenabrave acredita ser necessária a criação de um plano sustentado de recuperação que não seja temporário e que não envolva perda de arrecadação de impostos, mas mecanismos de crédito que permitam, ao consumidor, readquirir poder de compra. Estamos finalizando esse estudo e esperamos apresentá-lo ao governo em breve”, concluiu.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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