O custo do metro quadrado da construção civil do Amazonas desacelerou em julho, mas já é o segundo mais alto do Brasil. O custo do metro quadrado passou de R$ 1.750,62 para R$ 1.754,01, ficando 0,19% mais caro do que no mês anterior. Foi uma variação menor do que as de junho (+0,62%) e maio (+0,66%). E, diferente do que vinha ocorrendo nos meses anteriores, o aumento veio abaixo da média nacional (+0,23%), além de reduzir a distância em relação ao IPCA (+0,12%). É o que revelam os dados mais recentes da pesquisa da Sinapi (Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil), do IBGE.
Em sete meses, no entanto, os dispêndios já acumulam 4,48% de alta, para um crescimento de 1,85%, no Sinapi nacional, e de 2,99%, para a inflação oficial. Em 12 meses, os preços da construção civil do Amazonas já avançaram 11,15%: três vezes mais do que no restante do país (+3,52%) e mais que o dobro do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (+3,99%). Assim como no mês anterior, o indicador foi impactado exclusivamente pelos insumos (+0,30%) que passaram de R$ 1.116,59 para R$ 1.119,98. Em contrapartida, a média dos passivos com mão de obra (R$ 634,03) ficou rigorosamente estável.
Para as construtoras, essa foi uma boa notícia, que se soma à redução da taxa Selic e à sinalização do Banco Central de dar continuidade ao ciclo de cortes da taxa básica de juros. O Sinduscon-AM (Sindicato da Indústria da Construção do Estado do Amazonas) destaca ainda outros fatores positivos para reequilibrar o jogo em favor dos negócios, como anúncio do novo PAC, as mudanças institucionais no Minha Casa Minha Vida, e a maior disposição do governo do Estado e do município em investir em habitações populares.
Abaixo da média
Com a taxa de expansão mensal abaixo da média brasileira, o Amazonas caiu do décimo para o 11º lugar do ranking nacional. Rio de Janeiro (+2,69%), Rio Grande do Norte (+1,22%) e Tocantins (+0,84%) dividiram o pódio inflacionário. Na outra ponta estão Bahia (-0,53%), Minas Gerais (-0,34%) e Distrito Federal (-0,25%), em meio a oito deflações e pelo menos uma estabilidade. No acumulado do ano, continua no primeiro lugar, com o Mato Grosso do Sul (-0,67%) no extremo oposto. O Estado também encabeça o ranking da variação aglutinada de 12 meses, com a Bahia (-0,27%) no extremo oposto.
Os aumentos mensais consecutivos mantiveram o custo por metro quadrado no Amazonas (R$ 1.754,01) acima da média brasileira (R$ 1.710,37). O Estado permanece na 11ª posição do ranking brasileiro, sendo o quinto com valores mais caros em toda a região Norte. Os maiores números estão em Santa Catarina (R$ 1.971,92), Rio de Janeiro (R$ 1.890,37) e Acre (R$ 1.866,25). Em sentido contrário, os dispêndios médios mais baixos se situaram em Sergipe (R$ 1.529,30), Alagoas (R$ 1.530,28) e Piauí (R$ 1.558,60).
O preço médio dos insumos (R$ 1.119,98) fez o Estado galgar da quarta para a segunda posição, batendo com folga a média nacional (R$ 1.001,78). Perdeu apenas para o Acre (R$ 1.186,17), em um rol encerrado por Sergipe (R$ 930,07). O oposto se dá na mão de obra. Com a estagnação nos valores, o Amazonas (R$ 634,03) ainda perde de longe para o dado brasileiro (R$ 708,59), e caiu da 20ª para a 21ª posição. Santa Catarina (R$ 893,60) e Alagoas (R$ 590,74) ficaram nos extremos da lista.
O IBGE ressalta também as diferenças significativas de valor por metro quadrado no Amazonas, segundo o tipo de construção. O valor médio mais baixo está em projetos do tipo “cesta básica”, com materiais mínimos, sala, circulação, banheiro e cozinha, onde o metro quadrado não passa de R$ 517,64. Na outra ponta estão as unidades residenciais em prédios de pilotis e 12 pavimentos, com sala, dois quartos, circulação, banheiro, cozinha, área de serviços e quarto de empregada (R$ 2.307,58).
“Cenário de estabilidade”
O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, reforça que os dados do Sinapi possibilitam possível aferir os custos de construção para diversos tipos de projetos, desde o mais popular até “aqueles de alto nível”. O pesquisador enfatiza também que, embora permaneça com reajustes sequenciados a cada mês, a variação média do custo da construção ficou praticamente estável e sugere uom “cenário de estabilidade”. “Os resultados dos últimos dois meses podem indicar certa acomodação nos preços de balcão, uma vez que o volume de vendas do comércio está praticamente estável”, ponderou.
Em texto postado na Agência de Notícias IBGE, o gerente da Sinapi, Augusto Oliveira, salienta que, embora tenha pressionado o Sinapi brasileiro, o valor da mão de obra encolheu 0,83 ponto percentual (-1,36%), entre junho e julho. O resultado, conforme o pesquisador, pode ser explicado pelo “menor número de acordos coletivos”. Já a parcela dos materiais (+0,01%) ficou muito próxima da estabilidade em todo o país. “Trata-se de um momento de estabilidade no mercado, depois de um grande período de alta por conta da pandemia da Covid-19”, analisou.
Em entrevistas recentes à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente do Sinduscon-AM, Frank Souza, disse que o Estado conta com uma das mãos de obra mais baratas do país, “perdendo apenas para o Pará”. Já os aumentos seguidos dos preços dos insumos se dariam pelas desvantagens logísticas do Amazonas e pelo custo do combustível. Isso ajudaria a explicar também a presença constante do Acre no topo do ranking brasileiro, acompanhado por outras unidades federativas da região Norte. Mas, o dirigente ressalvou também que o cenário para a construção civil do Amazonas segue favorável, “para um mercado com déficit habitacional alto”.
Em nova entrevista, Frank Souza concordou que o preço do metro quadrado chegou ao patamar da estabilidade. “Acredito que há um equilíbrio gradual de valores. A inflação tem aumentado, mas agora temos um alento com a queda da taxa básica de juros. Acho que os números estão mais palatáveis. No final de julho, tivemos um aumento de 4% no custo da mão de obra [pela convenção coletiva de trabalho]. Isso diluído vai dar um percentual pequeno em relação ao custo final do metro quadrado. Não há nada preocupante no cenário, apesar de os números estarem acima da inflação”, finalizou.