Os problemas climáticos devem interferir na geração de vagas temporárias no comércio local para o fim do ano. Por causa da estiagem, o setor prevê contratar muito menos este ano. Embora a mão de obra temporária seja aliada das empresas durante os três últimos meses do ano para suprir a demanda das vendas, há incerteza quanto a estes números.
“Neste momento, nós não temos expectativa nenhuma para vaga temporária, porque a situação da estiagem, com problema de venda, com falta de produtos, traz insegurança. Conseguir a manutenção dos que estão agora trabalhando é crucial”, informou o presidente da CDL-Manaus (Câmara de Dirigentes Lojistas), Ralph Assayag.
De acordo com o dirigente, tem empresas que vendiam muito para o interior e está com dificuldade de realizar esse movimento e com isso as suas vendas caíram. “A gente espera dar manutenção das já existentes e assim que retornar, já tem aí uma luz no fim do túnel que já começou a subir as águas no início do Solimões, que a gente possa realmente vir a pensar em contratação, porém mais na frente, temos que primeiro resolver o problema da estiagem e da chegada dos navios em Manaus. Por isso, ainda não temos nenhuma programação para contratações temporárias, estamos aguardando o que vai acontecer nos próximos meses”, esclareceu Assayag.
A expectativa é de redução das vendas, que não justificam mais contratações é confirmada em pesquisa feita pela Fecomércio-AM, apontando que 48% dos empresários do setor não acreditam que o número de contratações temporárias para o fim de ano será grande, uma vez que ainda não sabem se terão grandes prejuízos ocasionados pela seca.
Em entrevista recente ao Jornal do Commercio, empresários do setor relataram preocupação com o cenário. Já que a capacidade reduzida da navegação dos rios do Amazonas devido à estiagem intensa na região, pode gerar impactos no faturamento, por conta do desabastecimento e escassez de produtos. Além disso, a situação pode produzir efeitos negativos nas vendas do fim de ano, período importante para o setor.
Na percepção do presidente da assembleia geral da ACA, Ataliba David Antonio Filho, o movimento do varejo da área metropolitana para o período da Black Friday traz a sensação de incerteza na economia. “Eu vejo com preocupação as políticas públicas econômicas e a insegurança dos cidadãos que circulam para consumir no centro e nos bairros, além de uma previsão de movimento do varejo na nossa região metropolitana inibido pela dúvida de uma maior estabilidade econômica”, declarou.
Gargalos
O especialista em carreira e emprego Flávio Guimarães, lembrou que, em termos local, regional, o Amazonas tem um crescimento histórico que acompanha a indústria e o comércio. Em alguns outros estados o comércio ele tem uma certa queda em relação à contratação temporária, se comparado com a indústria, e por aqui é tudo muito nivelado, então os dois segmentos estão quase no mesmo patamar de projeção de crescimento.
Contudo, este ano devido à seca, e aí entra num problema que pode ser muito grave que são as importações de insumos, materiais, matérias-primas e equipamentos que movimentam boa parte do PIM (Polo Industrial de Manaus), vindos da China, da Europa ou Estados Unidos, cria-se duas variáveis.
“As empresas que vão continuar operando, só que fazendo outras operações, o que era marítimo, agora ela vai tentar fazer por terra. Terrestre, ou vai tentar fazer aéreo. No caso do aéreo, as empresas que optarem por esse modal com toda certeza o valor do produto vai subir. Isso vai lá para cima, porque o transporte aéreo é bem mais caro do que o marítimo e o terrestre”.
Em relação ao terrestre, o valor dele vai continuar bem parecido com o que já é, do produto que é produzido. Agora ele vai demorar um pouco mais para chegar nas prateleiras das lojas. “Então, dependendo dessas duas movimentações, a gente vai ter uma mexida de mercado que a gente só vai conseguir saber o que que exatamente aconteceu em janeiro ou março”.
No mês passado alguns levantamentos foram feitos, mostrando que a tendência, se não houvesse nenhuma adversidade como essa da seca por exemplo, seria o maior nível de contratação temporária dos últimos 10 anos. E por que isso foi projetado dessa forma em setembro, antes ainda do começo da seca? “Porque as empresas já estão conseguindo pagar aqueles empréstimos que fizeram na época da pandemia para poderem continuar funcionando e com isso, já estão começando a faturar um pouco mais. Então aumentou a geração de emprego, pois você abre crédito, abrindo crédito o consumo aumenta e o consumo aumentando, o caixa da empresa também cresce. As empresas estão agora tentando voltar a criar os seus caixas financeiros e o seu fôlego realmente de dinheiro. Portanto, a tendência é que cada vez tente investir mais ainda em meios ou recursos que amplie a possibilidade de mais vendas para o consumidor direto. é uma visão um pouco complexa mas uma visão geral de tudo o que a gente falou agora”, explicou.
Movimento contrário
A Asserttem (Associação Brasileira do Trabalho Temporário) divulgou a previsão dos números sobre a criação de cerca de 470 mil vagas temporárias para o 4º trimestre de 2023. Um aumento de 5% em relação ao mesmo período do ano passado.
“Depois de um pequeno recuo nos números do 3º trimestre, nossa esperança é que essas vagas sejam recuperadas nos meses de outubro, novembro e dezembro”, afirma o presidente da associação, Marcos de Abreu. “Acreditamos que, se o cenário for favorável, as indústrias podem acelerar suas contratações para atender a alta demanda de consumo do período, devido às datas sazonais como Dia das Crianças, Black Friday e Natal”, completa.
Segundo ele, o mercado de trabalho brasileiro encontra-se em uma trajetória favorável, caracterizada pelo aumento da empregabilidade e de efetivações celetistas. “Vivemos uma realidade de falta de mão de obra qualificada. Assim, quando a empresa encontra este profissional, ela o efetiva. E, consequentemente, verificamos um aumento da empregabilidade ao invés da contratação de temporários”.