Vendas do varejo do Amazonas estacionam em agosto

Em: 21 de outubro de 2023

O comércio varejista do Amazonas amargou estagnação de vendas, em agosto. Mesmo com uma vantagem de dois dias uteis, os lojistas tiveram resultado rigorosamente igual ao de agosto – que já havia registrado o maior declínio do ano (-0,6%). O confronto com o mesmo período do ano passado apontou alta de 2,5% para o mês do Dia dos Pais, e já com os consumidores de volta após as viagens de férias. Com isso, os acumulados do ano (+3,6%) e dos 12 meses no azul (+2,7%) seguiram no azul.

Ainda assim, o Estado bateu a média nacional em todas as comparações. A variação mensal do varejo brasileiro ficou negativa em 0,2%. Houve crescimento apenas nos segmentos que trabalham com itens básicos e não duráveis, a exemplo de supermercados, combustíveis e drogarias. Houve incremento de 2,3% frente a agosto de 2022, mas o número de subsetores com vendas maiores foi ainda menor. Com isso, o comércio nacional cresceu 1,6%, em oito meses, e 1,7%, em 12 meses. É o que revela a Pesquisa Mensal do Comércio, realizada pelo IBGE

A mesma base de dados informa que o ritmo ameno do IPCA em agosto (+0,23%) reduziu o descolamento na receita nominal, mas ajudou pouco nas vendas. Em sintonia com a tendência de fuga do consumidor ao crédito, em face das elevadas taxas de endividamento e inadimplência, o desempenho dos segmentos de bens de maior valor agregado e inseridos no inseridos no chamado varejo ampliado – como veículos e material de construção – veio abaixo da média. A CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), entretanto, manteve sua projeção de crescimento para 2023 em 2%.

De acordo com o IBGE, o varejo avançou em apenas seis das 27 unidades federativas brasileiras, entre julho e agosto. Mas, apenas duas cresceram além de 1%. O empate fez Amazonas decolar da 18ª para a sexta posição. O melhor dado veio do Rio Grande do Sul (+2%) e o pior, da Paraíba (-3,6%). Apesar da elevação anual de 2,5%, o comércio local desceu do nono para o 13º lugar, em uma lista encabeçada por Tocantins (+9,7%) e também, encerrada pela Paraíba (-24,5%). No ranking do acumulado do ano, o Estado caiu da 11ª para a nona posição. Tocantins (+13,1%) e Paraíba (-2,4%) também protagonizaram os extremos, neste tipo de comparação.

Receita e crédito

Apesar da perda de fôlego do IPCA, o comércio amazonense ainda teve resultados consideravelmente diferentes na receita nominal – que não leva em conta a inflação do período. A variação mensal ficou positiva em 0,8%, em desempenho superior ao de julho (+0,5%). O confronto com agosto do ano passado indicou avanço de 3,4%, enquanto os acumulados do ano (+4,5%) e dos 12 meses (+4,7%) também pontuaram elevações mais robustas. As respectivas médias nacionais foram +0,5%, +3,2%, +4,1 e +6,6%.

Em razão do tamanho da amostragem, o IBGE ainda não segmenta o desempenho do comércio no Amazonas. Sabe-se apenas que os subsetores de veículos e material de construção apresentaram saldo negativo, levando o varejo ampliado a um tombo de 5,8% na comparação com julho. O aumento chegou a 6,2% em relação ao mesmo mês do ano passado, segurando o crescimento de janeiro a agosto em 8,5%. Em seu quarto mês no quadrante positivo, a variação anualizada expandiu 4,9%. Quase todos os números da média brasileira (-1,3%, +3,6%, +4,2%, +2,7%) foram mais fracos.

Assim como nos dois levantamentos anteriores, o crescimento do comércio brasileiro na variação mensal se restringiu a quatro dos oito de segmentos: e combustíveis e lubrificantes (+0,9%); hiper, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo (+0,9%); equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (+0,2%); e artigos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e de perfumaria (+0,1%). Em contrapartida, artigos de uso pessoal e doméstico (-4,8%); livros, jornais, revistas e papelaria (-3,2%); móveis e eletrodomésticos (-2,2%); e tecidos, vestuário e calçados (-0,4%); encolheram.

Juros e inflação

O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, ressalta que, apesar do resultado mais robusto do que o da média nacional, o comércio local “vêm perdendo forças nos últimos meses” e, se continuar assim, os desempenhos dos acumulados no ano e dos 12 meses “estarão comprometidos”. “A média móvel trimestral em agosto também ficou estável em 0%, o que reforça a situação do período e não permite mensurar cenários para os próximos meses”, avaliou.

Em texto postado no site da Agência de Notícias IBGE, o gerente da pesquisa, Cristiano Santos, explica que as grandes cadeias de lojas que atuam nos segmentos em queda enfrentaram crises contábeis e estão passando por redução no número de lojas – em paralelo com o peso dos juros no balanço dos lojistas. Já os subsetores que trabalham com itens básicos perfomaram melhor. “Isso tem a ver com a desaceleração da inflação na parte alimentícia. O efeito da inflação acaba tendo impacto na atividade, com maior renda para o consumidor adquirir produtos”, explicou.

Déficits e seca

Em entrevistas recentes à reportagem do Jornal do Commercio, o vice-presidente da ACA, Paulo Couto, ressaltou que os juros ainda pesaml sobre o consumo e as vendas. De acordo com o dirigente, o “sofrível desempenho” do varejo amazonense é agravado por “baixíssima rentabilidade” e déficits operacionais, além da redução da confiança dos empresários. “O fechamento de setembro não sinaliza melhoras, em função dos feriados da primeira dezena. Aguardemos”, adiantou.

Já o presidente em exercício da Fecomercio-AM, Aderson Frota, assinalou, igualmente em depoimento anterior, que os problemas enfrentados pelo comércio, “em face de um consumidor sem crédito e muito negativado”, tendem a se agravar diante dos impactos logísticos da seca. “A caminhar essa situação, o comércio do Amazonas ficará totalmente desabastecido. E, mesmo que não fique, vamos ter aumentos de preços ao consumidor”, sentenciou.

Boxe ou coordenada: CNC mantém projeção para 2023

Em comunicado à imprensa, a CNC reforçou que mantém “visão otimista para o restante de 2023” e que a projeção de crescimento de 2% está mantida. O presidente da entidade, José Roberto Tadros, lembrou que o setor ficou estável no acumulado do ano e que as divisões do varejo que trabalham com itens básicos alcançaram resultados positivos, em razão da “moderação dos preços” e da menor dependência das condições de crédito. 

“A flexibilização da política monetária e a redução das taxas de crédito requerem tempo para gerar impactos significativos”, salientou. “Mas, o cenário mostra a necessidade de uma abordagem cautelosa e estratégica para impulsionar o setor ao longo do restante do ano”, encerrou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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