A indústria do Amazonas avançou em quase todas as frentes, em agosto. Em sintonia com a aproximação das festas de fim de ano, a quantidade de horas trabalhadas e o nível de uso da capacidade instalada das fábricas reforçaram altas. O faturamento mostrou recuperação, após dois meses de baixa. O dado negativo veio do emprego, a despeito da retomada da massa salarial. A conclusão vem da análise dos números locais dos Indicadores Industriais da CNI (Confederação Nacional da Indústria), compilados em parceria com a Fieam (Federação da Indústria do Estado do Amazonas).
O faturamento real da manufatura do Amazonas escalou 15,5% na variação mensal de agosto – sendo favorecido por dois dias a mais. O resultado veio na medida para recuperar as perdas de julho (-3,2%) e junho (-11,7%). A comparação com o mesmo mês de 2022 confirmou uma decolagem de 11,7%, sustentando o acumulado de 2023 no campo positivo (+19,6%). Na média nacional, as vendas líquidas cresceram 0,6% no mês, mas ficaram 2,5% abaixo da marca de agosto de 2022, além de retraírem 1,4%, em oito meses.
Situação semelhante se deu nas horas trabalhadas nas linhas de produção do Estado. Segundo a CNI, foi registrado um progresso significativo de 14,4% para o indicador, em alta muito mais expressiva do que a de julho (+2,7%). O confronto com igual intervalo do exercício anterior indicou variação positiva de 23,6%, mas foi insuficiente para tirar o acumulado do ano (-1,9%) do vermelho. Os respectivos números do nível de atividade da indústria em todo o país (-0,1%, -3,3% e +0%) foram todos piores.
A UCI (utilização da capacidade instalada) da indústria do Amazonas apresentou alta mais modesta. A proporção de máquinas nas unidades fabris locais passou de 82,4% para 83,8% em relação a julho, configurando uma diferença de apenas 1,4 ponto percentual (+1,7%). Já a comparação com igual mês de 2022 (84% de uso) indicou virtual estabilidade, com retração de 0,2 p.p. (-0,4%). Em oito meses, o nível de ocupação da capacidade instalada chegou a uma média de 83,1% no Amazonas e teve incremento de 3,6 p.p. (+4,53%). Além de ser mais baixo, o indicador nacional (78,5%) não saiu do lugar na variação mensal e recuou na comparação com agosto de 2022 (82%).
Os números da CNI mostram panorama similar ao apresentado pela pesquisa mensal do IBGE para a indústria do Amazonas. Segundo o órgão de pesquisa, a produção do Estado galgou 11,5% na variação mensal, o melhor desempenho do país. Em relação a agosto de 2022, o crescimento foi de 2,7%, graças aos segmentos de combustíveis e produtos químicos e as linhas de produção de artefatos de joalheria, isqueiros e lentes oculares, entre outros. A manufatura amazonense ainda consolidou alta de 6% de janeiro a julho, sendo favorecida também por “produtos de metal” e motocicletas.
Empregos e salários
Os indicadores relativos à mão de obra da indústria do Amazonas, por sua vez, indicaram desempenhos novamente contraditórios. A média do saldo de contratações no parque fabril do Estado retrocedeu 2,6% diante de julho. Mas foi catapultada em 26,1%, no confronto com igual período do exercício anterior, diante de uma base de comparação mais fraca. Isso ajudou a encorpar o aglutinado de janeiro a julho (+18,8%). Em contrapartida, os respectivos números brasileiros (-0,2%, +0,4% e +0,8%) ficaram próximos à estabilidade.
Os dados da CNI contrastam com os do ‘Novo Caged’, que apontou criação de 747 vagas formais em agosto, superando o mês anterior (+451 vagas). Com isso, o acréscimo em relação ao estoque antecedente chegou a 0,61%. As contratações foram carreadas pela indústria de transformação (+776), que foi mais uma vez foi favorecida principalmente pelas linhas de produção de “outros equipamentos de transporte”/motocicletas (+395), além de produtos de borracha e material plástico (+208), entre outros subsetores. Em oito meses, os empregos formais da manufatura amazonense avançaram 1,75% (+2.125).
A pesquisa dos Indicadores da CNI aponta que o tropeço nas contratações veio acompanhado por avanço da massa salarial. A elevação mensal foi de 4,4%, mas foi insuficiente para compensar o tombo de julho (-21,1%). A soma dos vencimentos dos trabalhadores ganhou mais musculatura frente ao mesmo mês de 2022, com nova alta de dois dígitos (+15,3%). No acumulado, o saldo já aumentou para 18,9%. A indústria nacional (+0,9%, +1,7% e +3,2%) também progrediu em todos os cenários estatísticos.
“Tendência de queda”
Em texto e vídeo divulgados pela assessoria de imprensa da CNI, o gerente de Análise Econômica da entidade, Marcelo Azevedo, considerou que os indicadores de desempenho de faturamento real, horas trabalhadas e utilização da capacidade instalada na indústria nacional já mostraram perda de dinamismo “há algum tempo”. Conforme o economista, as vendas do setor estão declinantes desde o início do ano, em linha com a UCI.
“O faturamento da indústria brasileira aumentou na passagem de julho para agosto. Mas, o que vem acontecendo nos últimos meses é que esse resultado vem oscilando, sendo que as retrações são mais intensas do que as altas. Então, apesar desse aumento, a tendência é de queda frente a 2022. As horas trabalhadas vêm também de uma série de altos e baixos, mas se mantêm um patamar relativamente estável, ainda que inferior também a 2022. A UCI também sofre tendência de baixa”, analisou,
Segundo a Azevedo, no mercado de trabalho, a história é diferente. “O emprego veio de uma forte recuperação ao longo de 2022, para perder força e ter resultados levemente negativos nos últimos meses. Mas, permanece acima da marca registrada no ano passado. O indicador. A mesma coisa acontece com massa salarial e rendimento médio do trabalhador. Há uma perda de dinamismo, mas o ano passado foi muito forte e, mesmo as altas registradas em 2023 estão mais significativas do que as quedas”, comparou.
Juros e seca
Em entrevistas recentes à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente da Fieam, e vice-presidente executivo da CNI, Antonio Silva, reforçou que o estudo conta com amostragem local “pequena” e os dados regionais sinalizam mais uma “tendência do setor” do que “números consolidados”. O dirigente acrescentou que é sempre necessário considerar fatores sazonais e que a produção industrial do Amazonas segue em “patamar sólido”. Mas manifestou preocupações para o comportamento do setor no curto prazo.
“Nossas expectativas são que os indicadores corroborem para contínua redução dos juros, como forma de baratear o investimento e fomentar a retomada. Com a inflação em patamar relativamente estável, precisamos nos atentar também a outros fatores, como o endividamento das famílias, a crise de confiança e a definição de uma política industrial assertiva”, frisou. “Causa-nos preocupação a grave seca, que deve impactar no fluxo logístico de insumos em um período de alta para o setor. Tal fator, aliado à queda do poder aquisitivo das famílias, pode afetar diretamente os números do final de ano”, arrematou.