Esse estudo se passa em torno de um assunto emergente. A agenda da sociedade brasileira tem caminhado progressivamente para o debate em torno do cooperativismo e da economia solidária.
A geração de novos postos de trabalho é crucial e se conecta não apenas com aspectos conjunturais relacionados às suscetibilidades da política econômica, mas também com aspectos de natureza estrutural. É lugar comum a constatação de que estamos diante de um novo paradigma tecnológico que redefine um novo regime de mercado. É possível dizer que há um rompimento constante do ponto de vista social e institucional com o modelo de trabalho erigido pela modernidade. Isto não é conjuntural, é histórico, porque estabelece um divisor de águas entre a acumulação capitalista e a empresa socialmente solidária.
De um modo geral “prefeituras, políticos e sindicalistas têm demonstrado interesse crescente por empresas autogeridas, co-geridas ou por organizações coletivas e comunitárias” (Singer, 1998b).
O cooperativismo não vai gerar postos de trabalho se as políticas econômicas não forem repensadas em termos de acesso do trabalho cooperativado ao mercado. Não adianta a população forjar alternativas, ter pique, garra e vontade de trabalhar se as pedras não forem removidas do meio do caminho. As cooperativas de profissionais liberais têm mais acesso ao mercado de trabalho do que as populares e este é um dado recente que foi acelerado no país com o movimento de reestruturação produtiva.
A exigência de capital humano qualificado é um fator fortemente requisitado pelo mercado de trabalho. É a razão técnica e instrumental que sobrepõe a doxa do savoir-faire com grande impulso, sobretudo a partir da última década do século 20 e no raiar deste novo século. A Cooterma (Cooperativa de Trabalho e Assistência em Engenharia, Agronomia, Veterinária e Meio Ambiente) nasceu em 1993 da necessidade de garantir pessoal técnico especializado para realizar serviços à Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus), antes efetuados pela Fucada.
De acordo com o representante desta cooperativa. Antes existia no Amazonas uma instituição chamada Fucada que era composta, na sua grande maioria, de pessoal técnico como engenheiros, médicos veterinários, agrônomos e engenheiros de pesca. Um belo dia a Fucada foi extinta por motivos alheios à nossa vontade. Então os técnicos da Fucada pensaram em criar uma cooperativa para vender o serviço que a Fucada fazia só que de uma maneira cooperativada.
A Cooterma é uma cooperativa de trabalho que possui no seu quadro de pessoal profissionais especializados em nível de graduação, especialização, mestrado e doutorado.
Alguns destes profissionais são professores da Universidade Federal do Amazonas. As cooperativas de trabalho são empreendimentos que reúnem pessoas da mesma profissão e de profissões variadas, cujo objetivo consiste em vender o produto do trabalho de seus membros ao mercado oferecendo, muitas vezes, um tipo de trabalho altamente qualificado ao comprador. Por tudo isso, devemos optar por outra matriz empregatícia a médio prazo.
Celso Torres é economista e professor pós-graduado da Universidade Gama Filho. E-mail: [email protected]