Papel do capital intelectual no cooperativismo

Em: 26 de janeiro de 2008
A geração de novos postos de tra­balho é crucial e se conecta não apenas com aspectos conjunturais relacionados às suscetibilidades da política econômica

Esse estudo se passa em torno de um assunto emergente. A agenda da sociedade brasileira tem cami­nhado progressivamente para o debate em torno do cooperativismo e da economia solidária.

A geração de novos postos de tra­balho é crucial e se conecta não apenas com aspectos conjunturais relacionados às suscetibilidades da política econômica, mas também com aspectos de natureza estrutu­ral. É lugar comum a constatação de que estamos diante de um novo paradigma tecnológico que re­define um novo regime de mercado. É possível dizer que há um rom­pimento constante do ponto de vista social e institucional com o ­mo­delo de trabalho erigido pela mo­dernidade. Isto não é conjuntural, é histórico, porque estabelece um ­divisor de águas entre a acumula­ção capitalista e a empresa socialmen­te solidária.

De um modo geral “prefeituras, políticos e sindicalistas têm de­monstrado interesse crescente por empresas autogeridas, co-geridas ou por organizações coletivas e comunitárias” (Singer, 1998b).

O cooperativismo não vai gerar postos de trabalho se as políticas econômicas não forem repensadas em termos de acesso do trabalho cooperativado ao mercado. Não adianta a população forjar alternativas, ter pique, garra e vontade de traba­lhar se as pedras não forem removidas do meio do caminho. As coope­rativas de profissionais liberais têm mais acesso ao mercado de trabalho do que as populares e este é um dado recente que foi acelerado no país com o movimento de reestruturação produtiva.

A exigência de capital humano qualificado é um fator fortemente requisitado pelo mercado de ­trabalho. É a razão técnica e ins­trumental que sobrepõe a doxa do savoir-faire com grande impulso, sobretudo a partir da última década do século 20 e no raiar deste novo século. A Cooterma (Cooperativa de Trabalho e Assistência em ­En­genharia, Agronomia, Ve­te­­ri­­­ná­ria­ e Meio Ambiente) nasceu em 1993 da necessidade de ga­ran­tir pessoal técnico especializa­do pa­ra realizar serviços à Suframa (Superintendência da Zona Franca de Manaus), antes efetuados pe­la Fucada.

De acordo com o representante desta cooperativa. Antes existia no Amazonas uma instituição chamada Fucada que era composta, na sua grande maioria, de pessoal técnico como engenheiros, médicos vete­rinários, agrônomos e engenheiros de pesca. Um belo dia a Fucada foi extinta por motivos alheios à nossa vontade. Então os técnicos da Fucada pensaram em criar uma cooperativa para vender o serviço que a Fucada fazia só que de uma maneira cooperativada.

A Cooterma é uma cooperativa de trabalho que possui no seu quadro de pessoal profissionais especializados em nível de graduação, especialização, mestrado e doutorado.

Alguns destes profissionais são professores da Universidade Federal do Amazonas. As coope­rativas de trabalho são empreendimentos que reúnem pessoas da mesma profissão e de profissões variadas, cujo objetivo consiste em vender o produto do trabalho de seus membros ao mercado ofe­recendo, muitas vezes, um tipo de trabalho altamente qualificado ao comprador. Por tudo isso, devemos optar por outra matriz empregatícia a médio prazo.

Celso Torres é economista e professor pós-graduado da Universidade Gama Filho. E-mail: [email protected]

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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