Petrópolis, um bairro marcado por décadas de promessas não cumpridas, agora enfrenta um novo desafio: obras de esgoto que, em vez de trazer alívio, geram insatisfação, dúvidas e cobranças polêmicas. Descubra o que pensam os moradores, por que a adesão é baixa, a estimativa que aponta que o sistema não será eficaz e o que precisa mudar para que o saneamento básico se torne uma realidade.
Encravado no Sul de Manaus, Petrópolis é 19º bairro mais populoso, com 42776 pessoas em 15341 domicílios (IBGE, 2022; https://tinyurl.com/2s35s33z). Seu início foi nos anos 50, quando o Coronel Montoril o batizou em homenagem à cidade fluminense de mesmo nome, pela semelhança com as ladeiras e vegetação abundante. E um estudo de 2011 com 590 moradores entre 18 e 49 anos revelou algo preocupante: 80% pertencem às classes D (56%) e E (24%), com 63% de desemprego e baixa formalização no mercado de trabalho (https://tinyurl.com/yjppcryu).
Apesar de mais de 70 anos de história, nunca políticas ou projetos públicos foram construídos com a população. Pelo contrário, sucessivas gestões resultaram em decisões prejudiciais, tais como a não construção da Feira Coberta na gestão do Serafim, mesmo com R$ 1M garantido pelo fórum do orçamento e mobilização das lideranças (https://tinyurl.com/5mtucyx9 e https://tinyurl.com/mtkmj4r7). Já em 2015, a SEMED, a gestão do Arthur fechou irregularmente o CMEI Suely Pompeu, que atendia 500 crianças em prédio alugado por R$ 8900/mês. Sem alarde, o código do CMEI foi para outro imóvel no Santa Etelvina com apenas 6 salas, custando R$ 20700/mês, em contrato sem licitação de 5 anos. Esta e outras lutas estão no perfil Anjos do Pompeu (https://tinyurl.com/mpj47sbd).
Desde a última gestão do ex-prefeito Amazonino Mendes, Petropolitanos recebem promessas vazias de implantação do sistema de tratamento de esgoto. Ruas como Raquel de Souza, Leopoldo Carpinteiro Peres e Antônio Ribeiro são frequentemente escavadas para instalação da rede coletora, mas sem que o sistema entre em operação.
Atualmente, se sabe que a rede está sendo direcionada para a Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) no bairro da Raiz, cuja construção começou apenas em abril de 2024, com orçamento de quase R$ 15 milhões e previsão de conclusão do módulo inicial em fevereiro de 2025. Apesar da importância da obra, há baixa transparência, pois a população não tem acesso ao Projeto, desconhece os detalhes do cronograma de construção, nunca viu o mapa ou a planta com o traçado das tubulações que irá passar pelas ruas, nem sabe quando os efluentes domésticos dos imóveis conectados de sua rua serão efetivamente tratados.
Em 2024, as obras retornaram ao bairro e em 2025 vieram acompanhadas inicialmente de um aumento de 12,32%, depois de outro aumento de 75% na conta de água, e para lascar, há moradores que estão recebendo a taxa de ligação ao esgoto de R$ 19,48, que será cobrada por 80 meses. Diante disso, surgem algumas questões: o que pensam os moradores sobre a coleta e o tratamento de esgoto em Manaus? qual o nível de satisfação com as obras? quantos TILs foram instalados e que percentual representam dos imóveis com frente para o logradouro? qual a taxa de conexão? o sistema será efetivo? E para responde-las, entre final de março e 15/04/25, houve inspeções em ruas que receberam obras, contagem de TILs, registros audiovisuais, visita à ETE Raiz, entrevistas e uso de questionário (https://tinyurl.com/y4zhj4us).
1º) Perfil dos respondentes: 119 moradores responderam ao convite, sendo 2 excluídos por não serem do bairro, totalizando 117 domicílios. A maioria (95%) vive em Petrópolis há mais de 10 anos e quanto à localização, 23% moram na Leopoldo C. Peres, 20% na Raquel, 10,3% na Aristides Rocha, 9,4% na Benjamin Constant, 7,7% na Antônio Ribeiro, 5% na Coronel F. de Araújo e 25% em outras ruas.
2º) Posição em relação a coleta e tratamento do esgoto: a maioria (56%) é favorável, mas 35% são contra e 9% responderam “talvez”. Entre os que se opõem, mesmo após nova explicação, eles mantiveram sua posição, justificando que são contra por conta “da maneira como estão fazendo”, referindo-se a Águas de Manaus, Prefeitura e Governo do Estado. Isso indica que a aceitação social do saneamento básico não depende apenas do reconhecimento de seus benefícios, mas também da confiança na gestão e execução das obras.
3º) Sobre o Terminal de Interligação (TIL): metade (50,4%) informou que seu imóvel não recebeu, enquanto 45,3% receberam o TIL na calçada do imóvel, e 4,3% não souberam dizer. Para os que receberam o TIL, foi perguntado sobre o nível de satisfação com as obras realizadas perto de sua casa, sendo que maioria (62,3%) está muito insatisfeita, 21% insatisfeita, 15% acharam regular, enquanto 2% ficaram satisfeitos. Por limitação do espaço, no outro artigo serão mostradas as imagens, os vídeos e os motivos da insatisfação.
Aos que receberam o TIL, foi questionado se a família pretende se conectar ao sistema de coleta e tratamento de esgoto. Como resultado, descobriu-se que maioria (68%) afirmou que não, 19% talvez e apenas 13,2% afirmaram que sim. Entre os motivos para não se conectar estão (resposta de múltipla escolha): não concordamos em pagar por coleta e tratamento que não está funcionando (40%); não concordamos com o aumento de 75% (38%); não confiamos que este serviço será efetivo (19%); não temos recursos para pagar a conexão (7,5%). Chama a atenção que 49,1% deram outras respostas: inviável, colocaram sem nos consultar e nossos canos estão em outro ponto da casa; não tem como funcionar, pois nosso imóvel fica em terreno de descida; fomos enganados, pois nos disseram que por morar em baixo, não iríamos pagar, mas o aumento da conta veio; quando vieram, explicaram os benefícios mas omitiram o aumento exorbitante; há anos colocaram o TIL, mas não serviu para nada etc.
Para avaliar a eficácia do sistema de coleta e tratamento de esgoto em cinco ruas que já passaram por obras da Águas de Manaus, foram observadas as seguintes proporções de imóveis com TIL instalados: na Raquel, 23,4% (19 de 81 imóveis); na Antônio Ribeiro, 86% (18 de 21); na Benjamin Constant, 21,4% (30; 140); na Leopoldo C. Peres, 31,5% (71;225); e na Aristides Rocha, 24% (29;120), um total de 167 TILs em 587 imóveis.
Então, se a ETA da Raiz estivesse funcionando hoje, mais de 90% dos 587 imóveis analisados em cinco ruas continuariam descartando efluentes sem tratamento, pois 71,5% (420 imóveis) sequer receberam o TIL, impedindo qualquer possibilidade de conexão ao sistema. No cenário otimista, 32,2% dos 167 imóveis com TIL se conectariam → 54 imóveis conectados → 533 imóveis (91%) seguem sem tratamento; no cenário realista, com 13,2% conectados → apenas 22 imóveis usam o sistema → 565 imóveis (96%) seguem poluindo; e no pessimista, com menos de 10% conectados → no máximo 17 imóveis conectados → 570 imóveis (97,1%) continuam poluindo. Isso revela que a infraestrutura implantada é insuficiente e que, sem ações efetivas de ampliação e incentivo à conexão, este sistema pode até gerar receita para a empresa, mas sem impacto real na redução da poluição local.
Em conclusão, o sistema de coleta e tratamento de esgoto em Petrópolis enfrenta baixa adesão e tende a ser ineficaz na região devido à alta insatisfação dos moradores, motivada pela baixa transparência, obras de má qualidade e cobranças consideradas abusivas. Assim, é fundamental reduzir substancialmente as tarifas, criar incentivos para a conexão, cobrar apenas quando a ETE Raiz estiver efetivamente prestando o serviço e estabelecer uma relação mais transparente e participativa com a comunidade.
