Faturamento e empregos estão estagnados no Polo Industrial de Manaus

Em: 1 de novembro de 2023

O faturamento nominal do Polo Industrial de Manaus voltou a estagnar no acumulado até agosto. As vendas em reais não passaram de R$ 115,03 bilhões e caíram 0,20% no confronto com igual intervalo de 2022 (R$ 115,26 bilhões). Na conversão, em dólares, o incremento foi de apenas 0,61%, de US$ 22.89 bilhões (2022) para US$ 23.03 bilhões (2023). Os números não levam em conta a inflação e o câmbio. Em 12 meses, o IPCA acumulou alta de 4,61%, de acordo com o IPCA, e a desvalorização da moeda americana foi de 4,96%, conforme o Banco Central.

A performance mensal mostrou resultado mais favorável para o faturamento do PIM. Favorecido por dois dias úteis, o faturamento de agosto (US$ 3.22 bilhões ou R$ 15,83 bilhões) foi maior (+13,78% e +14,88%) do que o de julho (US$ 2.83 bilhões e R$ 13,43 bilhões). Mas, continuou abaixo (-0,62% e -5,38%) do patamar de 12 meses atrás (US$ 3.24 bilhões e R$ 16,73 bilhões). Em paralelo, a geração de empregos seguiu estável e acima da média de 110 mil trabalhadores, com aumento de contratações em 17 segmentos industriais. É o que apontam os dados mais recentes dos Indicadores de Desempenho do Polo Industrial de Manaus, divulgados pela Suframa. 

Majoritários, e somando quase metade das vendas do PIM, os polos de bens de informática e de eletroeletrônicos foram novamente em direções contrárias. O primeiro caiu 17,40% (US$ 5.70 bilhões) no acumulado, embora siga na liderança de participação do Polo, respondendo por 24,74% do total. O segundo manteve share de 18,86%, em linha com o acréscimo de 9,59% (US$ 4.34 bilhão). Mais aquecido, o polo de duas rodas (+23,03% e US$ 4.11 bilhões) responde por 17,87%. Em seguida estão as divisões de “outros produtos” (12,11%), químicos (10,06%), termoplásticos (8,85%) e metalúrgicos (7,51%).

Na análise em dólares, apenas 15 dos 26 subsetores listados pela Suframa tiveram faturamento ascendente no aglutinado até agosto. A maior alta ainda vem da divisão de minerais não metálicos, que decolou 122,24%, com US$ 69.79 milhões. Na sequência estão os segmentos de vestuário e calçados (+70,80% e US$ 7.58 milhões) e editorial e gráfico (+24,05% e US$ 12.48 milhões). O maior tombo vem da indústria madeireira (-17,88% e US$ 10.16 milhões), que foi acompanhada pelos polos naval (-16,68% e US$ 44.18 milhões) e de couros e similares (-12,75% e US$ 4.41 milhões), entre outros.

Produtos e empregos

Entre os manufaturados produzidos pelo PIM, os maiores destaques nos oito meses iniciais do ano vieram de TVs com tela LCD e OLED, com 8.626.595 unidades e aumento de 30,47%. A lista inclui também motocicletas, motonetas e ciclomotores (+17,44% e 1.096.708), condicionadores split system (+26,88% e 2.700.991), receptores de sinal de TV (+138,37% e 2.547.820) e microcomputadores desktop (+49,71% e 18.166), por exemplo. Mas, outros produtos tradicionais do Polo, como celulares (-10,62% e 9.459.371), bicicletas (-18,97% e 358.688) e microcomputadores portáteis (-18,06% e 359.958) e relógios (-3,89% e 4.348.947) seguem em queda.

Os resultados da produção seguiram em linha com a balança comercial do Polo, em um ano de oscilações. O melhor dado veio, mais uma vez, das exportações, que alcançaram cifra 1,98% superior no ano, com US$ 392.86 milhões. Em contraste, as importações declinaram 11,10% (US$ 7.93 bilhões). O nível de dispêndios das indústrias com aquisição de insumos estrangeiros – que respondem por 77,77% do total – e nacionais ficou negativo em 8,26% na mesma comparação, não passando de US$ 12.45 bilhões.

Em paralelo, o nível de empregos do PIM manteve a marcha. A média obtida no oitavo mês de 2023 foi de 111.396 pessoas, entre trabalhadores efetivos, temporários e terceirizados. O número ficou 0,25% menor do que o do mês anterior (111.673). Também perdeu para agosto de 2022 (112.409), por uma margem de 0,90%. Mas, a média mensal do acumulado de janeiro a agosto (111.513 vagas) se mantém 0,48% acima do ano passado (110.981) – o melhor desempenho desde 2014 (122.177).

Os maiores índices de crescimento de empregos vieram dos subsetores industriais de vestuário e calçados (+36,73%), mineral não metálico (+22,66%) e de “produtos diversos” (+22,50%). Na outra ponta, os polos de brinquedos (-66,53%), têxtil (-33,17%), e editorial e gráfico (-21,95%) lideraram os cortes. Levando em conta só a mão de obra efetiva, o saldo de vagas emendou um segundo mês de alta, após seis retrações seguidas. O predomínio das contratações (23.981) sobre os desligamentos (23.014) gerou 967 novos postos de trabalho – o número mais baixo desde 2018 (-1.310). 

Impacto da vazante

Em texto da assessoria de imprensa da Suframa, o titular da autarquia, Bosco Saraiva, avalia que os Indicadores refletem a percepção da queda de 0,77% no nível da atividade econômica brasileira, na passagem de julho para agosto, apurado no IBC-Br (Índice de Atividade Econômica do Banco Central). Outro entrave vem da dificuldade de suprimento de insumos e escoamento da produção, em consequência da vazante histórica do Amazonas.

“Temos a expectativa de números melhores nos próximos meses, em resultado da tendência de redução da taxa básica de juros por parte do Copom, iniciada no mês de agosto. Decisão que pode se refletir na recuperação da capacidade de consumo das famílias. Além disso, a estabilização dos níveis dos rios, obras de dragagem em pontos críticos e sinalização de reversão gradual dos severos efeitos da estiagem devem contribuir positivamente com a normalização da produção no PIM”, avaliou.

Durante coletiva de imprensa online, realizada em outubro, o presidente da Abraciclo, Marcos Bento, salientou que a produção de motocicletas vem seguindo o planejado pela indústria e mostra crescimento contínuo e consolidado para atender a demanda do mercado, que segue positiva. “O momento é bom e o segmento possui potencial para aumento em seus volumes de produção”, asseverou. 

O dirigente não deixou de mencionar também suas preocupações com os entraves gerados pela seca. “As associadas estão realizando um monitoramento contínuo da situação. E, principalmente em razão das limitações de navegabilidade, há registros de aumentos de preços de fretes. Alternativas logísticas estão sendo avaliadas”, ponderou.  

Em entrevista recente à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente executivo da Eletros, José Jorge do Nascimento Júnior, destacou que “o excesso de calor em várias regiões do país” tem impactado positivamente nas vendas de condicionadores de ar manufaturados na ZFM, que avançaram 14% até agosto. As TVs, por outro lado, progrediram 13%. Mas, o dirigente concorda que a vazante pode colocar tudo a perder.  

“A gente estava com expectativa de crescer 5% [levando em conta a soma de todos os produtos eletroeletrônicos], que ainda está longe do patamar pré-pandemia de 2019. Isso comparado a 2022, que foi um ano horrível e o pior da última década, para a indústria eletroeletrônica. Só que, agora, com a seca, está tudo parado e não dá mais para prever. Vamos precisar que tudo se normalize, para escoar a produção a tempo de não ter desabastecimento e poder estocar o varejo – que já está bem estocado também”, finalizou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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