Motor do crescimento do PIB brasileiro no terceiro trimestre, o setor de serviços voltou a mergulhar no Amazonas, em outubro, após dois meses seguidos de alta. Apesar de contar com dois dias úteis de vantagem, a atividade sofreu decréscimo de 2% diante de setembro, configurando a pior queda nos últimos seis meses. O resultado veio em sintonia com a média nacional, em um mês negativo para 12 das 27 unidades federativas. O confronto com o mesmo mês de 2022 indicou um tombo de 4,5%, aprofundando a perda do mês anterior (-0,3%). O Estado ainda conseguiu fechar os acumulados do ano (+2%) e dos últimos 12 meses (+2,6%) no azul, mas perdeu terreno.
O desaquecimento posicionou o Amazonas abaixo da média nacional em todas as comparações. Com o terceiro dado negativo na variação mensal (-0,6%), os serviços brasileiros também declinaram ante setembro de 2022 (-0,4%). As quedas foram puxadas pelos transportes e serviços prestados às famílias. Os aglutinados de 2023 (+3,1%) e dos 12 meses (+3,6%) também se mantiveram em progressão comparativamente melhor à registrada em âmbito local. Os dados são da PMS (Pesquisa Mensal de Serviços), do IBGE.
A piora detectada pelo IBGE fez a CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) corrigir para baixo sua projeção de crescimento para os serviços de todo o Brasil em 2023, de 3,6% para 2,9%. A expectativa da entidade é que o setor atinja um desempenho ainda mais modesto em 2024, e cresça apenas 2,7%. O mesmo se deu no caso do segmento de turismo, cujas apostas foram revertidas de 8,3% para 7,4% em 2023 –e para uma alta de somente 2%, no ano que vem.
A perda de dinamismo dos serviços também se revela na oferta de empregos, conforme os dados do Novo Caged. Embora seja majoritário, o setor caiu do primeiro para o terceiro lugar do ranking celetista amazonense de outubro, com aumento de 0,23% no estoque e criação de somente 529 de empregos –contra os 1.589 de setembro. Os números mais relevantes vieram do grupo que reúne transporte, armazenagem e correio (+321) e, em muito menor grau, das divisões de “outros serviços” (+88) e de alojamento e alimentação (+65). No acumulado do ano, os serviços amazonenses tiveram alta de 6,40% (+13.785).
Estados e atividades
O IPCA ainda ameno de outubro (+0,24%) não foi suficiente para tirar as vendas do vermelho, tanto que o descolamento da receita nominal se manteve em relação ao volume de serviços. A variação mensal do faturamento a preços correntes (-2,5%) foi ainda pior do que o resultado efetivo das vendas, e veio em sentido inverso ao ganho anterior (+3%). A comparação com outubro de 2022 apontou estagnação (+0,1%), reduzindo os acumulados do ano (+5,6%) e dos 12 meses (+6,3%). As respectivas variações da média nacional (-0,1%, +3,9%, +6,9% e +7,8%) também foram todas melhores.
Com o recuo de 2% perante setembro, o Amazonas desabou da oitava para a 18ª posição do ranking, em meio a 12 resultados negativos. A lista foi liderada pelo Acre (+6,6%) e Paraíba (+5,1%), sendo que os piores resultados ficaram em Mato Grosso (-7%) e Mato Grosso do Sul (-5,8%). Em relação ao mesmo mês de 2022, o Estado (-0,4%) despencou da 18ª para a penúltima colocação, com o Acre (+10,2%) e São Paulo (-6,1%) nos extremos. No acumulado do ano (+2%), já desceu do 22º para o antepenúltimo lugar, em um rol liderado por Mato Grosso (+16,9%) e encerrado pelo Amapá (-3,6%).
O IBGE-AM reforça que, em virtude do tamanho da amostragem, a pesquisa no Amazonas ainda não apresenta os dados desagregados por segmentos. O retrocesso mensal de 0,6% para os serviços de todo o país se restringiu a duas das cinco atividades. Só os transportes (-2%) e os serviços prestados às famílias (-2,1%) declinaram. Em contraste, os serviços profissionais, administrativos e complementares (+1%) cresceram, assim como os subsetores de informação e comunicação (+0,3%). Mas, os “outros serviços” (0%) estagnaram.
“Poucas possibilidades”
O supervisor de disseminação de informações do IBGE-AM, Adjalma Nogueira Jaques, enfatizou que os números de outubro são mais uma notícia ruim para os serviços do Amazonas. “O acumulado, que em janeiro era de 8%, agora é de apenas 2,0%, e está em queda há onze meses. Para não fechar 2023 em queda, será necessário que as vendas de novembro e dezembro sejam superiores às de 2022. Mas, a média móvel trimestral negativa em 0,2% demonstra que há poucas possibilidades de reversão do quadro”, alertou.
Em texto postado no site da Agência de Notícias IBGE, o analista da pesquisa, Luiz Almeida, assinalou que a retração nos serviços prestados às famílias foi impactada pela divisão de artes cênicas, espetáculos e eventos. Já os transportes marcaram seu terceiro mês de queda. “Essa queda foi muito influenciada pela queda no transporte rodoviário de cargas. Isso está ligado à expectativa menor da próxima safra e que o setor está passando por um ajuste. A produção industrial também vem demonstrando menor dinamismo, com uma queda nos bens de consumo e bens de capital, que impactam também”, explicou.
“Patamar pré-pandemia”
Em comunicado à imprensa, a CNC apontou que o comportamento dos preços relativos, que superam a inflação oficial em quatro dos últimos cinco meses, é um dos fatores que contribuíram para os resultados negativos dos serviços em âmbito nacional. Mas, o presidente da entidade, José Roberto Tadros, lembra que a atividade ainda se mantém 10,2% acima do patamar pré-pandemia de fevereiro de 2020. “O setor de serviços desempenha um papel crucial no panorama econômico brasileiro desde 2022”, amenizou.
A ex-vice-presidente do Corecon-AM, e professora universitária, Michele Lins Aracaty e Silva, concorda que a inflação, apesar de apresentar desaceleração nos últimos meses, ainda tem peso relevante sobre o orçamento limitado das famílias –assim como os juros. A economista destaca que o setor constitui relevante indicador da economia, em termos de crescimento ou decréscimo, e sinalizam a situação do mercado de trabalho, pois são suas empresas que empregam o maior quantitativo de capital humano.
“Mais uma vez, temos um setor que segue em instabilidade e bem distante da sustentabilidade que o mercado deseja. De forma mais surpreendente, o setor de turismo vem amargando números negativos desde a pandemia e sem estimativa de recuperação. Para os próximos meses, o cenário deve ser de pouca alteração. Somente o setor de turismo, hotelaria e hospedagem deve demorar um pouco mais para começar a apresentar sinais de recuperação. No caso do Amazonas, acredito que teremos uma situação mais favorável, com as festas de fim de ano e as férias de janeiro”, analisou.
Em entrevista recente à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente em exercício da Fecomércio-AM se mostrou mais otimista, ao destacar que o setor de serviços ainda é um dos mais dinâmicos do Amazonas. “A atividade é a mais robusta do Estado e a que emprega mais trabalhadores. A tendência é que, com o fim da vazante e a recuperação das condições logísticas, teremos uma efetiva retomada”, encerrou.