Festas de fim de ano

Em: 9 de janeiro de 2025

Dos inúmeros textos publicados por conta da noite natalina, escolhemos este intitulado “Os nove convidados do Natal” da autoria de Leandro Karnal publicado no livro “O Mundo Como Eu Vejo”, a saber. A maior festa do Ocidente é o Natal e as pessoas adoram o príodo mesmo não sendo religiosas. Há os que ficam deprimidos e apresentam até raiva diante da festa. São os que mais sofrem pois sua ira é de uma falta, uma resistência que move o mundo inerior. Cheguei a encontrar uma pessoa que, toda noite no dia 24 de dezembro, ia até o túmulo da mãe e ficava sobre ele. Disse-lhe: das pessoas que conheço, você é a que mais valoriza o Natal. Nunca conheci alguém indiferente. A data de hoje é como o anúncio dos Borge em Star Trek: resistir é inútil …
O Natal envolve nove personagens. Cada uma tem um significado nos presépios de nossos lares. A primeira é o aniversariante, causa da festa. É um menino e, como toda criança, tem o dever de zerar o mau humor e restaurar a esperança. Sim, você adulto comom eu, tem o direito ao azedume e ao descrédito. Nossa biografia nossos erros possibilitam a consciência de que não valemos a pena mesmo. Crianças surgem como tábula rasa, um novo caderno aguardando a escrita. O menino da Manjedoura, como toda criança, proclama que o mundo recomeça com ele
A segunda personagem é Maria, mãe e muher. Jovem adolescente ainda , vive o incômodo de uma gestação, pouco dinheiro, acomodação improvisada e ter de cumprir uma ordem governamental sobre um resseamento. Para teólogos, crendo ela gerou quem a criou. Para outros, é o mais próximo que teremos do amor incondicional: a mãe que aposta em carregar um ser por nove e meses e fazer o milagre do nascimento. A esperança é o menimo e o amor extraordinário é a mulher-mãe. Todos fomos bebês; algumas foram mães, qualquer um pode volltar a ter esperança.
A terceira personagem é José, o carpinteiro. Sente-se protetor de um mistério que transcende e o excede. Aceita a gravidez sem causa como aceitará o exílio com a pequena e sagrada família. Traz o trabaho, a proteção, a misão de apoio e a vocação de entgega. É homem capaz de ouvir a intuição de sonhos. Aceita ser testemunha e controlar a vaidade. Como cantava Georges Moustaki, foi você, José, quem escolheu Maria e seu filho de tão estranhas ideias.
A quarta personagem é, na realidade, um grupo de gente simples: pastores. Interrompem o trabalho e fazem uma pausa teológica. São os primeiros a saber do primeiro Natal. São pobres testemunhas. Receberam uma mensagem da quinta personagem: o grupo de anjos que proclama glória a Deus nas alturas e paz na Terra para os homens de boa vontade. A Biblia desconfia um pouco dos agricultores e exalta pastores, desde Caim e Abel. No topo dos seres criados e na base da pirâmide social há alegria pelo ocorrido. Do mais alto ao mais baixo, o mistério do Deus-menino exalta a noitr fria e significativa. A manjedoura celebra a vida e integra seres humanos e mensageiros divinos.
A sexta personagem simboliza a humanidade. São sábios, magos, posteriormente tornados três reis. Na tradição medieval, um é branco, outro negro e o terceiro parece mais oriental. Grão Vasco, no começo do século XVI, pôs um índio no lugar deste ùltimo. Traduzem a boa-nova para todos, a novidade de um Salvador. Carregam três presentes simbólicos para o menino e para nós: ouro porque ele e nós podemos ser reis; mirra porque todos morreremos e este é o produto para acompanhar o defunto. Por fim, trazem insenso porque o menino é Deus. Baltazar, Melquior e Gaspar são nossos procuradores. A epifania humana é divina.
A sétima personagem é outro grupo. Nada falam, apenas aquecem o infante. S;ão vacas e burros próximos ao berço improvisado. Também há ovelhas trazidas pelo grupo da quarta personagem. Depois despontam camelos, dromedários, associados à viagem dos sábios reis. São convidados úteis e silenciosos. Integram a natureza e os animais à noite que Jesus escolheu, Foram criados antes dos homens e existem há mais tempo. Toda a vida celebra a vida.
A oitava personagem é má. Representa o poder ressentido, o medo corrupto e invejoso. Trata-se de Herodes, que não se aproxima da cena, mas ronda o presépio. O puro amor de Jesus, Maria e José, a simplicidade dos pastores, a humildade angelical, a busca de sabedoria dos magos e a ação generosa dos animais devem encontrar o plano político e a violência. Como hoje, o Estado corrupto mata crianças e só se preocupa consigo. Os primeiros a morrerem por Jesus serão os santos inocentes assassinados pelo medo do tirano.
A nona personagem é das mais interessasntes. Quando você olha um quadro como a Adoração dos Magos, de Leonardo da Vince ou quando visita o extraordinário presépio napolitano do Museu de Arte Sacra de São Paulo, ela está lá, a personagem não retratada: nós. Somos a testemunha invisível da cena descrita em Lucas. Somos a plateia-alvo da cena e da missão do menino. Somos a nona personagem que pode aprender com José, com Maria ou até com Herodes. Podemos ter a humildade do menino sobre a palha ou a maldade dos soldados executando inocentes. Somos parte do drama e temos escolha sempre.
Hoje terei o primeiro Natal sem minha mãe. Foi ela que me ensinou o amor à festa. Passo adiante o que recebi com tanta generosidade. Boas Festas para todos os filhos e para todas as mães e que, ao menos nesta noite feliz, haja paz na Terra. Como eu disse no ano passado, ningúem é obrigado a ser feliz hoje. Igualmente, ninguém é obrigado a ficar deprimido. Que as crianças nos eduquem e nos permitam ter esperança. Feliz Natal!

É advogado (OAB/AM 436). Cursou Direito, Comunicação Social (Jornalismo), Contabilidade, Oratória, Lecionou História, Articulista. Contato @jackmonthadvogados.com.br.

Bosco Jackmonth

* É advogado de empresas (OAB/AM 436). Contato: [email protected]
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